Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Imagens de satélite indicam ataque preciso contra base russa na Crimeia; veja antes e depois

Perda é maior do que a admitida por Moscou e sugere escalada imprevisível na guerra

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São Paulo

A análise de imagens de satélite da base aérea de Saki, na costa da Crimeia anexada pela Rússia em 2014, mostra que o local foi alvo de um ataque bastante preciso na terça-feira (9).

Moscou até aqui apenas admite uma explosão num depósito de armas, mas tudo indica que a Ucrânia abriu um novo capítulo na guerra com o vizinho, iniciado com a invasão de Vladimir Putin em 24 de fevereiro, com consequências ainda imprevisíveis.

Imagens de satélite indicam ataque preciso contra base russa na Crimeia; veja antes e depois

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Imagens de satélite da Planet Labs mostram efeito do ataque à base aérea de Saki, na Crimeia - @Rob Lee no Twitter

As fotografias divulgadas pela empresa Planet Labs mostram a base na terça, antes do ataque, e nesta quarta (10). É possível contar a destruição de pelo menos cinco caças multifuncionais Su-30 e de seis bombardeiros Su-24, o que equivale a talvez metade das aeronaves ali estacionadas para patrulha no mar Negro.

São aviões usados no esforço de guerra contra a Ucrânia, assim como modelos de transporte pesado Il-76. Mais importante que sua destruição é a forma sugerida nas fotos: eles foram atingidos de forma bastante precisa, e a posição militar ucraniana mais próxima fica a 320 km.

Kiev não tem meios para isso com seu inventário conhecido de mísseis, e seus aviões não penetrariam as defesas russas impunemente. Logo, a sugestão óbvia é de que os EUA ou outros membros da Otan (aliança militar ocidental) forneceram algum tipo de munição guiada por satélite para a Ucrânia.

A distância, contudo, poderia facilitar a visualização da chegada de mísseis. Pode ter sido empregado algum drone menor ou, numa hipótese menos provável, ter havido ação de sabotadores. Tudo isso eleva a barra em termos de confrontação militar entre Moscou e o Ocidente, embora não se saiba qual arma foi usada no ataque. Ao menos uma pessoa morreu, e 13 ficaram feridas.

De uma forma ou de outra, o fato de a Rússia minimizar o ocorrido indica uma avaliação política sobre o episódio, além da evidente questão de propaganda. Algo semelhante ocorreu com o afundamento do cruzador pesado Moskva, em abril.

Nau-capitânia da Frota do Mar Negro, sediada 70 km ao sul da base de Saki, ele foi provavelmente atingido por mísseis antinavio. O Kremlin, contudo, mantém que houve uma explosão acidental. O ataque à base é, militarmente, muito mais importante do que o afundamento do navio, que tinha um papel quase figurativo na guerra.

A outra conclusão possível é que Kiev está se sentindo segura para desferir um golpe direto contra território que a Rússia considera seu. Há oito anos, após o regime pró-Moscou da Ucrânia ser derrubado, Putin promoveu a secessão da majoritariamente russófona Crimeia —com efeito, uma área histórica russa até 1954.

Quando a Folha visitou a região, em 2019, verificou um apoio majoritário dos locais à Rússia, salvo a minoria tártara. Tanto foi assim que lá não houve a guerra civil que marcou o mesmo movimento de separação no Donbass, o leste ucraniano que está na origem do conflito atual.

Até aqui, houve ataques pontuais da Ucrânia a regiões fronteiriças do sul russo, mas nada parecido com a ação de quarta. Kiev, como nos outros casos, não assume a autoria mas faz piada sobre a situação: a conta do Twitter das Forças Armadas ucranianas sugeriu que o "verão está quente" na costa crimeia.

É uma provocação: a costa da região é famosa por suas praias, como as próximas de Novofederovka e de Eupatória. Vídeos feitos na região, atestados por analistas como verdadeiros, mostraram banhistas em pânico com as colunas de fumaça subindo da base logo ao lado. Filas de carros com moradores da região também foram filmadas em direção à Rússia continental.

O presidente Volodimir Zelenski, por sua vez, voltou a dizer que a guerra só acabará com o retorno da península ao controle de seu país. Diplomaticamente, mesmo aliados de Kiev consideram que a Crimeia nas mãos russas é um fato consumado, dado o trabalho de absorção e os talvez US$ 5 bilhões gastos em infraestrutura.

A atual contraofensiva planejada por Kiev contra as áreas controladas pelos russos no sul ucraniano visa restabelecer uma posição favorável para uma futura ação contra a Crimeia.

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