Descrição de chapéu China

Como navio dos EUA irrita chineses, acende alerta e preocupa empresas

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Igor Patrick
Rio de Janeiro

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Azedou ainda mais o clima entre Estados Unidos e China depois que um contratorpedeiro (navio de guerra) americano foi visto circulando em três ocasiões pelo estreito de Taiwan nesta semana.

O USS Benfold tem feito várias manobras na região e já havia irritado Pequim ao navegar por águas disputadas próximas às ilhas Paracel, no mar do Sul da China.

  • Os EUA dizem que estão "reafirmando o direito de navegar em águas sob a jurisdição internacional" e que "restrições à passagem impostas pelos chineses são ilegais";

  • O exército chinês declarou que escoltou o contratorpedeiro americano durante a passagem pelo estreito e anunciou ter colocado o teatro de guerra "em alerta máximo" após o evento.

A imagem mostra o convés cinza de um navio de guerra dos EUA. Existem marcações brancas no veículo e também é possível observar um canhão longo e a ponte da embarcação atrás dele. O navio esta em alto mar e o céu mistura tons de azul e rosa com nuvens no horizonte.
Navio de guerra americano, USS Benfold, no mar do Sul da China - Marinha dos EUA via Reuters

Coincidência ou não, a manobra acontece na semana em que se completam seis anos do julgamento do tribunal de arbitragem em Haia que decidiu serem improcedentes as alegações chinesas de "direito histórico" sobre as águas disputadas. Pequim se recusou a aceitar a sentença e disse que a corte não tinha legitimidade para julgar o caso.

Os chineses reagiram às manobras desta semana acusando os EUA de invasão territorial e classificando o comunicado americano como "provocação".

Ao participar do Fórum de Segurança de Aspen, no estado do Colorado, o embaixador chinês Qin Gang observou que os "laços políticos e militares entre Washington e Taiwan estão cada vez mais estreitos" e responsabilizou os Estados Unidos por "esvaziar e obscurecer a política de ‘Uma China’".

Não ajudou o fato de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados e membro importante do Partido Democrata, confirmar uma viagem para Taipei em agosto, no que seria a primeira visita do tipo em mais de 25 anos. Os chineses interpretam o anúncio como sinalização de apoio político a um território que consideram uma província rebelde e ameaçam tomar "medidas contundentes para defender firmemente sua soberania''.

Nancy Pelosi é uma mulher branca, de 82 anos, com cabelos loiros e curtos. Ela esta de pé e veste um vestido preto. Pelosi apoia os dois braços em uma bancada de madeira com microfones, sua boca esta cerrada e levemente inclinada. Atrás delas é possível observar duas bandeiras dos EUA.
A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, durante entrevista coletiva no Capitólio, a sede do Legislativo americano, em Washington - Elizabeth Franz/REUTERS

Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, reagiu às notícias. Creditado como uma das principais figuras para a retomada de laços diplomáticos entre os dois países, ele disse que "reconhece a necessidade em impedir que a China alcance hegemonia".

"Isso não é algo que pode ser alcançado por confrontos sem fim", ponderou. Também alertou que o caminho atual pode levar a uma ​​"catástrofe comparável à Primeira Guerra Mundial."

Por que importa: como já escrevi aqui, a China só tomaria medidas militares contra Taiwan em dois casos: (1) uma declaração unilateral de independência; (2) se a liderança nacional chinesa (atualmente Xi Jinping) se sentir enfraquecida domesticamente.

Embora nenhum desses cenários pareça óbvio no momento, as decisões americanas em um ano em que Xi tenta um terceiro mandato pode impelir Pequim a mostrar força.

  • Com a invasão na Ucrânia pelos russos, o clima na região pesou de vez e vários analistas americanos agora acusam a China de se preparar para estratégia semelhante com Taiwan.

  • O presidente da Câmara de Comércio da União Europeia na China, Joerg Wuttke, disse ao jornal Financial Times que várias multinacionais estão encomendando estudos que avaliam o impacto de uma operação militar contra a ilha.

O que também importa

A China estaria tentando impedir que um relatório sobre abusos aos direitos humanos na província de Xinjiang seja publicado. A informação foi divulgada pela Reuters. O documento foi produzido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e resume as observações da chefe do departamento, Michelle Bachelet, após visitar a região em maio.

A delegação da China pede que o relatório não seja divulgado, alegando "grave preocupação" com o conteúdo. Os chineses procuram diplomatas aliados em Genebra e coletam assinaturas em prol do pedido, segundo a Reuters.

A agência relata que a China alega que o documento poderia "minar a credibilidade e prejudicar a capacidade de cooperação do ACNUDH com demais Estados-membros".

Você leu aqui no mês passado que o tema é origem de discussões sobre direitos humanos em Genebra. Embora países ocidentais insistam na responsabilização chinesa pelo que chamam de "genocídio cultural", várias delegações se manifestaram pedindo que forças estrangeiras se abstenham de interferir na política doméstica chinesa.

Pequim não vai mais recorrer a subsídios de larga escala para tentar salvar a meta de crescimento estimada para 2022. O anúncio foi feito pelo premiê chinês Li Keqiang a executivos de várias empresas no Fórum Econômico Mundial.

  • "Não vamos recorrer a estímulos gigantescos ou impressão excessiva de dinheiro para atingir quaisquer metas de alto crescimento", afirmou.

  • Sobre os temores relativos ao impacto da política de Covid zero na economia, o premiê disse que o país vai "tentar o seu melhor para alcançar bons resultados este ano."

A fala foi vista como um sinal de que as políticas macroeconômicas chinesas neste segundo semestre serão mais direcionadas a conter a ansiedade e os temores de investidores do que necessariamente ativar o mercado interno artificialmente.

Ele ressaltou que o governo espera ajustar as medidas de controle ao coronavírus, "melhorando o acesso a vistos e aumentando o número de voos internacionais."

Li também prometeu que universitários estrangeiros poderão retornar à China para concluir seus estudos. Foi a primeira declaração contundente sobre o tema desde que milhares de alunos ficaram presos fora do país após o fechamento de fronteiras em março de 2020.

Fique de olho

A China apresentou na ONU um conjunto de propostas para enfrentar a crise mundial de alimentos, nesta segunda (18). Desenvolvido pelo chamado Grupo de Amigos da Iniciativa de Desenvolvimento Global (GDI), o texto pede que as cadeias de abastecimento da agricultura permaneçam funcionando e cobra os Estados-membros da ONU para garantir que o comércio de alimentos, combustíveis, fertilizantes e demais insumos agrícolas não seja afetado por sanções ou "regime discriminatório".

Por que importa: O documento foi interpretado por alguns países como um aceno à Rússia, que têm tido dificuldade em escoar a produção de fertilizantes e trigo. Os americanos reagiram de forma firme.

  • A chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Samantha Power, criticou a China por contribuir "com apenas US$ 3 milhões" para o programa de alimentos da ONU em 2022 (os EUA doaram US$2,7 bi até o momento).

  • O porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijan, respondeu dizendo que, "como país em desenvolvimento, a China não tem nenhuma obrigação" de doar ao programa das Nações Unidas.

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