Manifestantes invadem Parlamento do Iraque em protesto contra crise política

Formação de novo governo se arrasta há nove meses em meio a impasses; clérigo xiita critica rivais

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Bagdá | Reuters

O Iraque chegou nesta quarta-feira (27) ao mais longo período de impasse político já visto no país, com uma espécie de premiê tampão servindo de anteparo às disputas que opõem xiitas e curdos, principalmente, e travam, há 290 dias, a formação de um governo. A marca levou a um grande protesto em Bagdá, que culminou com a invasão do Parlamento.

Legisladores estão desde a eleição de outubro, que confirmou o partido ligado ao clérigo xiita Moqtada al-Sadr como maior força política do país, longe de um acordo para a escolha de um presidente e de um primeiro-ministro. Antes desse impasse, o período mais longo sem um chefe de Estado ou gabinete se deu em 2010, quando Nouri al-Maliki obteve um segundo mandato depois de 289 dias de negociações.

Enquanto isso, o primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi continua no cargo, inclusive no caso de os partidos não chegarem definitivamente a uma solução e novas eleições tenham que ser realizadas.

Apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr invadem Parlamento do Iraque, em Bagdá - Ahmed Saad - 27.jul.22/Reuters

A paralisia deixou o Iraque sem Orçamento para 2022, atrasando reformas econômicas e investimentos em infraestrutura tidos por analistas como cruciais para o país superar décadas de conflitos.

Os iraquianos dizem que a situação exacerba um quadro de desemprego, ainda que o cenário seja de receitas crescendo, em meio à alta nos preços do petróleo, e relativa paz desde a derrota do Estado Islâmico. Nesta quarta, a invasão do Parlamento se deu depois de milhares de apoiadores de al-Sadr irem às ruas de Bagdá para protestar contra a crise e as notícias sobre um acordo entre grupos que são, apesar de xiitas, rivais políticos do clérigo.

A formação de um governo no Iraque geralmente leva meses. Desde a queda do ditador sunita Saddam Hussein, convencionou-se que os partidos xiitas, que representam a maioria demográfica do país, ocupam o cargo de primeiro-ministro; os curdos, a Presidência; e os sunitas, a chefia do Parlamento.

Em meio aos impasses desta legislatura, porém, al-Sadr retirou do Legislativo seus 74 congressistas (de um total de 329 na Casa) no mês passado. A medida se deu depois de ele não conseguir formar um governo que excluísse os rivais xiitas, apoiados pelo Irã e acusados de ligação com grupos paramilitares.

Esses partidos herdaram os assentos, mas o clérigo indicou que poderia mobilizar sua base de apoio —que inclui uma milícia própria— para protestos caso uma coalizão que ele desaprovasse fosse costurada. Al-Sadr, então, manifestou rejeição aos nomes de Nouri al-Maliki, acusando o político de corrupto, e de Mohammed al-Sudani, visto como preposto do ex-premiê.

Os principais partidos curdos também têm se desentendido sobre a indicação do presidente.

Nesta quarta, os partidários do clérigo invadiram a zona verde de Bagdá, área fortificada que abriga embaixadas e prédios do governo, carregando bandeiras iraquianas e gritando "Maliki, você é um lixo".

"Vamos nos manifestar até que os políticos e grupos corruptos apoiados pelo Irã desapareçam", disse à Reuters o professor de religião Safaa al-Baghdadi. A polícia tentou conter o protesto lançando gás lacrimogêneo e jatos de água, com os manifestantes forçando a passagem por barreiras de concreto.

Depois de inicialmente recuar, o grupo voltou e conseguiu entrar no prédio do Parlamento. De acordo com o relato da agência de notícias Associated Press, não havia congressistas no local no momento, e agentes de segurança aparentemente permitiram o avanço do ato sem oferecer grande resistência.

Mais cedo, o premiê al-Kadhimi havia pedido aos manifestantes que se retirassem da região. Ele advertiu em nota que as forças de segurança garantiriam a proteção das instituições e impediriam "qualquer violação da segurança e da ordem". O político assumiu em 2020 após uma série de protestos levarem à renúncia de Adel Abdul Mahdi, com a promessa de convocar o pleito de nove meses atrás.

A eleição foi marcada pelo baixo comparecimento, com adesão de 41% dos eleitores. Al-Kadhimi firmou com o presidente dos EUA, Joe Biden, um acordo para encerrar a missão americana no país.

Com AFP

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