Eleição no Japão tem vitória do partido de Shinzo Abe após assassinato de ex-premiê

Nova composição do Senado deve dar a atual líder Kishida carta branca para avançar reformas de Constituição pacifista

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Tóquio | Reuters

Dois dias depois do assassinato do ex-premiê Shinzo Abe, uma das principais figuras políticas do Japão e aquele que por mais tempo permaneceu no cargo, seu partido teve uma vitória marcante neste domingo (10), no pleito que apontou 125 representantes da Câmara Alta do Parlamento.

No total, a Casa tem 248 membros, e eleições são realizadas para metade dos assentos a cada três anos. Os resultados iniciais mostram que o Partido Liberal Democrático (LDP), de Abe e do atual premiê, Fumio Kishida, vai alargar sua maioria nas vagas disputadas.

Esse apoio pode ajudar nos esforços do político para aumentar gastos militares e revisar a Constituição pacifista, promessas que o político assassinado nunca conseguiu alcançar.

Funcionária eleitoral carrega urna durante a eleição da Câmara Alta do Japão em um centro de contagem em Tóquio - Issei Kato - 10.jul.22/Reuters

A legenda detinha 55 assentos nesse contingente e já conquistou 63. Somados os assentos que devem ir para o partido aliado Komeito, o número chega a 76 vagas, o que supera as 69 que eles controlavam antes. Segundo a agência de notícias Kyodo, o comparecimento às urnas deve ser de 51,58%, ante 48,8% de três anos atrás. O voto é facultativo.​

"Nesse momento, quando enfrentamos problemas como o coronavírus, a Guerra da Ucrânia e a inflação, a solidariedade ao governo e aos partidos de coalizão é vital", afirmou Kishida.

O pleito é visto como uma espécie de referendo de aprovação do governo —teste no qual o atual premiê parece ter se saído bem—, e a comoção pelo assassinato de Abe parece ter ajudado, em certa medida.

Os números já disponíveis mostram que os partidos abertos a apoiar a revisão da Carta devem juntar ao menos 82 assentos, o que, somado aos representantes que estão no meio do mandato, ampliaria a maioria de dois terços que eles detêm na Câmara Alta, com mais de 70% das cadeiras —na Câmara Baixa, a proporção é semelhante.

A cifra alcança o nível de apoio necessário para aprovar que propostas de emenda à Constituição sejam submetidas a referendo nacional. A população, segundo pesquisas, é majoritariamente a favor de estruturar uma força militar mais robusta. "Kishida agora tem luz verde", disse à Reuters Robert Ward, analista do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

A derrota na Segunda Guerra Mundial e a devastação das bombas atômicas relegaram ao Japão uma legislação pacifista —pressionada por mudanças na última década, em grande parte devido à ascensão da China, que levou políticos como Abe a pleitearem um rearmamento ofensivo.

Kishida, o atual premiê, fez sinalizações no mesmo sentido e chegou a se comprometer com o aumento do orçamento da Defesa, incluindo recursos para sistemas antimísseis, durante reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, em maio. Ao lado de Austrália e Índia, os dois países compõem o Quad, grupo que foi ressuscitado em 2017 para mitigar a influência de Pequim no Indo-Pacífico.

Analistas também sugerem que, a longo prazo, a vitória pode abrir uma janela de oportunidade para que Kishida faça mudanças na política monetária, hoje assentada em partes na estratégia "Abenomics", criada por Abe, que mescla a oferta de dinheiro barato e grandes gastos do governo em projetos de estímulo.

"Provavelmente não haverá uma reversão rápida da Abenomics", disse Koya Miyamae, economista da SMBC Nikko Securities, à Reuters. "A longo prazo, no entanto, o Banco do Japão deve considerar alguma forma de ajuste, devido a problemas como o iene [a moeda do país] fraco."

Kishida pertence a uma ala menor do LDP e permaneceu sob pressão de Shinzo Abe e seus apoiadores, da ala mais forte, para manter o forte estímulo econômico. Agora, a ausência do ex-primeiro-ministro na arena política poderia alterar o equilíbrio de poder no partido.

Ainda segundo os resultados parciais do pleito, esta será a eleição em que mais mulheres se elegeram para a Câmara Alta. Ao menos 32 delas conquistaram assentos, num pleito em que candidatas foram 33% dos postulantes.

Os centros de votação, a exemplo dos últimos atos de campanha, foram marcados por um policiamento incomum, motivado pelo assassinato de Abe na cidade de Nara. O ex-premiê fazia um comício em prol do candidato do LDP Kei Sato —que, segundo as projeções, deve conseguir uma vaga na Câmara Alta.

A polícia de Nara informou neste domingo que apreendeu uma moto e um outro veículo pertencentes ao suspeito do assassinato, Tetsuya Yamagami, 41. No veículo teriam sido encontradas bandejas com papel alumínio, nas quais ele disse ter secado pólvora, e tábuas de madeira com perfurações, usadas para testar a arma caseira.

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