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Protesto anti-Bolsonaro na Itália não teve manifestantes enviados pelo PT

Post engana ao afirmar que brasileiros fingiram ser do MST

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São Paulo

É enganosa postagem que afirma que o PT enviou brasileiros para a Itália para participar de um protesto fingindo ser integrantes do MST. O post usa um vídeo de manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro na cidade de Pádua e refere-se ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e ao fato de os policiais terem dispersado o ato após confronto.

A manifestação, de fato, foi realizada. De acordo com a agência italiana Ansa, cerca de 500 pessoas participaram do ato, reprimido pela polícia, que usou jatos d’água e bombas de gás lacrimogêneo. Porém, como verificou o Projeto Comprova, o PT não enviou brasileiros ao local.

Segundo Antonio Pio Lancellotti, diretor do Global Project, plataforma multimídia que reúne ativistas no mundo todo, "a manifestação foi organizada por centros sociais da Itália e não havia nenhuma comitiva enviada pelo partido de Lula". Lancelloti também participou do protesto e disse que "a grande maioria dos manifestantes era de italianos."

Procurados, o PT e o MST afirmaram que não enviaram manifestantes à Itália para promover qualquer tipo de protesto contra Bolsonaro. "Informamos também que existem na Europa e outras partes do mundo comitês de amigas e amigos do MST que se articulam organicamente em defesa da democracia e da reforma agrária popular no Brasil", afirmou a assessoria de imprensa do movimento social.

Manifestantes contrários a Bolsonaro entram em choque com a polícia em Pádua, no norte da Itália
Manifestantes contrários a Bolsonaro entram em choque com a polícia em Pádua, no norte da Itália - Reprodução

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos de maior alcance nas redes sociais. Até o dia 29 de junho, o vídeo publicado no Facebook teve 14,6 mil interações, sendo 12 mil visualizações, 2 mil curtidas e 643 comentários. O mesmo conteúdo foi compartilhado dezenas de vezes no Twitter, o que indica uma ação organizada.

O que diz o autor

"Foi uma falha no texto", afirmou o major Ricardo Silva, autor da publicação, que foi divulgada de forma organizada, com dezenas de perfis postando ao mesmo tempo. Após o contato da reportagem, ele alterou o título e a legenda do vídeo para "A polícia italiana muito competente resolveu da forma adequada a manifestação! Olha no que deu, minha gente!".

Como verificamos

O primeiro passo da verificação foi buscar no Google pelas palavras-chave "protesto", "MST" e "Itália", o que resultou em diversas reportagens publicadas pela imprensa nacional em novembro de 2021.

A partir da leitura das matérias e análise dos vídeos da manifestação presente em algumas delas, o Comprova identificou o local, data e contexto do protesto.

Depois disso, a reportagem reuniu informações sobre o major Ricardo Silva por meio das redes sociais (Instagram e Facebook) e do site do militar.

A equipe também conversou com Janaina Cesar, jornalista que cobriu o protesto para a Folha, e que entrevistou Antonio Pio Lancellotti. Por fim, a reportagem contatou, por email, o major Ricardo Silva, e, por WhatsApp, as assessorias de imprensa do PT e do MST.

A manifestação

Em 1º de novembro de 2021, cerca de 500 jovens se concentraram na via Belludi, na cidade de Pádua, na Itália, para protestar contra a visita de Jair Bolsonaro ao país. Os manifestantes portavam faixas com dizeres contra Bolsonaro e alguns carregavam bandeiras do MST.

Segundo reportagem da Folha, por volta das 16h, no horário da Itália, os manifestantes tentaram romper a barreira dos agentes de segurança, que bloqueavam as áreas que davam acesso à Basílica de Santo Antônio —local que deveria ser visitado posteriormente pelo presidente brasileiro.

A polícia italiana usou jatos d’água, bombas de gás lacrimogêneo, escudos e cassetetes para dispersar os manifestantes. O grupo então reagiu lançando mastros de bandeiras nos agentes.

Bolsonaro na Itália

Em novembro de 2021, Bolsonaro esteve na Itália para receber um título de cidadão honorário na cidade de Anguillara Veneta, que fica a cerca de 40 km ao sul de Pádua. A honraria foi entregue pela prefeita Alessandra Buoso, ligada ao partido de extrema direita Liga Norte. Em fevereiro deste ano, no entanto, moradores da cidade e Partido Europa Verde apresentaram uma ação popular na Justiça pedindo que o título fosse anulado.

O presidente brasileiro esteve em Anguillara Veneta na manhã do dia 1º de novembro, onde também foi alvo de protestos.

A agenda oficial do presidente confirma que Bolsonaro partiu de Roma para Pádua às 9h do dia 1º de novembro para participar da cerimônia de outorga do título de cidadão honorário do município de Anguillara Veneta às 13h (horário da Itália). Bolsonaro retornou ao Brasil no dia 2 de novembro às 11h40.

O major

Ricardo Azevedo da Silva nasceu na cidade de São Paulo, em 1971. Há 20 anos reside e trabalha em Santo André, em São Paulo.

De acordo com informações do site do major, ele é técnico em Eletrônica Aeronáutica e atuou como Sargento Especialista por dez anos na Força Aérea Brasileira. Além disso, é bacharel em Administração em Segurança Pública e em Direito, deputado suplente e militar com mais de 34 anos de experiência.

Em 2018, disputou as eleições para deputado estadual pelo PSL. Teve 12.649 votos, mas não se elegeu. Em 2020, disputou as eleições para vereador de Santo André, em São Paulo, pelo Patriota. Teve 1.103 votos e não foi eleito. Atualmente, Ricardo Silva é pré-candidato a deputado estadual de São Paulo.

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e as eleições presidenciais que viralizaram nas redes sociais. O vídeo aqui verificado traz informações enganosas sobre a atuação do PT, partido de Lula, em protesto contra Bolsonaro. Peças de desinformação envolvendo os pré-candidatos à presidência da República podem confundir e influenciar a decisão de voto dos eleitores, o que é prejudicial para o processo democrático.

O MST já apareceu em outros conteúdos investigados pelo Comprova, como publicações que enganavam ao afirmar que movimentos sociais e partidos teriam participado de depredação de casa popular e que mentiam sobre Exército ter apreendido madeira ilegal ligada a ONGs e MST.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e Plural Curitiba e publicada em 30 de junho pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 42 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Nexo, Estadão, CBN Cuiabá, SBT, SBT News, O Dia, Metrópoles e A Gazeta.

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