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Presidente do Peru rejeita renúncia de premiê e aprofunda instabilidade

Pedro Castillo anuncia também mudanças em seis ministérios e tenta ampliar diálogo com outras forças políticas

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Lima | Reuters

O presidente do Peru, Pedro Castillo, informou nesta sexta (5) que não aceitou o pedido de renúncia de seu premiê, Aníbal Torres, protocolado há dois dias. Com isso, ele não terá que buscar um novo voto de confiança do Congresso, eliminando um risco importante.

A decisão vem após uma série de reuniões durante o dia entre o mandatário e nomes importantes da política peruana. Duas delas haviam sido com ministros de gestões anteriores, em um sinal de que o presidente tenta aumentar seu campo político.

Presidente do Peru, Pedro Castillo, chega à promotoria em Lima
Presidente do Peru, Pedro Castillo, chega à promotoria em Lima - Ministério Público do Peru - 3.ago.22/AFP

"Não aceitei a demissão do primeiro-ministro Aníbal Torres, que promete continuar trabalhando pelo nosso país", escreveu o presidente em seu perfil no Twitter.

Castillo também colocou em prática mais uma reforma ministerial e anunciou a troca de seis ministros nas pastas de Relações Exteriores, Economia, Habitação, Trabalho, Transportes e Cultura. Alguns nomes já haviam chefiado outros ministérios, inclusive em sua gestão.

Alejandro Salas, o novo titular da pasta de Trabalho, por exemplo, era ministro da Cultura. Geiner Alvarado, que agora está à frente dos Transportes, antes chefiava o ministério de Habitação e Construção.

Já o novo titular da Economia, Kurt Burneo, ex-chefe do Banco Central, foi ministro da Produção no governo do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016). "Temos que retomar a confiança dos agentes econômicos, e isso depende da claridade do que propusermos para reativar a economia", disse a jornalistas após assumir o ministério.

Na quarta, quando renunciou ao cargo de premiê, Torres alegou "problemas pessoais". Ele estava na gestão federal desde o início, inicialmente como ministro da Justiça, e assumiu o cargo de premiê em fevereiro, como uma espécie de pacificador na articulação com o Congresso. Os seis meses fizeram dele o titular que mais tempo ficou na função no mandato de Castillo, iniciado em julho do ano passado.

A recusa do presidente em aceitar a renúncia foi criticada por membros da oposição. A deputada Patricia Juarez, do Fuerza Popular, disse que a decisão demonstra "que o círculo próximo de Castillo está cada vez mais pequeno, privilegia amizades e não está interessado no Peru". "Mergulhamos em uma nova crise", escreveu no Twitter.

Na quinta-feira (4), Castillo convidou políticos de outros partidos para se juntarem ao governo. "Abro este espaço para os demais partidos políticos para que de uma vez por todas possamos criar um gabinete de base ampla para trabalhar para o Peru", afirmou a jornalistas.

Outras legendas, porém, ainda não manifestaram se aceitarão entrar no governo. O deputado sem partido Carlos Anderson ironizou as declarações do presidente. "Que pessoa decente vai para o gabinete de um governo que está enfrentando tantas acusações?", questionou ao jornal peruano El Comercio.

O presidente tem cinco inquéritos correndo contra ele. Entre os possíveis crimes investigados pelo Ministério Público estão supostos esquemas de corrupção em obras públicas e tráfico de influência em um contrato de compra de combustível. Pesquisas apontam que ele é reprovado por 74% dos eleitores.

Em meio ao desgaste, ele é alvo também de investigação por plágio em sua dissertação de mestrado. Presidentes peruanos podem ser investigados enquanto estiverem no cargo, mas a legislação impede que sejam acusados.

No ano passado, Castillo contou com o voto de rejeição aos políticos tradicionais, em meio a uma crise de representação anterior ao pleito. Dos últimos quatro eleitos, apenas um presidente empossado conseguiu terminar o mandato sem renunciar ou sofrer impeachment.

Diferentemente de seus antecessores, o esquerdista parece protegido dos processos de vacância pelo fato de o Congresso estar fragmentado e não ter conseguido, até aqui, juntar os 87 votos (dos 130 deputados) necessários para tirá-lo —ainda que não tenham faltado tentativas.

Em um ano de poder, o líder peruano mudou de partido após ser acusado pelos ex-correligionários de não ter colocado em prática o programa da legenda nem ter cumprido as promessas eleitorais. A sigla, inclusive, chegou a declarar oposição ao governo.

Como se a crise não pudesse piorar, o Congresso do país negou autorização para que Castillo participe da cerimônia de posse de Gustavo Petro na Colômbia no próximo domingo (7).

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