Presidente do Sri Lanka renuncia por email após fuga para Singapura

País no oceano Índico vive dias de caos e protestos furiosos; manifestantes deixaram prédios oficiais

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Colombo | Reuters

O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, oficializou nesta quinta-feira (14) sua renúncia ao cargo depois de fugir para Singapura em meio a protestos em massa contra o colapso econômico do país.

Rajapaksa enviou por email uma carta de renúncia ao presidente do Parlamento, que afirmou, em comunicado, que iria verificar a autenticidade do documento, finalizar o processo legal e fazer um anúncio oficial da renúncia nesta sexta-feira (15). Espera-se que o Parlamento organize a eleição indireta de um novo presidente em 20 de julho.

Manifestantes em Colombo celebram a renúncia do presidente Gotabaya Rajapaksa - Adnan Abidi - 14.jul.22/Reuters

O anúncio provocou comemoração na capital comercial do país, Colombo, onde manifestantes desafiaram um toque de recolher. Multidões soltaram fogos de artifício e cantaram lemas de protesto. "O país inteiro vai comemorar hoje", disse a ativista Damitha Abeyrathne. "É uma grande vitória. Nunca pensamos que conseguiríamos libertar o país deles [a família Rajapaksa, que dominou a política local por duas décadas]."

Após não ser visto no fim de semana, quando eclodiram protestos furiosos, o presidente fugiu para Maldivas na quarta (13); de lá, seguiu para Singapura no avião de uma companhia saudita. Um passageiro do voo disse à agência Reuters que ele foi recebido por um grupo de seguranças e foi visto saindo da área VIP do aeroporto em um comboio de veículos pretos.

Funcionários da companhia aérea no voo contaram que Rajapaksa, vestido de preto, voou na classe executiva com a esposa e dois guarda-costas, agindo de forma "tranquila e amigável". A chancelaria de Singapura afirmou que o político cingalês entrou no país de forma particular e não solicitou ou recebeu asilo.

Na quarta, data em que o líder do Parlamento havia informado que a renúncia seria formalizada, a decisão de Rajapaksa de nomear como presidente interino o premiê Ranil Wickremesinghe, seu aliado, desencadeou novos protestos, com manifestantes invadindo o gabinete do primeiro-ministro.

"Queremos que Ranil vá para casa", disse o motorista Malik Perera, 29. "Eles venderam o país, queremos que uma boa pessoa assuma, até lá não vamos parar." Wickremesinghe é considerado favorito para ser indicado candidato do partido governista para a eleição indireta do novo presidente. A oposição espera emplacar Sajith Premadasa, filho de um ex-presidente.

Os atos contra a crise fervilham há meses e chegaram ao auge no fim de semana, quando centenas de milhares de pessoas tomaram prédios do governo em Colombo, culpando o governo pela inflação descontrolada, a escassez de bens básicos e a corrupção.

Nesta quinta, um porta-voz do FMI disse que o órgão continua a negociar um pacote de auxílio com quadros técnicos cingaleses, mas que espera retomar as conversas com o governo "o quanto antes". Enquanto isso, nas ruas, manifestantes começaram a deixar as residências oficiais do presidente e do primeiro-ministro. No escritório da Presidência, os últimos dias foram de civis vagando pelos corredores, usando a cozinha e a piscina.

Segundo Chameera Dedduwage, um dos organizadores dos protestos, "manter as residências oficiais capturadas não tem mais valor simbólico com o presidente fora do país".

Os irmãos de Rajapaksa, Mahinda (que foi presidente de 2005 e 2015 e renunciou ao posto de premiê em maio) e Basil (ex-ministro) disseram à Suprema Corte que continuariam no Sri Lanka ao menos até esta sexta. O segundo chegou a ser barrado por agentes da imigração em um voo para os EUA na terça.

O toque de recolher imposto em Colombo pelo governo interino deve valer até o início da manhã desta sexta, em uma tentativa de evitar mais protestos. A mídia local mostrou blindados patrulhando as ruas, e militares disseram que podem usar a força para proteger pessoas e bens públicos.

Segundo a polícia, uma pessoa foi morta e 84 ficaram feridas em confrontos entre a tropa de choque e manifestantes desde quarta-feira. O Exército disse que dois soldados ficaram gravemente feridos depois de serem atacados perto do Parlamento e que suas armas foram roubadas.

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