China suspende diálogo militar e negociação contra crise do clima com EUA

Medida vem em resposta à visita de Nancy Pelosi a Taiwan; Casa Branca diz não ter nada a corrigir

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Pequim | Reuters

A ​​China anunciou nesta sexta-feira (5) que suspenderá o diálogo militar e as negociações com os Estados Unidos em diversas áreas, entre elas a de combate à emergência climática. A medida é uma evidente resposta à crise desencadeada pela recente visita da deputada democrata Nancy Pelosi à ilha de Taiwan.

O anúncio foi feito pela chancelaria chinesa em um comunicado que assinala que a presidente da Câmara americana desconsiderou "as sérias repreensões da China". A cooperação contra crimes transnacionais e para a repatriação de imigrantes também será suspensa.

Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, durante visita ao Camboja - Andrew Harnik/Pool - 4.ago.22/AFP

Sanções individuais foram aplicadas contra Pelosi e seus familiares mais próximos, segundo a pasta, mas as medidas não foram detalhadas.

A democrata, mais alta autoridade dos EUA a visitar Taipé em 25 anos, afirmou que sua ida não tinha como objetivo "mudar o status quo" na região. "Mas o regime chinês não está satisfeito que nossa amizade com Taiwan seja forte", destacou, em entrevista coletiva no Japão, onde se reuniu com o premiê Fumio Kishida, na última perna de seu giro pela Ásia.

Em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John ​Kirby, disse que os EUA não têm nada a corrigir em relação à viagem da deputada e que a postura da China de não se envolver com o país em questões críticas, como a mudança climática, é irresponsável.

Ele condenou o anúncio de sanções contra membros da família de Pelosi e afirmou não ser inconsistente o país apoiar determinada política chinesa e a visita feita pela deputada a Taiwan. Kirby disse que os EUA gostariam de ver as tensões com Pequim diminuírem imediatamente, acrescentando que as linhas de comunicação entre os dois países são importantes para evitar erros de cálculo e percepções.

​O secretário-geral da ONU, António Guterres, reforçou essa argumentação, afirmando ser impossível enfrentar os principais desafios do mundo sem diálogo e cooperação entre EUA e China.

A crise gerada pela visita de Pelosi desencadeou o maior exercício militar chinês da história no entorno de Taiwan entre esta quinta (4) —quando 16 mísseis balísticos foram disparados nas águas próximas à ilha— e sexta, com o Ministério da Defesa de Taipé acusando uma mobilização aérea recorde de Pequim.

Em visita ao Camboja para participar do fórum da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, descreveu as respostas chinesas como uma escalada extrema e desproporcional. "Não há justificativa; eles levaram a situação a um novo nível", disse. "Voaremos, navegaremos e operaremos onde a lei internacional autorizar."

A crescente tensão entre Pequim e Washington tem ofuscado o encontro de chanceleres dos países-membros do bloco asiático, inicialmente planejada para se concentrar em questões ligadas a Mianmar, governado por uma junta militar desde o golpe em 2021 e palco de violações de direitos humanos. Representantes de EUA, China, Austrália e Japão também foram convidados.

Relatos feitos à agência de notícias Reuters por participantes do evento dão conta de que o chanceler chinês, Wang Yi, e seu homólogo russo, Serguei Lavrov, deixaram uma sessão conjunta quando seu contraparte japonês, Yoshimasa Hayashi, discursava.

​Wang já havia cancelado uma reunião com Hayashi argumentando descontentamento com a declaração do G7 —grupo que o Japão integra— pedindo que a tensão em Taipé seja resolvida de maneira pacífica.

O texto referido foi publicado na quarta (3) e pedia que Pequim não usasse a força para resolver as diferenças. "Estamos preocupados com as ações ameaçadoras da China; não há justificativa para usar uma visita como pretexto para atividade militar agressiva."

A tensão aumentou depois de Tóquio relatar que cinco dos mísseis lançados por Pequim na quinta caíram em águas da Zona Econômica Exclusiva japonesa. O premiê Kishida disse que os exercícios estavam tendo "um sério impacto na paz e na estabilidade da região e do mundo".​

Serguei Lavrov (dir.), chanceler da Rússia, conversa com seu homólogo chinês, Wang Yi, durante encontro no Camboja - 5.ago.22/Divulgação Ministério das Relações Exteriores da Rússia via AFP

A jornalistas o chanceler Wang Yi classificou as declarações de Blinken de desinformação e disse que a China alertou os EUA "para não agirem precipitadamente e criarem uma crise ainda maior".

Washington convocou o embaixador chinês no país para falar sobre o que John ​Kirby descreveu como ações irresponsáveis para a manutenção da paz. "Também deixamos claro que os EUA estão preparados para o que a China decida fazer", afirmou. "Não seremos impedidos de operar nos mares e céus do Pacífico, como temos feito por décadas, nem de apoiar Taiwan e defender o Indo-Pacífico livre e aberto." A fala faz referência à região entre a costa do oceano Pacífico e a do Índico que abrange países como Japão, Austrália, Indonésia e os próprios EUA, em sua costa oeste.

Na manhã de sexta, a 7ª Frota da Marinha dos EUA, responsável pelas operações no local, publicou fotos no Twitter mostrando caças no convés do porta-aviões USS Ronald Reagan durante o que disse serem operações de voo no mar das Filipinas, a sudeste de Taiwan.

Com The New York Times

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