Descrição de chapéu terrorismo 11 de setembro

EUA matam Ayman al-Zawahiri, principal líder da Al Qaeda, diz Biden

Chefe do grupo terrorista desde a morte de Bin Laden teria sido atingido por drone no Afeganistão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington

Uma operação militar dos Estados Unidos realizada neste fim de semana no Afeganistão matou o principal líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, 71, confirmou o presidente Joe Biden. Descrito pelo democrata nesta segunda-feira (1º) como "cérebro de ataques contra americanos", Zawahiri atuava como número dois da organização terrorista na época dos atentados de 11 de Setembro, abaixo apenas de Osama bin Laden, e era procurado pelos americanos havia mais de duas décadas.

O ataque em Cabul foi feito com um drone na noite de sábado (30), pelo horário de Brasília, já 6h18 da manhã de domingo no Afeganistão. É, até onde se sabe, a primeira ação militar de Washington no país da Ásia Central desde a caótica retirada das tropas há pouco menos de um ano —que encerrou 20 anos de ocupação, mas devolveu o poder às mãos extremistas do Talibã.

"A justiça foi feita", afirmou Biden. Segundo autoridades americanas, Zawahiri foi atingido com dois mísseis Hellfire quando estava na varanda de um abrigo em uma zona movimentada da cidade. O ataque não teria deixado mais nenhuma vítima.

Ayman al-Zawahiri, em vídeo de 2012 divulgado pela Al Qaeda - AFP

O presidente americano, que tem apresentado resultados positivos em testes para a Covid-19 nos últimos dias, disse que autorizou "um ataque preciso que iria tirá-lo do campo de batalha de uma vez por todas". Sem máscara, ele fez o pronunciamento a distância de um grupo limitado de jornalistas que pôde acompanhar o discurso.

Mais cedo, uma autoridade tinha adiantado à imprensa que os EUA haviam conduzido uma "operação de contraterrorismo contra um alvo importante da Al Qaeda no Afeganistão", completando com a informação de que ela fora bem-sucedida e sem mortes de civis.

Se a precisão alardeada pela Casa Branca for confirmada, o ataque pode se tornar um trunfo para o democrata. Sua política externa em muitos aspectos claudicante é alvo de fortes críticas da oposição e teve nos erros em profusão na retirada de tropas no Afeganistão justamente seu pior momento.

Biden aproveitou o discurso para defender a decisão de agosto do ano passado. "Tomei a decisão de que, após 20 anos de guerra, os EUA não precisavam mais de milhares de soldados no Afeganistão para proteger o país de terroristas que procuram nos prejudicar", disse. "Prometi que continuaríamos a conduzir operações eficazes de contraterrorismo no Afeganistão e em outros lugares. Fizemos exatamente isso."

A exemplo de George W. Bush, Barack Obama e Donald Trump, o atual presidente agora tem um louro a apresentar na chamada guerra ao terror. O pacote pode ter seu valor para um político com popularidade em baixa, que enfrenta inflação recorde às vésperas de eleições de meio de mandato que, até aqui, indicam uma derrota significativa no Legislativo.

Biden chegou a citar os antecessores em seu discurso para enaltecer a importância da operação. "Depois de buscar incansavelmente Zawahiri por anos nos governos Bush, Obama e Trump, nossa comunidade de inteligência o localizou no início deste ano", disse. "Não importa quanto tempo leve, não importa onde você se esconda, se você for uma ameaça para o nosso povo, os EUA vão encontrá-lo e derrubá-lo."

Zawahiri, 71, assumiu o comando da organização terrorista a partir da morte de Osama bin Laden, em 2011. Ele fazia parte do grupo desde os anos 1990 e, à época do 11 de Setembro, era considerado um de seus principais líderes.

Os ataques deixaram quase 3.000 mortos. Desde então o médico passou a ser procurado pelo governo americano, que chegou a oferecer US$ 25 milhões como recompensa por informações que levassem a sua prisão —seu paradeiro era desconhecido.

