Papa Francisco nega planos de renúncia e volta a comparar aborto a assassinato

Pontífice diz que quer viajar a Kiev e a Moscou, mas que visita ainda não foi autorizada pelo governo de Putin

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Vaticano | Reuters

Frente a rumores de que poderia renunciar, o papa Francisco negou que tenha planos de deixar a liderança da Igreja Católica, ainda que questões ligadas à saúde tenham feito o pontífice alterar sua rotina.

"Isso nunca passou pela minha cabeça", disse o papa, em entrevista à agência de notícias Reuters publicada nesta segunda-feira (4). Mesmo assim, o argentino repetiu posicionamento adotado em outras ocasiões, quando disse que poderia renunciar algum dia caso sua saúde se debilitasse a ponto de impedir que ele dirija a igreja. "Não sabemos [quando e se isso vai acontecer]; Deus dirá", disse Francisco.

O papa Francisco durante entrevista no Vaticano
O papa Francisco durante entrevista no Vaticano - Remo Casilli - 2.jul.22/Reuters

O pontífice também comentou a decisão da Suprema Corte dos EUA que derrubou o direito ao aborto no país, assegurado havia 49 anos. Ele disse respeitar a decisão, sinalizando que não tem conhecimento técnico para avaliá-la, mas discorreu sobre a interrupção voluntária da gravidez, à qual a igreja se opõe.

"A questão moral é se é certo tirar uma vida humana para resolver um problema. De fato, é certo contratar um assassino para resolver um problema?", questionou Francisco. Não é a primeira vez que ele dá declarações do tipo. Há quatro anos, o papa comparou o aborto a recorrer a um matador de aluguel.

Ele também foi questionado sobre outra polêmica, ligada à ala mais conservadora da igreja nos EUA, sobre se pessoas que defendem o direito ao aborto devem receber a comunhão. O papa já havia defendido que sim. Desta vez, disse que, "quando a igreja perde a natureza pastoral, causa um problema político".

A controvéria teve início depois de bispos americanos tentarem impedir o presidente Joe Biden, o segundo católico a assumir a Casa Branca, de comungar, uma vez que ele defende a manutenção do direito ao aborto nos EUA. Biden e Francisco tiveram um encontro em outubro passado. O democrata disse que o papa teria afirmado que ele deveria continuar recebendo a comunhão, algo que o Vaticano não comentou.

Francisco teve de cancelar uma viagem recente à África, onde visitaria a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, devido a uma recomendação feita por seus médicos. Caso não repousasse e seguisse o tratamento para o joelho direito, ele teria também de cancelar a ida ao Canadá no final deste mês.

A visita do pontífice ao país norte-americano tem significado simbólico. O papa pediu desculpas formais aos povos indígenas do Canadá em abril pelo papel da Igreja Católica em internatos religiosos nos quais foram registrados casos de violência contra crianças e a cultura originária do país.

Francisco negou rumores de que um câncer foi diagnosticado há um ano, quando passou por uma cirurgia para remover parte de seu cólon, no tratamento para estenose diverticular, doença em que se formam "bolsas" no cólon. "Eles não me contaram nada [sobre o suposto câncer]", disse, em tom irônico.

O pontífice também voltou a falar da Guerra da Ucrânia, presente em muitos de seus discursos, em geral críticos à invasão russa. Ele sinalizou que há a possibilidade de, após a viagem ao Canadá, ir à Rússia e à Ucrânia e conversar com os líderes Vladimir Putin e Volodimir Zelenski. "Gostaria de ir à Ucrânia, mas queria ir a Moscou primeiro." Ele relembrou que o secretário de Estado do Vaticano solicitou ao chanceler russo, Serguei Lavrov, uma viagem, mas que a resposta teria sido de que aquele não era o momento certo.

Nenhum papa visitou Moscou, e a guerra chegou a contribuir para o desgaste da relação entre as igrejas Ortodoxa Russa e Católica Romana. A instituição russa acusou Francisco de usar tom errado ao comentar conversa anterior que teve com o patriarca Cirilo, um aliado de Putin, para falar sobre o conflito.

Após a divulgação da entrevista, a diplomacia ucraniana reiterou o convite para que o papa visite Kiev e pediu que o líder religioso siga rezando pelo povo do país.

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