Justiça da Argentina apreende avião venezuelano a pedido dos EUA

Casa Branca diz que Caracas burlou sanções a companhia aérea iraniana

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Buenos Aires | AFP

A Justiça da Argentina aceitou, nesta quinta-feira (11), o pedido dos EUA e apreendeu um avião da empresa Emtrasur –subsidiária da estatal venezuelana de aviação– detido no país desde junho. Os americanos alegam que a Venezuela burlou sanções da Casa Branca ao comprar a aeronave de uma companhia aérea iraniana.

Além disso, alguns dos tripulantes seriam vinculados à força Quds, elite da Guarda Revolucionária do Irã, e ao Hezbollah, grupo islâmico xiita do Líbano. Os Estados Unidos classificam as duas organizações como terroristas. A tripulação é formada por 14 venezuelanos e cinco iranianos –não está claro quantos deles ainda estão na Argentina.

Boeing 747 da companhia aérea de carga venezuelana Emtrasur no aeroporto internacional de Córdoba, na Argentina, antes de decolar para Buenos Aires
Boeing 747 da companhia aérea de carga venezuelana Emtrasur no aeroporto internacional de Córdoba, na Argentina, antes de decolar para Buenos Aires - Sebastian Borsero - 6.jun.22 / AFP

Segundo a Telam, agência pública de notícias de Buenos Aires, o juiz Federico Villena agiu de acordo com o tratado de assistência jurídica mútua em questões penais com os EUA. A promotora do caso, Cecilia Incardona, também era favorável à apreensão.

O avião, do modelo Boeing 747, aterrissou em Buenos Aires em 6 de junho com uma carga de autopeças vinda do México. Antes disso, ele estava no Paraguai, de onde levou cigarros para a ilha caribenha de Aruba.

Quando a aeronave pousou na Argentina, autoridades locais proibiram seu abastecimento e, dois dias depois, a tripulação partiu para Montevidéu. Os uruguaios, porém, não permitiram a entrada do avião no país, que precisou retornar a Buenos Aires. Desde então, o caso estava sob sigilo.

Além da apreensão, a Justiça argentina aceitou a participação de agentes federais dos EUA na inspeção de provas e na análise de documentos vinculados à aeronave. Segundo o jornal argentino La Nación, o FBI esteve no aeroporto ainda nesta quinta.

Agora, ainda conforme a imprensa argentina, os EUA querem o confisco da aeronave –se o processo for confirmado, o avião deixará de ser da empresa venezuelana e será entregue à Justiça americana.

O caso, claro, gerou revolta em Caracas. Nesta quinta, o ministro dos Transportes da Venezuela, Ramon Velasquez Araguayan, e um grupo de deputados se reuniram com o embaixador argentino Oscar Laborde para entregar uma declaração na qual os funcionários da Emtrasur pedem o retorno da tripulação e da aeronave ao país.

Dois dias antes, a Assembleia Nacional da Venezuela aprovou por unanimidade o repúdio à intenção da Casa Branca de "apreender ilegalmente" o avião. Segundo os parlamentares, a detenção é uma resposta de Washington à visita do ditador Nicolás Maduro ao Irã, em junho.

Os legisladores venezuelanos criticaram o presidente da Argentina, Alberto Fernández. "Deixe-o mostrar se é um fantoche do imperialismo ou se realmente governa aquele país", disse o deputado Pedro Carreño. Em uma dessas manifestações, os deputados também criticaram a promotora Incardona, o que foi respondido pela Associações Israelitas Argentinas (DAIA) e pela Procuradoria-Geral da República.

"Os comentários do funcionário venezuelano ocorreram na mesma semana em que o governo de seu país qualificou o ataque terrorista perpetrado contra a República Argentina na sede da AMIA (Associação Israelita Argentina) como um 'falso positivo'", acrescentou um comunicado do DAIA.

Em 1994, uma explosão no o centro judaico da AMIA matou 85 pessoas e deixou cerca de 300 feridas –os argentinos acusam o Irã de apoiar o ataque terrorista.

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