Descrição de chapéu Folhajus aborto

Juiz da Suprema Corte dos EUA ironiza críticas de líderes mundiais sobre decisão contra aborto

Samuel Alito reclama de comentários de Macron e Trudeau e diz que Boris Johnson 'pagou o preço'

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Washington | Reuters

O juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos Samuel Alito usou de ironia para rebater as críticas de líderes internacionais sobre a decisão do tribunal que mudou o entendimento do caso Roe vs. Wade, revertendo a garantia federal do direito ao aborto no país.

Representante da ala conservadora da corte, hoje em maioria de 6 a 3, Alito foi o autor de um rascunho da decisão, vazado em maio. A mudança de jurisprudência se deu em junho e foi seguida da implantação de uma série de restrições ao procedimento em diferentes estados.

O juiz da Suprema Corte dos EUA Samuel Alito participa de cerimônia de posse no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, DC
O juiz da Suprema Corte dos EUA Samuel Alito participa de cerimônia de posse no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, DC - Nicholas Kamm - 23.jul.19/AFP

Em seus primeiros comentários públicos desde a decisão, o magistrado fez piadas envolvendo comentários sobre o caso de figuras como o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Alito também ironizou discurso do príncipe britânico Harry na ONU (Organização das Nações Unidas).

A fala do magistrado se deu em uma palestra sobre liberdade religiosa em Roma, organizada pela Faculdade de Direito da Universidade Notre Dame. O discurso, que não foi anunciado previamente nem por Alito nem pela universidade, ocorreu na semana passada (21), mas o vídeo da conferência só foi publicado pela instituição nesta quinta-feira (28).

O americano se disse honrado por ter tido a oportunidade de escrever a decisão, afirmando ainda que a nova jurisprudência foi a única da história da Suprema Corte a ser "criticada por uma série de líderes estrangeiros, que se sentiram perfeitamente bem comentando aspectos da lei americana".

"Um deles foi Boris Johnson, mas ele pagou o preço", zombou o juiz, referindo-se ao pedido de renúncia do primeiro-ministro, depois de uma onda de demissões em seu gabinete e escândalos em série no mandato.

"Mas o que realmente me feriu —o que realmente me feriu— foi quando o duque de Sussex [príncipe Harry] se dirigiu às Nações Unidas e pareceu comparar a decisão que não deve ser nomeada com o ataque russo à Ucrânia", acrescentou, em um tom sarcástico. A audiência respondeu às afirmações com risos.

Em discurso em Nova York na semana passada, Harry chamou 2022 de "um ano doloroso em uma década dolorosa" antes de citar a Guerra da Ucrânia e "o retrocesso dos direitos constitucionais aqui nos EUA".

Boris chamou a decisão de "um grande passo para trás". Já Macron disse, no dia da decisão, que a interrupção voluntária da gravidez era um direito fundamental e que as liberdades das mulheres foram comprometidas pela Suprema Corte. Trudeau chamou a decisão de horrível.

Elena Kagan, juíza da ala progressista da Suprema Corte americana, afirmou no último dia 21, em um evento em Montana (EUA), que "seria perigoso para a democracia" se o tribunal perdesse a confiança do público americano.

A mais alta instância do Judiciário dos EUA hoje possui configuração de maioria conservadora, que tem se feito refletir cada vez mais em decisões recentes —desde o direito ao aborto até decisões com impacto sobre a crise climática, liberdade religiosa e porte de armas.

Pesquisas de opinião mostraram uma queda na aprovação pública da instituição após a derrubada de Roe vs. Wade: a confiança atingiu uma baixa histórica de 25%, queda de 11 pontos percentuais só neste ano.

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