Milhares de caminhoneiros que transportam mercadorias entre os países do Mercosul ficaram presos nos últimos dias na Cordilheira dos Andes devido a uma tempestade de neve que deixou estradas e veículos cobertos de gelo. O evento climático forçou os governos de Chile e Argentina a fechar boa parte dos acessos entre os dois países.
Nesta sexta-feira (15), a administração da passagem internacional Cristo Redentor —um túnel de pouco mais de 3 quilômetros que conecta as nações, fechado há uma semana devido ao mau tempo— divulgou no Twitter um vídeo no qual se vê as estradas brancas, cobertas de neve.
A situação não deve se alterar nos próximos dias: o Serviço Meteorológico Nacional da Argentina alertou na quinta (14) que a previsão é de nevascas recorrentes e intensas. O acúmulo de neve pode chegar a um metro na região de Mendoza.
Depois de rodar 1.800 quilômetros e entregar uma carga de bobina de papel em Santiago, capital do Chile, o motorista gaúcho Márcio Rodrigues Alves fazia o trajeto de volta até Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, no sábado (9), quando em um trecho da cordilheira o tempo virou bruscamente —o sol fraco deu lugar a uma forte tempestade de neve.
"E ali nós [os caminhoneiros] ficamos. Ficamos dois dias dentro dos caminhões na cordilheira. A temperatura começou a baixar mais." Em seus 15 anos de profissão, o motorista diz ter presenciado situação semelhante somente uma outra vez, em 2008, na mesma região de agora, em um trecho que se estende por 40 quilômetros.
Ele estima quase 300 o número de veículos presos pela neve no lado chileno, com caminhoneiros bolivianos, paraguaios, argentinos, chilenos e brasileiros. Na Argentina, 2.800 caminhões não conseguem seguir viagem, segundo informações da imprensa local.
Rodrigues relata ter ficado sem comer nos dias em que não pôde sair da boleia, pois a baixíssima temperatura congelou o gás que ele usaria para cozinhar.
O resgate chegou pelo Exército chileno na madrugada de domingo (10) para segunda (11), quando as portas de seu caminhão já estavam cobertas por neve. Rodrigues conta que soldados rasparam o gelo para poder abrir a porta e retirá-lo de dentro, agarrado pelas pernas e pelos braços, pouco antes do amanhecer. "Fazia 15°C abaixo de zero. Eu não estava mais sentindo os pés nem as pernas", relata.
Os caminhoneiros foram levados pelo Exército para um abrigo na pequena cidade de Los Andes, a 80 quilômetros de Santiago, onde receberam cobertores, produtos de higiene e refeições. E lá estão até agora, à espera de que o tempo melhore nos próximos dias para poder seguir viagem.
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