Egípcio de nascimento, também é tido como responsável por outros ataques a tropas e instituições americanas entre os anos 1990 e 2000. Segundo o governo americano, ele ajudou a planejar um ataque no Iêmen que matou 17 oficiais da Marinha americana. E foi indiciado nos EUA por participar dos bombardeios a embaixadas no Quênia e na Tanzânia em agosto de 1998, que mataram 224 pessoas e deixaram mais de 5.000 feridas.

Ele é o segundo líder de organização terrorista morto com um drone americano em menos de um mês. Em julho, os EUA anunciaram que mataram Maher al-Agal, tido como um dos cinco líderes mais importantes do Estado Islâmico, em uma operação na Síria.

Um porta-voz do Talibã confirmou que um ataque de drone ocorreu em Cabul no fim de semana e afirmou que o episódio "é uma clara violação dos princípios internacionais e do Acordo de Doha [que estabeleceu em 2020 a retirada de tropas americanas do país]". Segundo o grupo, o ataque ocorreu a uma área residencial —o que, de acordo com analistas, sinaliza o conforto que líderes da Al Qaeda encontraram sob o domínio dos extremistas no Afeganistão.

"A natureza do incidente não foi revelada a princípio. As agências de segurança e inteligência do Emirado Islâmico investigaram o incidente e descobriram que o ataque foi realizado por drones americanos", disse o Talibã. "Tais ações são uma repetição das experiências fracassadas dos últimos 20 anos."

Biden destacou que o fato de o terrorista estar em Cabul também configuraria uma violação. Há especulações em relação à possibilidade de o Talibã ter dado abrigo a Zawahiri.

O governo da Arábia Saudita, terra natal de Bin Laden, elogiou a operação. "Zawahiri liderou o planejamento e a execução de hediondas operações terroristas nos EUA e na Arábia Saudita", disse o governo em comunicado. Nos EUA, parlamentares governistas e da oposição fizeram o mesmo. "O mundo está mais seguro sem ele, e esse ataque demonstra nosso compromisso contínuo com a caçada aos responsáveis pelo 11 de Setembro e a quem representa ameaça a nossos interesses", disse o senador republicano Marco Rubio.

O fato de as autoridades de Washington terem se apressado a dizer que não houve mortes de civis na operação em Cabul tem a ver também com o último episódio com um equipamento do tipo, à época da retirada das tropas americanas.

Na ocasião, os americanos miravam células locais do Estado Islâmico e, em uma ação, afirmaram que tinham "eliminado uma ameaça iminente". Um mês depois, no entanto, sob pressão após investigações independentes questionarem o sucesso do ataque, que terminou com a morte de dez civis, incluindo crianças, o governo americano assumiu o que chamou de "erro trágico".


Linha do tempo da Al Qaeda

  • 1988 Osama bin Laden funda a Al Qaeda com uma rede de árabes que lutaram contra a invasão da União Soviética no Afeganistão, iniciada em 1979
  • 1991 O grupo terrorista se opõe à decisão da Arábia Saudita de receber tropas americanas após a Guerra do Golfo e define os EUA seus maiores inimigos
  • 1996 Talibã assume o poder no Afeganistão e oferece refúgio a membros da Al Qaeda
  • 1998 Al Qaeda organiza explosões contra a embaixada dos EUA no Quênia e na Tanzânia, matando 224 pessoas e ferindo mais de 4.500
  • 1999 EUA designam a Al Qaeda como organização terrorista estrangeira
  • 2001 Em 11.set, grupo organiza ataques às Torres Gêmeas, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington. Como resposta, os EUA invadem o Afeganistão
  • 2004 Grupo ligado à Al Qaeda explode dez bombas no metrô de Madri e mata mais de 190 pessoas
  • 2011 Primavera Árabe ajuda a Al Qaeda a atrair mais afiliados na região. Em maio, Bin Laden é morto pelos EUA, no Paquistão, e Ayman al-Zawahiri assume a liderança. O grupo começa a perder espaço para o Estado Islâmico. Paralelamente, os EUA matam vários aliados de Zawahiri e o enfraquecem como líder do grupo terrorista
  • 2019 Donald Trump anuncia a morte do filho de bin Laden, Hamza bin Laden
  • 2021 Os EUA retiram suas tropas do Afeganistão e o Talibã retoma o poder do país. Membros ligados à Al Qaeda assumem funções no novo governo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.