Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia África

Navio com grãos deixa porto na Ucrânia pela 1ª vez desde o início da guerra

Razoni tem destino final no Líbano, mas fará parada na Turquia para inspeção da embarcação, como prevê acordo

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Kiev e Moscou | Reuters e AFP

Um navio carregado com grãos deixou nesta segunda-feira (1º) a Ucrânia pela primeira vez desde que a Rússia invadiu a região, em 24 de fevereiro, bloqueando o transporte no mar Negro.

A embarcação zarpou do porto de Odessa, um dos mais importantes do país, sob um pacto de passagem segura estabelecido depois que Turquia e ONU intermediaram acordos entre os dois países em guerra no mês passado.

Navio Razoni, carregando 26 mil toneladas de milho, deixa o porto de Odessa, na Ucrânia, com destino final no Líbano - Oleksandr Gimanov - 1º.ago.22/AFP

O navio carrega 26 mil toneladas de milho, segundo a ONU, e estava preso no porto desde 18 de fevereiro. O Razoni, com bandeira de Serra Leoa, deve ancorar em Bósforo, perto de Istambul, nesta terça (2) para ser fiscalizado por autoridades das contrapartes do acordo, segundo o ministro da Defesa turco, Hulusi Akar. Depois, a embarcação levará o carregamento até o Líbano.

No Twitter, Dmitro Kuleba, chanceler ucraniano, descreveu a retomada das exportações como "um dia de alívio para o mundo, especialmente para nossos amigos do Oriente Médio, da Ásia e da África".

Moscou, por sua vez, disse considerar "muito positiva" a saída da embarcação, que simbolizaria a eficácia do acordo. Horas mais tarde, porém, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse considerar cedo para celebrar, alertando que é preciso esperar para ver se haverá garantias de segurança para as operações.

O Razoni foi conduzido por um navio ucraniano por meio de um labirinto de minas construído por Kiev para defender o litoral do país; a Marinha da Rússia, que controla a região, concedeu passagem segura, conforme prevê o pacto.

Entre a tripulação, o sentimento misturava felicidade e receio. "As minas são a única coisa que temo; quanto às outras coisas, estamos acostumados como marinheiros", disse o engenheiro sírio Abdullah Jendi à agência Reuters. Ele contou que está há mais de um ano sem ver a família; quando a guerra estourou, ficou preso no porto de Odessa com a tripulação, vivendo cotidianamente o medo de ataques.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em comunicado esperar que muitos outros navios se movam dos portos, "e que isso traga estabilidade e alívio para a segurança alimentar global". O Programa Mundial de Alimentos planeja comprar e enviar 30 mil toneladas de trigo em um navio fretado.

Rússia e Ucrânia respondem por quase um terço das exportações globais de trigo. O acordo entre os países visa a permitir a passagem segura para a saída e a entrada de grãos nos portos de Tchornomorsk, Odessa e Iujne, aliviando uma crise de escassez de alimentos e a alta de preços no mercado global.

Segundo o ministro da Infraestrutura da Ucrânia, Oleksandr Kubrakov, o desbloqueio dos portos deve fornecer pelo menos US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,17 bilhões) para a economia do país e permitirá que o setor agrícola planeje a temporada de semeadura do próximo ano.

Autoridades disseram que 16 navios estão ancorados nos portos do mar Negro, com quase 600 mil toneladas de carga. Ao todo, cerca de 20 milhões de toneladas de grãos estão retidos.

Em julho, a Ucrânia conseguiu exportar 3 milhões de toneladas de produtos agrícolas por meio de rios e ferrovias, segundo o Grupo de Associações Empresariais Agrícolas informou nesta segunda. A cifra representa metade do valor mensal que o país costumava exportar antes do conflito.

O acordo firmado na Turquia foi concluído após semanas de reuniões e recuos de ambos os lados. Do lado da Ucrânia, o principal entrave era o receio de que a Rússia usasse o pacto para atacar a porção sul do país —menos de 24 horas após a assinatura do documento, Kiev acusou Moscou de bombardear Odessa.

A Ucrânia também aponta o roubo de grãos; ainda nesta segunda, Kiev pediu que o Líbano coopere com a investigação da origem da carga do navio Laodicéia, de bandeira síria, que atracou no porto de Trípoli na última quarta (27) com 10 mil toneladas de cevada e farinha.

Países do Ocidente, em especial membros da União Europeia (UE), acusam a Rússia pela iminente crise alimentar global. Moscou, no entanto, argumenta que o problema está nas sanções impostas contra o país e diz que o envio de armas para Kiev tem intensificado o conflito.

Relatório do Programa Mundial de Alimentos mostra que 345 milhões de pessoas ao redor do mundo enfrentam insegurança alimentar aguda. A situação já era grave antes da eclosão do conflito no Leste Europeu, devido a fatores como a emergência climática e a pandemia de coronavírus, mas a guerra foi a causa direta da inclusão de ao menos 29,8 milhões de africanos nessa estimativa, segundo a ONU.

No front, ataques pontuais foram relatados em cidades da região de Donetsk, como Bakhmut, e em Kharkiv. O Pentágono prometeu o envio de mais ajuda militar a Kiev.


A produção agrícola da Ucrânia

42 milhões de hectares
quantidade de terras agrícolas do país

US$ 27 bilhões
valor das exportações agrícolas do país no ano passado, pré-guerra

46%, 12% e 9%
parcela que o país representa nas exportações globais de óleo de girassol, milho e trigo, respectivamente

342 milhões
número de pessoas em insegurança alimentar aguda no mundo após eclosão da guerra; 69,6 milhões só na África Oriental

3 milhões de toneladas
quantidade de produtos agrícolas exportados em julho, por ferrovias e hidrovias; cifra representa metade do valor mensal pré-guerra

Fontes: Fórum Econômico Mundial, Programa Mundial de Alimentos e Grupo de Associações Empresariais Agrícolas

Com The New York Times

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