Ucranianos são os refugiados mais aceitos no mundo, indica pesquisa

Levantamento com mais de 20 mil pessoas de 28 países mostra que Brasil é o mais aberto a esses imigrantes

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São Paulo

Uma pesquisa que ouviu mais de 20 mil pessoas em 28 países corrobora um fenômeno discutido desde o início da Guerra da Ucrânia: os refugiados ucranianos são muito mais aceitos pelos países de acolhida do que afegãos, sírios e os que fogem de desastres humanitários em outros lugares do mundo.

De acordo com o levantamento, realizado pelo instituto de pesquisa Ipsos, 54% dos entrevistados afirmaram apoiar que seu país receba refugiados ucranianos, e apenas 15% se disseram contrários.

Refugiada ucraniana em trem na cidade de Lviv, na fronteira com a Polônia
Refugiada ucraniana em trem na cidade de Lviv, na fronteira com a Polônia - Kai Pfaffenbach - 12.mar.22/Reuters

É uma receptividade bem maior do que a direcionada a refugiados de outras nacionalidades —32% disseram apoiar a chegada de sírios; 31%, de pessoas de Mianmar; 30%, de venezuelanos e afegãos, e 27%, dos que fogem do conflito no Sudão do Sul. Os ucranianos foram os mais aceitos em 26 países —Arábia Saudita e Malásia foram os únicos mais abertos aos sírios.

A margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos percentuais, e a amostra é representativa da população adulta da maioria dos países —no caso do Brasil, representa a população conectada à internet, mais urbana e escolarizada que a média. Segundo o relatório do Ipsos, o resultado "sugere que a Guerra da Ucrânia pode até ter melhorado a atitude em relação aos refugiados, mas não é algo incondicional, e outras questões podem estar afetando as visões em relação aos refugiados de outros países".

Na outra ponta, os afegãos foram os mais rejeitados pelos 28 países da sondagem: um terço da amostra se disse contrária à chegada de refugiados do país controlado pelos radicais do Talibã. Questionados em relação a refugiados de qualquer nacionalidade, 36% se disseram favoráveis a recebê-los em seus países.

Nesse quesito, o Brasil é exceção e foi o mais aberto do ranking: 64% dos brasileiros ouvidos disseram apoiar o acolhimento de refugiados no geral. Assim como no resto do mundo, os ucranianos são os mais bem-vindos, com 69% de respostas favoráveis, contra 52% para birmaneses, 53% para sudaneses e 55% para afegãos. A aceitação a venezuelanos e sírios, fluxos mais comuns hoje no país, foi de 61% e 58%.

Outras pesquisas já mostraram que os brasileiros têm, no geral, uma visão positiva sobre os refugiados, mas relatos de xenofobia, especialmente contra imigrantes negros ou de origem indígena, vêm crescendo nos últimos anos. O Brasil também tem tradição de política externa aberta a esses grupos —foram criados vistos humanitários para sírios, afegãos e ucranianos, por exemplo—, mas o apoio aos que chegam é considerado insuficiente, com ONGs ficando responsáveis por absorver a maior parte da demanda.

Na pesquisa do Ipsos, os maiores índices de aceitação aos refugiados depois do Brasil foram os da Argentina e da Arábia Saudita, ambos com 52%, e do México, com 50%. As menores porcentagens de apoio ficaram entre os cidadãos de Turquia, Malásia e Hungria, com 12%, 14% e 18%, respectivamente.

A Turquia, vizinha à Síria, em guerra civil há mais de dez anos, é o país com o maior número de refugiados no mundo, 3,8 milhões, segundo o último relatório do Acnur (alto comissariado da ONU para refugiados).

Os dados, de 2021 —portanto, anteriores à Guerra da Ucrânia—, mostraram que a cifra de deslocados à força dobrou na última década, com 89,3 milhões vivendo longe de suas casas devido a conflitos ou violações de direitos humanos. Em maio deste ano, as Nações Unidas divulgaram uma atualização que inclui os refugiados ucranianos, com o número de deslocados forçados atingindo 100 milhões.

O êxodo ucraniano chamou a atenção por ser um dos mais velozes da história, com mais de 3 milhões de pessoas tendo deixado o país apenas no primeiro mês do conflito, especialmente pela fronteira com a vizinha Polônia. Uma parte desses exilados, porém, começou um movimento de retorno depois que o conflito se concentrou no leste do país. No geral, os países europeus abriram suas fronteiras a esses migrantes, o que gerou comparações com a resposta a outros fluxos recentes, como os do Oriente Médio.


54% é o apoio geral dos entrevistados de 28 países ao acolhimento de ucranianos; 32% disseram ter o mesmo posicionamento em relação a sírios, 30%, sobre venezuelanos, e 30%, sobre afegãos

64% dos brasileiros são a favor da recepção do país a refugiados de qualquer nacionalidade; a média mundial é de 36%

69% dos brasileiros apoiam a recepção de ucranianos; só os suecos são mais abertos a esse grupo, com 73%

Fonte: Pesquisa Ipsos realizada entre 22.abr e 6.mai de 2022

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