Deputados dos EUA pedem apuração sobre questionamentos de militares às eleições no Brasil

Incluído em Orçamento de Defesa, pedido pode levar ao fim de parcerias entre os dois países

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

Uma emenda apresentada ao NDAA, o Orçamento anual de Defesa dos Estados Unidos, pede que o governo americano investigue se as Forças Armadas do Brasil estão interferindo nas eleições.

"Em até 30 dias após a promulgação desta lei, o Secretário de Estado deve submeter um relatório ao Congresso sobre todas as ações tomadas pelas Forças Armadas do Brasil em relação às eleições presidenciais do país, marcadas para outubro de 2022", prevê a emenda 893, incluída na proposta de lei orçamentária para o ano fiscal de 2023, finalizada nesta semana.

O Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, em Washington
O Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, em Washington - Daniel Slim - 11.mai.21/AFP

O documento cita pontos a serem investigados: interferência na contagem de votos, manipulação para tentar reverter o resultado e participação em campanhas de desinformação para questionar o sistema eleitoral e os resultados por meio de protestos, redes sociais ou outros meios de comunicação.

Caso alguns desses pontos sejam constatados, o Brasil poderia ser enquadrado na Seção 7.008, que prevê o fim da assistência de segurança dos EUA a países em que haja golpe de Estado ou ataques de militares à democracia, o que poderia colocar em risco a condição do Brasil de aliado extra-Otan, obtida em 2019.

A posição faz do Brasil um parceiro preferencial, com acesso facilitado à compra de equipamento militar, alguns a preço de custo, além de cooperação para treinamento e pesquisas de novas tecnologias.

A emenda 893 foi proposta pelo deputado democrata Tom Malinowski, de Nova Jersey, junto com os também democratas Albio Sires (Nova Jersey), Joaquín Castro (Texas), Susan Wild (Pensilvânia), Ilhan Omar (Minnesota) e Hank Johnson (Geórgia). A proposta, assim como o Orçamento de Defesa, precisa ser aprovada pelo Congresso, num processo a ser concluído até outubro, quando começa o ano fiscal.

Militares brasileiros passaram a questionar o sistema eleitoral em 2021. Em agosto, Luís Roberto Barroso, então presidente do TSE, convidou as Forças Armadas a participarem da Comissão de Transparência das Eleições, que também reúne representantes do Congresso, da Polícia Federal e de outras entidades.

Nesta comissão, os militares fizeram 88 questionamentos ao sistema de votação, além de sugestões de mudanças nas regras do pleito. Quase todas as propostas foram rejeitadas pelo TSE. Em alguns casos, técnicos do tribunal apontaram erros de cálculos e confusões de conceitos na análise dos militares.

Em nota, o Ministério da Defesa disse não haver interferência dos militares nas eleições brasileiras. "O ministério reitera que as Forças Armadas participam, a convite do TSE, da Comissão de Transparência das Eleições (CTE). Nesse trabalho, as Forças Armadas apresentaram propostas técnicas para atender ao propósito do TSE de aperfeiçoar a segurança e a transparência do processo eleitoral. A participação dos militares na CTE se dá de maneira colaborativa e segue as resoluções do TSE", afirma o comunicado.

Os questionamentos feitos pelos militares são usados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para reforçar dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro, algo que ele fez diversas vezes ao longo do mandato. Bolsonaro disputa a reeleição, e esses questionamentos podem ser usados como razão para não aceitar uma derrota nas urnas, repetindo uma tática usada pelo ex-presidente Donald Trump nos EUA, em 2020.

O republicano se recusou a reconhecer o resultado, pressionou autoridades a mudar números e incitou uma turba a defendê-lo. Seus apoiadores invadiram o Congresso em janeiro de 2021 para tentar impedir a confirmação da vitória do presidente Joe Biden. A ação é investigada pelo FBI e por uma comissão do Congresso.

"A atenção dos democratas, inclusive daqueles mais conservadores, vem de uma preocupação real que o que passou nos Estados Unidos se repita no Brasil com uma tentativa de golpe. Eles entendem que o risco existe e não querem que os EUA estejam por trás disso", avalia Juliana Moraes, conselheira de relações institucionais do Washington Brazil Office, entidade que pesquisa a relação entre os dois países.

As relações entre Brasil e Estados Unidos tiveram dois movimentos importantes em junho. No começo do mês, os presidentes Biden e Bolsonaro se encontraram pela primeira vez, em Los Angeles. Após a reunião, o governo americano reafirmou ter confiança no sistema eleitoral brasileiro.

Também em junho, a indicação de Elizabeth Bagley para ser embaixadora dos EUA no Brasil não obteve aprovação na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Com isso, Biden terá de fazer mais negociações para obter a confirmação dela ou indicar um novo nome para o posto.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.