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Morre Etchecolatz, um dos maiores torturadores da ditadura argentina

Ex-policial tinha nove condenações a prisão perpétua por crimes contra a humanidade

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Buenos Aires | AFP

Morreu neste sábado (2) Miguel Etchecolatz, 93, um dos maiores torturadores da ditadura na Argentina (1976-1983). Ele tinha nove condenações a prisão perpétua por crimes contra a humanidade.

Etchecolatz foi diretor da polícia de Buenos Aires até 1979, quando se aposentou. Na ditadura, comandou ao menos 20 centros de detenção clandestinos, onde milhares de pessoas foram torturadas e mortas.

Em 1986, recebeu a primeira condenação. À época, a Justiça indicou que ele torturou 91 pessoas. Anos depois, o ex-policial foi condenado por roubo de bebês, sequestros, assassinatos e desaparecimentos.

O ex-chefe de polícia de Buenos Aires Miguel Etchecolatz, durante julgamento por crimes contra a humanidade, em La Plata, na Argentina
O ex-chefe de polícia de Buenos Aires Miguel Etchecolatz, durante julgamento por crimes contra a humanidade, em La Plata, na Argentina - Carlos Carmele - 24.ago.16/AFP

A última condenação foi em maio. Ele foi julgado por sequestro e tortura de sete vítimas e por assassinato de outras três. Os crimes ocorreram na prisão clandestina conhecida como Pozo de Arana (poço de aranha). Antes, em 2018, o ex-policial foi condenado por homicídio qualificado e estupro.

Etchecolatz foi também um dos responsáveis pela chamada "Noite dos Lápis". Em setembro de 1976, dez estudantes foram detidos e torturados pela polícia em La Plata, na província de Buenos Aires.

Um dos julgamentos mais emblemáticos aconteceu em 2006. Na época, o pedreiro Jorge Julio López chamou Etchecolatz de "serial killer" e disse que ele "não tinha compaixão". Dias depois a testemunha desapareceu e, até hoje, o sumiço é ligado ao nome do ex-policial.

Etchecolatz nunca divulgou informações de onde estariam os corpos das vítimas da ditadura. "Em razão da minha posição, tive que matar e faria de novo", afirmou ele em um dos julgamentos.

Após o anúncio da morte, políticos lamentaram o fato de o ex-policial não ter dado detalhes dos casos. O ministro do Meio Ambiente, Juan Cabandié, escreveu que "os genocidas seguem morrendo sem revelar os segredos, sem dizer onde estão ou o que fizeram com nossos parentes e companheiros desaparecidos".

"Ele estava claramente ciente do que fez até o fim. Nunca, mesmo em todas as oportunidades que ele teve, disse uma palavra sobre o destino dos desaparecidos", afirmou a deputada Myriam Bregman, neste sábado. "Quando às vezes se falava em 'ex-genocida' ou 'ex-repressor', nós, advogados, dizíamos que ele não era 'ex', porque renovava a cada dia seu compromisso com os desaparecimentos", acrescentou.

Etchecolatz morreu de problemas cardíacos em uma clínica na qual foi internado na quarta (27), segundo a imprensa local. Antes, estava preso. Em 2016, a Justiça chegou a lhe conceder prisão domiciliar, sob o argumento de que, devido à idade do ex-policial, ele não poderia ficar em uma penitenciária comum. A decisão, porém, foi revogada após recurso do governo –então comandado por Mauricio Macri.

Pela lei argentina, os maiores de 70 anos têm o direito de pedir para cumprir o resto da pena em domicílio —é o caso dos membros do regime militar. O governo Macri, por outro lado, deu espaço para reclamações dos militares, concedendo audiências a eles. Já as gestões dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner transformaram o julgamento dos responsáveis pela ditadura em política de Estado. Néstor, por exemplo, derrubou indultos e anistias existentes a militares que cometeram crimes na ditadura.

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