Onda de calor mata mais de 1.000 em Portugal e Espanha, e incêndios se alastram pela Europa

França, Reino Unido e Itália também sofrem com recordes de temperaturas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Madri | Reuters e AFP

A onda de calor que atinge há quase uma semana o sul da Europa já deixou mais de 1.000 mortos apenas em Portugal e Espanha, além de uma série de incêndios florestais, que se alastram pelo continente.

Dados da Direção-Geral de Saúde de Portugal compilados na noite de sábado (16) apontavam a morte de 659 pessoas em meio à onda de calor nos sete dias anteriores, a maioria deles idosos. O pico de mortes ocorreu na quinta-feira (14), segundo o órgão, quando as temperaturas passaram dos 40°C na maior parte do país —com recorde de 47°C no distrito de Viseu, 300 km ao norte de Lisboa.

No mesmo dia, o Instituto de Saúde Carlos 3º, na Espanha, apontou 360 mortes relacionadas ao calor no país. No domingo (17), autoridades espanholas lutavam contra 20 incêndios ainda ativos e fora de controle em diferentes pontos. Na Galícia, na região noroeste, o fogo destruiu cerca de 4.500 hectares durante a semana.

Bombeiros atuam em incêndio em Alvaiázere, na região central de Portugal - Patrícia de Melo Moreira/AFP

Em Málaga, no sul, os bombeiros conseguiram estabilizar um incêndio na serra de Mijas que destruiu pelo menos 2.000 hectares. As chamas forçaram cerca de 3.000 pessoas a sair de casa, mas a maior parte delas já conseguiu retornar. Os britânicos William e Ellen McCurdy buscaram abrigo em um centro esportivo no sábado, quando o incêndio se aproximou. "Foi muito rápido, não levei muito a sério. Achei que eles tinham tudo sob controle e fiquei bastante surpreso quando o fogo parecia estar se movendo em nossa direção", disse William, 68.

A agência meteorológica da Espanha emitiu alertas para temperaturas máximas de 42°C no domingo nas regiões de Aragão, Navarra e La Rioja, no norte. Segundo a entidade, a onda de calor extremo deveria terminar nesta segunda-feira (18), mas as temperaturas permanecerão "anormalmente altas".

Em Portugal, cerca de 1.000 bombeiros tentavam controlar 13 incêndios florestais e rurais no centro e no norte do país, o maior deles perto da cidade de Chaves. Quase todo o território apresentava um risco "máximo", "muito alto", ou "elevado" de incêndios neste domingo. Na última semana, o fogo destruiu entre 12 mil e 15 mil hectares, segundo cálculos oficiais.

Na França, a situação também é crítica. No sudoeste do país, os bombeiros continuam lutando contra dois incêndios que já devastaram em torno de 11 mil hectares desde terça-feira (12) na região de Bordeaux, uma área equivalente à da cidade de Paris, disse à AFP o engenheiro Guillaume Rozier. Aproximadamente 10 mil pessoas tiveram de ser retiradas de suas casas nesta segunda.

Segundo a agência meteorológica Météo-France, as temperaturas podem chegar a 40°C nessa área. No domingo, 51 departamentos estavam sob alerta laranja, e 15, sob alerta vermelho, o mais alto, devido à escalada dos termômetros. "O calor está aumentando, a onda de calor está se espalhando pelo país", advertiu a agência.

As cidades de Brest e Nantes, no oeste, registraram calor recorde nesta segunda com temperatura máxima de 39,3ºC e 42ºC, respectivamente, segundo o serviço de meteorologia Météo-France.

Por causa da fumaça propagada pelos incêndios, mais de mil animais do zoológico da Baía de Arcachon, na costa sudoeste, precisarão ser retirados do local, entre eles os primatas, anunciou a Associação Francesa de Parques Zoológicos. O novo destino dos bichos ainda não foi divulgado.

As temperaturas também continuam altas no Reino Unido, onde as autoridades decretaram a primeira emergência nacional por calor extremo. No sul da Inglaterra, as temperaturas podem passar dos 40°C pela primeira vez nesta terça-feira (19). ​Passageiros de trens foram aconselhados a viajar apenas se for absolutamente necessário e pode haver atrasos e cancelamentos generalizados.

O País de Gales, que faz parte do Reino Unido, registrou nesta segunda temperatura recorde de 35,3°C nos arredores da cidade de Aberystwyth, no oeste do país.

Diante da onda de calor, Dominic Raab, adjunto do primeiro-ministro Boris Johnson, pediu que se respeite alguns "conselhos de senso comum". "Mantenha-se hidratado, evite sol nas horas mais quentes e passe protetor solar, esse tipo de coisa", disse ele à Sky News. Ao mesmo tempo, afirmou que é preciso "aproveitar o sol", que o país é resistente o suficiente para aguentar o calor e que não há razão para fechar as escolas.

As declarações foram criticadas por profissionais de saúde e meteorologistas. "Não é um dia bonito de sol, em que você pode passar protetor solar, ir nadar, ou comer fora", disse Tracy Nicholls, diretora-executiva do College of Paramedics. "Trata-se de um calor severo que pode, de fato, provocar mortes, porque é forte demais", acrescentou. "Não estamos preparados para esse tipo de calor neste país", insistiu.

Na Itália, onde incêndios menores ocorreram nos últimos dias, os meteorologistas esperam temperaturas acima de 40°C em várias regiões nos próximos dias. Marcas semelhantes devem ser registradas na Holanda e Bélgica, que decretaram "alerta laranja" para esta terça.

A onda de calor é a segunda registrada em menos de um mês na Europa, que está no auge da temporada turística de verão. Para cientistas, a multiplicação desses fenômenos é consequência direta das mudanças climáticas. Além das altas temperaturas, a Comissão Europeia indicou que quase a metade do território da União Europeia estava "em risco" de seca nesta segunda pela falta de chuvas prolongadas.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.