Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, é assassinado a tiros durante campanha eleitoral; veja vídeo

Político que por mais tempo permaneceu no cargo foi atacado durante ato de campanha na cidade de Nara

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Nara | Reuters

Shinzo Abe, premiê que por mais tempo permaneceu no cargo na história do Japão, foi morto nesta sexta (8), aos 67 anos, após ser baleado enquanto discursava num ato de campanha eleitoral na cidade de Nara.

A Agência Japonesa de Gerenciamento de Desastres afirmou que ele levou tiros no lado direito do pescoço e no lado esquerdo do peito. A polícia prendeu um suspeito, Tetsuya Yamagami, 41, sob a acusação de tentativa de homicídio —a denúncia foi feita antes de a morte de Abe ser confirmada.

O ex-premiê Shinzo Abe no chão após ser baleado na cidade de Nara, no Japão
O ex-premiê Shinzo Abe no chão após ser baleado na cidade de Nara, no Japão - The Asai Shimbun via Reuters

A polícia informou que a arma usada era caseira, e fotos do momento do assassinato mostram dois pedaços de cano de aço colados com fita adesiva no chão. Oficiais de Nara disseram ter confiscado armas semelhantes na casa do suspeito, que, segundo a mídia local japonesa, teria integrado a Força de Autodefesa Marítima e dito à polícia que estava descontente com o ex-premiê. Por isso, pretendia matá-lo.

A violência armada é rara no país, onde apenas dez tiroteios que terminaram com mortos, feridos ou danos materiais foram registrados em 2021, segundo a Agência Nacional de Polícia. Nesses incidentes, uma pessoa foi morta e outras quatro ficaram feridas —os números não incluem acidentes ou suicídios.

O atual premiê japonês, Fumio Kishida, em entrevista coletiva antes do anúncio da morte de Abe, disse que o ataque foi um "ato hediondo e bárbaro que não pode ser tolerado". "Foi um ato de brutalidade que aconteceu durante as eleições, a base da nossa democracia, e é absolutamente imperdoável", disse ele, citando a campanha para a Câmara Alta do Parlamento, com votação marcada para domingo (10).

Suspeito de matar o ex-premiê Shinzo Abe é detido pela polícia na cidade de Nara, no Japão
Suspeito de matar o ex-premiê Shinzo Abe é detido pela polícia na cidade de Nara, no Japão - Asahi Shimbun via AFP

Vestindo uma jaqueta escura apesar do calor do verão japonês, Abe discursava em um ato em apoio a Kei Sato, 43, um membro do Partido Liberal Democrático (LDP). O ex-premiê havia iniciado a fala havia menos de um minuto e se aproximava do público quando dois disparos foram ouvidos.

Como é típico no Japão, onde os crimes violentos são raros, e as armas, escassas, a segurança não era reforçada no evento, de acordo com vídeos e testemunhas ouvidas pela agência de notícias Reuters.

No momento em que o ex-primeiro-ministro elogiava a resposta do correligionário à pandemia, membros do serviço secreto japonês pareciam estar à direita e logo atrás de Abe. "Ele ouviu as preocupações de todos", disse o ex-premiê, enquanto o político mais jovem acenava. "Ele era o tipo de pessoa que não procurava razões para não fazer algo." Seriam as suas últimas palavras públicas.

Uma das balas que atingiu o político penetrou o coração, segundo o chefe do pronto-socorro do Hospital Universitário de Nara. Abe chegou ao local em parada cardiorrespiratória e recebeu transfusões de sangue, mas não foi possível estancar o sangramento. Uma equipe com mais de 20 médicos o atendeu.

O governo anunciou a criação de um grupo para investigar o ataque, e o secretário-chefe do gabinete japonês, Hirokazu Matsuno, repudiou o assassinato. "Qualquer que seja o motivo [do ataque], um ato bárbaro como este não pode ser tolerado, e nós o condenamos com firmeza."

Uma das figuras políticas mais influentes do país, Abe teve trajetória inteiramente ligada ao LDP. Seu tio-avô Nobusuke Kishi, que também foi premiê, ajudou a fundar a legenda. Já seu pai, Shintaro Abe, foi chanceler. Mesmo aposentado de disputas eleitorais, Abe seguiu liderando a ala mais influente da sigla.

Conservador, ficou conhecido pela estratégia de recuperação econômica batizada de Abenomics, na qual mesclava flexibilização monetária, grande reativação do orçamento e reformas estruturais. ​

Em uma mudança histórica em 2014, seu governo reinterpretou as leis do país para permitir que tropas japonesas lutassem no exterior pela primeira vez desde a Segunda Guerra. Um ano depois, o Japão adotou leis que suspenderam a proibição de exercer o direito de defender um país aliado sob ataque. Ele também foi peça-chave para o sucesso da candidatura de Tóquio para ser sede das Olimpíadas de 2020.

​Ele renunciou ao cargo em agosto de 2020 devido a questões de saúde, depois de governar o Japão de forma ininterrupta desde 2012. Antes, já havia cumprido um período como premiê, de 2006 a 2007.

A violência política no Japão, especialmente envolvendo armas de fogo, tornou-se incomum ao longo das últimas décadas. O último assassinato de uma figura política de projeção nacional, de acordo com o jornal americano The New York Times, foi em 1960, quando um nacionalista extremista de 17 anos esfaqueou até a morte o então líder do Partido Socialista do Japão, Inejiro Asanuma. No mesmo ano, outro ultranacionalista atacou o tio-avô de Abe, o premiê Nobusuke Kishi, esfaqueando-o várias vezes na perna.

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