Brasil não está neutro e condena Guerra da Ucrânia, diz Mourão

Em NY, vice-presidente afirma que candidato eleito em outubro no Brasil 'tomará posse em janeiro sem problemas'

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Isabela Rocha
Nova York

O vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) disse nesta quinta-feira (21) que o Brasil não tem uma posição de neutralidade na Guerra da Ucrânia e condena o conflito. O tema voltou à tona nesta semana depois de o presidente Volodimir Zelenski fazer uma crítica direta à postura de Jair Bolsonaro (PL), que por mais de uma vez disse que se mantém neutro.

Os dois líderes se falaram pelo telefone pela primeira vez na segunda (18), e a cobrança de Zelenski foi feita no dia seguinte, à TV Globo. "Não apoio a posição dele. Não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo", disse o ucraniano. Na quarta (20), Bolsonaro apenas afirmou "estar do lado da paz".

Mourão comentou o assunto em entrevista à agência de notícias da ONU em Nova York, para onde viajou para participar de encontros do Conselho de Segurança, que tem neste mês a presidência ocupada pela delegação brasileira —uma das que assumiram um assento rotativo no órgão.

O vice-presidente Hamilton Mourão em visita ao plenário da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York - Divulgação Vice-Presidência

"Na realidade, o Brasil não está neutro [na guerra]. O Brasil condena o conflito. Agora, temos interesses tanto com a Ucrânia como com a Rússia. É uma questão de pragmatismo, de flexibilidade", disse. "O Brasil não concorda com o conflito, mas é uma questão que tem que ser resolvida pela via diplomática."

A posição que Bolsonaro manifestou mais de uma vez está ligada principalmente à alta dependência de fertilizantes de Moscou. Apesar dessas falas, em fóruns internacionais como a ONU o Brasil se posicionou de forma crítica a Moscou. O presidente se encontrou com Vladimir Putin dias antes de a Rússia iniciar a invasão ao vizinho e teve ao menos um telefonema com ele.

Apesar de discordar das falas sobre neutralidade, Mourão ecoou outra posição defendida pelo presidente e pelo Itamaraty, dizendo que as sanções aplicadas pelo Ocidente "não estão surtindo o efeito necessário". Segundo ele, a guerra "está causando tanto dano à Ucrânia e também à Rússia".

Na entrevista, ele ainda falou sobre o cenário eleitoral do Brasil, usando a expressão "disse me disse" para tratar do aumento de tensões na pré-campanha. "É óbvio que é um momento de polarização entre o presidente Bolsonaro e o candidato da oposição, que é o [ex-]presidente Lula", disse. "Há pressões de parte a parte, mas a minha visão muito clara é que chegaremos a outubro, mês das eleições, sem maiores confusões, e aquele que a população eleger irá tomar posse no dia 1º de janeiro, sem maiores problemas."

Em meio a um quadro de aumento nos casos de violência contra lideranças políticas, Bolsonaro tem feito ataques ao sistema eleitoral, que incluem mentiras sobre as urnas, críticas ao Judiciário e ameaças golpistas.

Antes de dar entrevista à agência da ONU, Mourão participou de encontros do Conselho de Segurança e fez uma declaração em nome do órgão sobre a decisão, tomada neste mês, de prolongar a permanência de tropas no Haiti até julho de 2023. O país caribenho há um ano viu novas camadas se acumularem a uma crise estrutural, com o assassinato do presidente Jovenel Moïse e um grande terremoto.

O vice-presidente centrou a fala na situação das mulheres —as Nações Unidas adicionaram o combate à violência sexual e de gênero como parte da missão no país. Segundo Mourão, a deterioração dos direitos humanos levou a um aumento desse tipo de violência, muitas vezes contra mulheres e meninas.

"A comunidade internacional tem que entender que deve haver um apoio maior àquele país. Não é uma quantidade tão grande assim de recursos financeiros que seriam necessários para que o povo haitiano consiga ter dignidade", disse à ONU News.

Mais cedo, o vice-presidente havia se encontrado com o subsecretário-geral para Operações de Paz, Jean-Pierre Lacroix. Hoje, o Brasil participa de sete das 12 operações de paz da ONU, com 76 oficiais. O país chefiou, entre 2004 e 2017, a missão no Haiti, com o envolvimento de mais de 30 mil militares. "Acredito que até o final do ano [após as eleições], talvez no ano que vem, a gente consiga abrir espaço no Orçamento para que a gente desdobre, efetivamente, tropas em apoio às operações de paz", afirmou.

A agenda de Mourão em Nova York também incluiu encontros com investidores, em reuniões fechadas na quarta-feira (20) no Bank of America e na Câmara de Comércio Brasil-EUA. Ele não parou para falar com jornalistas em nenhum momento e à Folha disse apenas que passou "só mensagens positivas".

Mourão não deve integrar a chapa de Bolsonaro nas eleições de outubro. Ele é pré-candidato ao Senado no Rio Grande do Sul.

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