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Incêndios na Europa: o que são as queimadas 'de sexta geração' que devastam sul do continente

As mudanças climáticas, com seus fenômenos extremos, somada ao abandono do manejo florestal e mudanças no uso da terra, podem produzir queimadas de grande magnitude contra os quais os bombeiros dificilmente podem fazer algo

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As mudanças climáticas, com fenômenos extremos como secas e chuvas torrenciais, somadas ao abandono do manejo florestal e mudanças no uso da terra, podem produzir queimadas de grande magnitude contra os quais os bombeiros dificilmente podem fazer algo.

Bombeiro tenta apagar incêndio em Louchats, no sudeste da França - Thibaud Moritz - 17.jul.22/AFP

São conhecidos como incêndios de "sexta geração" e geralmente são devastadores. Foram observados na Austrália, nos Estados Unidos e, agora, no sul da Europa, onde uma intensa onda de calor alimenta verdadeiros monstros de fogo.

Fenômenos do tipo, como o que matou mais de 60 pessoas em Portugal em 2017, estão se tornando mais frequentes.

Bombeiros trabalham em incêndio no sul da França - Sarah Meyssonnier - 17.jul.22/Reuters

Perigo

São incêndios muito perigosos, que parecem ganhar vida própria e têm uma capacidade de resistir aos trabalhos dos bombeiros.

A intensidade do fogo impede que as equipes consigam se aproximar, restando apenas torcer para que comece a chover.

O conceito de "geração" aplicado aos incêndios tem a ver com a forma como o fogo se comporta no terreno em que ocorre.

No caso da "sexta geração", a energia que eles liberam é tanta que possuem a capacidade de alterar o clima ao seu redor e até gerar novos focos.

"É sabido que as condições climáticas podem aumentar o risco de incêndios e torná-los mais difíceis de extinguir. Mas a relação entre fogo e clima vai além. Os incêndios podem criar seu próprio clima, gerando nuvens pirocumulonimbus e tempestades", explica em seu site o serviço meteorológico do governo da Austrália, um país que enfrentou alguns desses incêndios devastadores.

O que são nuvens pirocumulonimbus?

São, literalmente, tempestades elétricas que se formam em cima da coluna de fumaça de um incêndio, mas também podem ser criadas nas nuvens de cinzas de vulcões ou nos cogumelos de uma detonação nuclear.

Como elas são formadas?

O intenso calor do fogo faz com que o ar suba rapidamente com uma coluna de fumaça. Este ar quente é muito turbulento e esfria à medida que sobe. Quanto mais alto, menor a pressão atmosférica, o que faz com que essa coluna se espalhe e continue a se esfriar.

Se a temperatura cai o suficiente, a umidade na coluna se condensa e forma um cumulus, uma nuvem. Mas como foi formada pelo fogo, essa nuvem recebe o nome de "pirocúmulo". O processo de condensação faz com que esse calor latente seja liberado, então, a nuvem se aquece e sobe ainda mais.

Essa nuvem pode atingir a estratosfera inferior sem perder a flutuabilidade. A colisão de partículas de gelo nas partes superiores dessas nuvens pode criar cargas elétricas que liberam enormes faíscas e raios. Esses tipos de nuvens que conseguem causar tempestades são chamadas de pirocumulonimbus.

Essas nuvens podem produzir chuvas torrenciais muito destrutivas. Os raios, além disso, são capazes de causar novos focos de fogo. São por isso conhecidas como "tempestades de fogo".

Por que são produzidos?

Os incêndios de "sexta geração" são uma das consequências mais nítidas da emergência climática. Assim como ocorre com o forno, as alterações climáticas "pré-aqueceram" o ambiente e criaram as condições adequadas para esse tipo de incêndio existir.

O aumento das temperaturas fez com que algumas espécies de plantas surgissem em áreas para as quais não estão adaptadas. Além disso, cada vez mais, as chuvas são curtas e intensas e provocam inundações, perda de solo e problemas de absorção de água.

Incêndios de 'sexta geração' tornam quase impossível o trabalho dos bombeiros por causa de sua intensidade - EPA/EFE via BBC

Quais são as cinco gerações anteriores?

Os incêndios têm evoluído desde que, em meados do século 20, ocorreu um êxodo rural em muitas partes do mundo, e áreas agrícolas foram abandonadas.

Primeira geração: incêndios se propagam em áreas agrícolas que não estavam mais sendo utilizadas.

Segunda geração: a vegetação começa a recolonizar antigas fazendas abandonadas, mas essa nova massa florestal é abandonada. Com estes incêndios, observa-se que existe uma massa crescente de vegetação contínua através da qual o fogo pode propagar-se rapidamente. Surgem então as primeiras medidas contra incêndios: construir aceiros, um trecho de terreno limpo para impedir a propagação do fogo.

Terceira geração: surge uma dicotomia da paisagem. A população está concentrada nas áreas metropolitanas enquanto o campo se esvazia. Isso faz com que os incêndios ganhem intensidade e consumam toda a massa florestal em que se iniciam.

Quarta geração: nos anos 1990, houve um boom de pessoas adquirindo segundas residências em áreas rurais em países como a Espanha. São urbanizações no meio da floresta ou do campo onde vivem pessoas que não fazem uso agrícola do campo. São fogos muito vorazes e perigosos.

Quinta geração: ocorrem quando há vários incêndios ao mesmo tempo, causando o colapso dos serviços.

E daí chega-se à sexta geração, em que as alterações climáticas criaram as condições certas para desencadear incêndios impossíveis de combater. Apenas dá para adotar uma estratégia defensiva, ou seja, estabelecer prioridades e decidir o que se pretende salvar.

A única maneira de combatê-lo, dizem os especialistas, é a prevenção.

Texto originalmente publicado aqui.

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