Descrição de chapéu Rússia

Cientista russo que teria vazado segredos de Estado para China morre 2 dias após ser preso

Dmitri Kolker, 54, foi detido em hospital, enquanto tratava câncer de pâncreas

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Londres | Reuters

O cientista russo acusado de compartilhar segredos de Estado com a China morreu no sábado (2), dois dias após ser preso. Dmitri Kolker, 54, foi detido e transferido para Moscou quando estava na cama de um hospital em uma cidade a 3.360 km da capital russa, tratando de um avançado câncer no pâncreas.

A morte foi confirmada pelos familiares de Kolker. "O FSB [serviço secreto russo] matou meu pai", escreveu Maxim, filho do cientista, no VKontakte, rede social russa semelhante ao Facebook. A postagem incluiu um telegrama que informava a morte do cientista, em um hospital em Moscou, às 2h40.

Dmitri Kolker antes de entrar no hospital para se tratar de câncer de pâncreas
Dmitri Kolker antes de entrar no hospital para se tratar de câncer de pâncreas - Maxim Kolker

"O quarto estágio do câncer de pâncreas é uma sentença. Mas [ele ia] cumprir essa sentença dentro dos muros de um centro de internação pré-julgamento, sem os devidos cuidados médicos. É a pior coisa que pode acontecer a uma pessoa", escreveu a filha do cientista, Alina Mironova, segundo a imprensa local.

Doutor em física e matemática pela Universidade de Novosibirsk, cidade onde foi abordado pelos policiais, Kolker era acusado de colaborar com os serviços de segurança da China. Moscou e Pequim intensificaram suas ligações na esteira da Guerra da Ucrânia e, em fevereiro –pouco antes do início do conflito–, Vladimir Putin e o líder chinês, Xi Jinping, chamaram a aliança entre os países de "amizade sem limites".

A prisão de Kolker, segundo seus familiares, estava relacionada a palestras para estudantes em uma conferência no país asiático. De acordo com Maxim, as exposições foram certificadas pelo serviço secreto russo. "Oficiais do FSB o proibiram de dar palestras em inglês", disse ele a um site de notícias locais.

O cientista era chefe do laboratório de tecnologias ópticas quânticas e autor de 112 artigos científicos e três patentes —ele também trabalhava em parceria com institutos da Alemanha e da França. Não há detalhes de quais informações teriam sido compartilhadas com os chineses.

Seu primo Anton Dianov chamou a acusação de absurda. "Ele era um cientista, amava seu país e estava trabalhando na Rússia, apesar de muitos convites das principais universidades e laboratórios para trabalhar no exterior", afirmou ele à agência de notícias Reuters. Um dia depois da detenção, o tribunal de Justiça de Novosibirsk ordenou que o cientista ficasse preso até o final de agosto, enquanto aguardava o julgamento. Caso tivesse sido condenado, poderia ter pêgo até 20 anos de prisão.

O advogado de Kolker, Alexander Fedulov, disse que tentou entrar em contato com as autoridades russas em nome do cliente, mas foi afastado do departamento de investigação do FSB. Ele afirmou também que apresentará uma queixa legal na segunda-feira (3) sobre as circunstâncias da detenção do físico.

A prisão de Kolker foi a segunda de cientistas de Novosibirsk em uma semana. Na terça (28), oficiais russos prenderam Anatoli Maslov, chefe de um instituto de mecânica. Ele é acusado de vazar dados de tecnologia hipersônica. Nesse caso, porém, não há detalhes de quem teria recebido as informações. É incerto, também, se o vazamento estaria ligado a equipamentos militares.

Diversos cientistas russos foram presos e acusados ​de traição nos últimos anos por supostamente repassarem material sensível a estrangeiros. Críticos do Kremlin, contudo, dizem que as prisões muitas vezes resultam de denúncias sem provas.

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