Líder da Palestina diz na Alemanha que Israel cometeu '50 Holocaustos' e recebe críticas

Em Munique, jovem é preso por fazer saudação nazista a atletas israelenses

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Berlim e Jerusalém | AFP e Reuters

Os primeiros-ministros da Alemanha e de Israel condenaram nesta quarta-feira (17) comentários do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, que afirmou que os israelenses cometeram "50 Holocaustos" contra seu povo.

A declaração foi feita por Abbas em Berlim na terça-feira (16), quando questionado sobre a proximidade da efeméride de 50 anos do ataque terrorista contra atletas israelenses por militantes palestinos nas Olimpíadas de Munique, em 5 de setembro de 1972.

O presidente palestino, Mahmoud Abbas, durante entrevista coletiva em Berlim, na Alemanha - Jens Schlueter - 16.ago.22/AFP

"De 1947 [ano da decisão que criaria o Estado judeu] até hoje, Israel cometeu 50 massacres em vilas e cidades palestinas —Deir Yassin, Tantura, Kafr Qasim e muitas outras. Cinquenta massacres, 50 Holocaustos", afirmou.

A fala fez referência a uma série de incidentes e ataques nos quais palestinos foram mortos por israelenses desde a chamada "nakba" —termo usado na Palestina para o êxodo em massa da população que fugiu ou foi expulsa de suas casas na guerra de 1948.

De acordo com um porta-voz do governo alemão, o gabinete do premiê Olaf Scholz convocou o chefe da missão diplomática palestina em Berlim para protestar contra a declaração. "Para nós alemães, em particular, qualquer relativização da singularidade do Holocausto é intolerável e inaceitável", escreveu Scholz no Twitter. "Estou enojado com as observações ultrajantes do presidente palestino."

Políticos alemães em geral destacam o peso da responsabilidade do país no massacre contra judeus na Segunda Guerra, o que fez com que o próprio premiê se tornasse alvo de críticas também —por não ter rebatido antes a declaração de Abbas, dada em um prédio do governo.

O Conselho Central de Judeus da Alemanha chamou a inação imediata de escandalosa, em nota na qual expressou horror pela fala do palestino. Na entrevista conjunta, Scholz havia comentado outra passagem, negando a interpretação, endossada por entidades de defesa de direitos humanos, de que a ação de Israel na Palestina configura um apartheid.

"Temos uma avaliação diferente em relação à política israelense e quero dizer expressamente que não defendo o uso da palavra apartheid e não acho que ela descreva corretamente a situação", disse.

A controvérsia fez com que Abbas depois emitisse um comunicado no qual chamou o Holocausto promovido por nazistas alemães contra os judeus —no qual 6 milhões foram mortos— de "o crime mais hediondo na história moderna da humanidade". Segundo ele, seu comentário não pretendia relativizar o massacre, mas "destacar crimes cometidos contra o povo palestino pelas mãos das forças israelenses".

O premiê israelense, Yair Lapid, também criticou o palestino. No Twitter, escreveu que "Abbas acusar Israel de ter cometido ‘50 Holocaustos’, enquanto pisava em solo alemão, não é só uma desgraça moral, mas uma mentira monstruosa". Segundo ele, "a História jamais irá perdoá-lo".

As tensões entre Israel e Palestina estão acirradas depois de um conflito no começo do mês no qual ataques mirando terroristas do grupo Jihad Islâmico deixaram, segundo o governo da Faixa de Gaza, ao menos 49 mortos, incluindo civis e crianças. Os radicais responderam lançando cerca de mil foguetes. Dias depois da trégua anunciada, operações na Cisjordânia também resultaram na morte de palestinos.

Saudação nazista

Ainda nesta quarta, a polícia de Munique anunciou a prisão de um jovem de 19 anos que fez uma saudação nazista diante de uma delegação de atletas israelenses que participam do Campeonato Europeu de Atletismo.

Homem retoca pintura em memorial que homenageia atletas israelenses mortos na Vila Olímpica de Munique, em 1972 - Ina Fassbender/AFP

Os 16 atletas visitavam um monumento erguido em memória das vítimas do atentado das Olimpíadas de Munique, que matou 11 membros da delegação israelense. Segundo comunicado da polícia, os israelenses não perceberam o gesto, que foi observado por agentes que os acompanhavam.

Na Alemanha, a saudação nazista ou o uso de sinais como a suástica são considerados crimes e podem ser punidos com multas e até três anos de prisão.

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