Rishi Sunak e Liz Truss vão disputar sucessão de Boris como premiê do Reino Unido

Ex-titular das Finanças aparece como favorito na disputa com secretária das Relações Exteriores

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São Paulo

A corrida para suceder o premiê Boris Johnson no Reino Unido se afunilou nesta quarta-feira (20), com a escolha pelo Partido Conservador dos dois finalistas à posição de líder da legenda. Dos 11 concorrentes iniciais, permaneceram na disputa o ex-titular da pasta de Finanças Rishi Sunak e a atual secretária das Relações Exteriores, Liz Truss.

Na quinta rodada de votações, Sunak obteve 137 votos, seguido por Truss, com 113, pouco à frente da ex-secretária de Defesa Penny Mordaunt, com 105. De certa forma, o resultado surpreende, porque Mordaunt aparecia em vantagem em algumas pesquisas de intenção de voto.

O ex-secretário de Finanças Rishi Sunak em Londres
O ex-secretário de Finanças Rishi Sunak em Londres - John Sibley - 18.jul.22/Reuters

Boris anunciou no início de julho que deixará o cargo, pressionado por uma série de escândalos e pela renúncia coletiva de membros de seu governo. O premiê, contudo, ficará no posto até que um substituto seja escolhido, o que está previsto para ocorrer em setembro, de acordo com o calendário do partido.

Ambos os finalistas agora vão participar de uma série de eventos pelo país, nos quais serão questionados sobre seus projetos de governo. O vitorioso será escolhido por meio do voto dos filiados ao Partido Conservador —quem tiver mais apoios se torna líder da sigla e, por tabela, o novo primeiro-ministro ou nova primeira-ministra.

A legenda não é obrigada a divulgar quantos filiados tem. Em 2016, quando esse processo aconteceu pela última vez, havia cerca de 160 mil membros. A votação é realizada por correspondência e ficará aberta até 2 de setembro. O resultado deve ser divulgado três dias mais tarde. Saiba quem são os finalistas.

Rishi Sunak

Ex-secretário das Finanças elogiado por lançar um pacote de resgate econômico para combater a crise causada pela pandemia de Covid, Sunak é o favorito para suceder Boris —liderou as rodadas de votação até aqui e tem o maior apoio entre os deputados do Partido Conservador. Sua popularidade na sigla não parece ter sido abalada pelo fato de sua renúncia, há algumas semanas, ter impulsionado a queda daquele que pode vir a ser seu antecessor.

Caso eleito, o ex-analista do banco Goldman Sachs promete cortar impostos tão logo a inflação de 9,1% registrada em maio seja controlada. "É uma questão de quando, não se", disse ele, tocando num dos pontos mais sensíveis para os britânicos —a alta de preços é a maior dos últimos 40 anos. Quando era secretário, uma das críticas que recebeu foi ter feito pouco para controlar o aumento do custo de vida.

Sunak, 42, foi o primeiro hindu a ocupar um cargo de secretário, posição à qual ascendeu em 2015. Apesar de se dizer orgulhoso por ser filho de imigrantes —os pais têm origem indiana e foram criados no sudeste da África antes de emigrarem para a Inglaterra—, defende uma política dura para as fronteiras britânicas, com a manutenção do plano de deportar a Ruanda imigrantes sem documento que chegam ao país.

"Precisamos construir um novo consenso sobre as pessoas que vêm ao nosso país. Sim a trabalhadores talentosos e inovadores, mas com controle das nossas fronteiras", disse, em um discurso de campanha. Mudar a lei migratória, afirmou, foi um dos motivos que o levou a apoiar o brexit em 2016.

Milionário, Sunak é casado com a herdeira de um magnata indiano, Akshata Murty, que sofreu escrutínio público por ter um status fiscal vantajoso, que lhe permitia evitar o pagamento de milhões de libras em impostos no Reino Unido. Ela acabou anunciando que pagaria taxas sobre ganhos no exterior para aliviar a pressão.

Os trabalhistas aproveitaram a brecha e questionaram se ele já havia se beneficiado do uso de paraísos fiscais. O jornal Independent publicou um relatório no qual Sunak foi listado como beneficiário de fundos nas Ilhas Virgens Britânicas e nas Ilhas Cayman. Um porta-voz dele disse desconhecer as alegações.

Liz Truss

Apelidada por apoiadores de "a nova dama de ferro", em referência à ex-primeira-ministra Margaret Thatcher, Truss, 46, é vista como a candidata da continuidade, devido a sua lealdade a Boris.

A secretária das Relações Exteriores faz parte da ala mais à direita dos conservadores, ideologia que adotou quando cursou política, filosofia e economia na Universidade Oxford. Antes, porém, Truss teve um flerte com os liberais democratas, por influência de seus pais, ambos filiados ao Partido Trabalhista.

A secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, próximo ao Parlamento britânico, em Londres
A secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, próxima ao Parlamento britânico, em Londres - Toby Melville/Reuters

Ela lançou sua candidatura para suceder o atual primeiro-ministro prometendo colocar a economia britânica em trajetória ascendente até as próximas eleições, em 2024. "Eu começaria a cortar impostos desde o primeiro dia para ajudar as pessoas a lidar com o custo de vida. Não é certo aumentar impostos agora", escreveu, em artigo no jornal Telegraph.

As medidas incluiriam reverter um aumento nas contribuições previdenciárias que entraram em vigor em abril e não elevar impostos sobre empresas, o que seria essencial, de acordo com a visão dela, para atrair investimentos.

No Parlamento desde 2010, Truss faz parte do governo que aprovou o criticado projeto para enviar imigrantes sem documentos a Ruanda, mas não comentou publicamente a decisão desde que lançou a candidatura a primeira-ministra. Ela votou contra o brexit, mas logo disse que havia mudado de ideia.

Ainda nessa seara, apresentou uma legislação para substituir unilateralmente algumas regras comerciais pós-brexit com a Irlanda do Norte, posição que aprofundou tensões entre os dois lados. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, ganhou proeminência internacional. Ela defende que as sanções econômicas impostas a Moscou devem permanecer até que as forças russas se retirem completamente do país vizinho.

Antes de o conflito estourar, ela esteve no centro de momentos que evidenciaram a crescente tensão entre Kremlin e Ocidente. Depois de confundir mar Báltico com mar Negro em uma entrevista, Truss caiu numa pegadinha do chanceler Serguei Lavrov em uma reunião. Ele perguntou se ela reconhecia a soberania russa em Rostov e Voronej e ouviu um "não" —a questão é que essas são partes da própria Rússia, não havendo questões diplomáticas envolvendo as regiões.

"Estou honestamente desapontado que tenhamos tido uma conversa entre um mudo e um surdo. Nossas explicações mais detalhadas caíram em solo despreparado", disse o decano Lavrov na sequência.

Erramos: o texto foi alterado

Os pais de Rishi Sunak não nasceram em países africanos. Eles, na verdade, têm origem indiana e foram criados em nações do continente. A reportagem foi corrigida. 

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