Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

China promete reação militar a visita de deputada dos EUA a Taiwan

Casa Branca vê 'retórica irresponsável' e defende direito de presidente da Câmara de ir à ilha

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São Paulo

A provável visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, a Taiwan, está se tornando um choque diplomático de grandes proporções com o principal rival de Washington na Guerra Fria 2.0, a China.

As Forças Armadas chinesas "não vão esperar sentadas" enquanto a deputada visita a ilha que Pequim considera uma província rebelde, disse o porta-voz da chancelaria Zhao Lijian nesta segunda (1º). Foi a mais direta ameaça militar feita por Pequim desde que a viagem passou a ser especulada.

Xi Jinping (centro) e outros líderes chineses em evento de comemoração dos 95 anos do Exército de Libertação Nacional, no Ministério da Defesa, em Pequim
Xi Jinping (centro) e outros líderes chineses em evento de comemoração dos 95 anos do Exército de Libertação Nacional, no Ministério da Defesa, em Pequim - Yan Yan - 31.jul.2022/Xinhua

Pelosi está numa viagem por países asiáticos, iniciada nesta segunda por Singapura. Oficialmente, ela irá a Malásia, Coreia do Sul e Japão, mas desde a semana passada há indícios crescentes de que deve adicionar uma parada em Taipé.

Ela é malvista em Pequim: em 1991, fingiu uma dor de cabeça numa visita oficial e foi à praça da Paz Celestial fazer um protesto contra o massacre de estudantes lá ocorrido dois anos antes.

"A China tem usado uma retórica irresponsável", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, ao comentar o caso. Ele afirmou que a deputada tem o direito de ir a Taiwan se quiser e que não há riscos militares embutidos na ação por parte dos EUA —que, pelo sim, pelo não, deslocaram o porta-aviões Ronald Reagan para o contestado mar do Sul da China, não distante da ilha.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, por sua vez disse que "não sabia" se Pelosi iria a Taiwan. Parece uma cortina de fumaça: ela é aliada do presidente Joe Biden, e o partido de ambos está em apuros na disputa pela eleição congressual de meio de mandato, em novembro. Uma demonstração de força contra o principal rival sempre cai bem.

O problema é que a provocação pode sempre, como o próprio Kirby admitiu, escorregar para o "risco de um erro de cálculo" na altamente militarizada região do estreito de Taiwan. O próprio líder Xi Jinping disse a Biden, por telefone na quinta (28), que os EUA estavam "brincando com fogo".

Os chineses já deixaram claro que irão reagir, o que pode vir na forma de uma grande incursão aérea contra as defesas da ilha, mais exercícios de tiro real como os do fim de semana ou algo mais incisivo.

Esse algo, apesar de blogueiros nacionalistas chineses terem pedido a delirante derrubada do avião de Pelosi, seria algum tipo de intimidação ao trajeto da aeronave —talvez uma interceptação com caças. Mesmo tal ideia soa agressiva ao extremo.

Segundo a imprensa taiwanesa, Pelosi pode chegar à ilha na noite de terça (2, manhã no Brasil) ou na manhã de quarta (3, noite de terça no Brasil). Três pessoas com conhecimento do assunto disseram o mesmo à agência Reuters.

Pois Xi está em um momento de pressão e não pode arriscar qualquer tipo de confronto real com os EUA. A reestruturação do mercado imobiliário do país, central para a economia, está rodando em falso: a gigante Evergrande, falimentar, não conseguiu apresentar o plano de reforma que havia se comprometido a entregar no domingo (31).

As dificuldades econômicas devido aos lockdowns para garantir a política de Covid zero também têm cobrado preço. O líder deverá ser reconduzido a um terceiro mandato de cinco anos em novembro, algo inédito desde 1982, quando Deng Xiaoping instituiu um limite para evitar a perpetuação de líderes personalistas.

Na Guerra Fria 2.0, a maior aliada de Pequim, a Rússia, já demonstrou apoio à política chinesa para Taiwan. Americanos e aliados acusam Xi de preparar uma invasão da ilha semelhante à que Vladimir Putin decidiu contra a Ucrânia e, apesar de os contextos históricos serem incomparáveis, o líder chinês já deixou claro que quer Taiwan integrada de qualquer maneira à ditadura continental.

Não o faria agora pelo risco altíssimo, especulam analistas, de trazer os EUA para uma guerra. Washington reconhece o direito chinês sobre a ilha, mas na prática a apoia, equipa com armas e promete proteção militar em caso de agressão. E há o temor do fracasso de uma ação militar, dadas as características complexas do terreno taiwanês.

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