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Senadora fã de Bolsonaro e de Trump desponta como líder de oposição a Petro na Colômbia

María Fernanda Cabal defende armas e critica esquerda, mas rejeita religião e apoia políticas de gênero

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Bogotá

Se Gustavo Petro representou um novo paradigma na Colômbia ao se tornar o primeiro esquerdista no poder, a saída de cena do ex-presidente Álvaro Uribe tem permitido a ascensão de uma nova geração de líderes de direita no país. À frente deles está a senadora María Fernanda Cabal, 57, que deve ser a principal voz da oposição ao recém-empossado mandatário.

Mulher mais votada para o Senado na eleição deste ano, ela é conhecida por seu estilo tido como politicamente incorreto e pela aversão à esquerda. Quando o Nobel de literatura Gabriel García Márquez (1927-2014) morreu, por exemplo, Cabal publicou em suas redes uma foto do autor ao lado de Fidel Castro dizendo: "Logo estarão juntos no inferno". O ditador cubano morreu em 2016.

"Se a esquerda desapontar, a tendência é que nas próximas eleições a direita radical volte com ainda mais força. Uma direita dita moderada, como a que representava Iván Duque, está hoje associada ao fracasso na cabeça de muitos colombianos", diz à Folha o cientista político Álvaro Duque.

A líder da oposição a Gustavo Petro no Senado colombiano, Maria Fernanda Cabal, em entrevista coletiva após a posse do esquerdista - Daniel Muñoz - 8.ago.22/AFP

Uribe, por sua vez, vai consolidando sua perda de território político enquanto responde a processos na Justiça. Cabal vem fazendo sua carreira política pelo Centro Democrático, partido criado pelo caudilho, mas tem o criticado de modo cada vez mais aberto —em especial desde que ele mostrou preferência por Óscar Iván Zuluaga como candidato à Presidência nas primárias.

Desde então, a senadora ensaia voo próprio junto a uma militância juvenil organizada pelo filho, Juan José Lafaurie, cujo slogan é Soy Cabal. No dia seguinte à posse de Petro, ela disse que estava pronta para representar a "meia Colômbia" que não tinha votado pelo atual mandatário.

Criticou, ainda, o momento em que o novo presidente interrompeu a cerimônia para mandar buscar a espada de Simón Bolívar que estava guardada na Casa de Nariño e que Duque não havia liberado com antecedência. O objeto é um símbolo importante para o ex-guerrilheiro porque havia sido roubada pelo M19 em 1974 e devolvida apenas em 1991, como parte de um acordo de paz.

Para Cabal, a cena foi prova de que o esquerdista é um "discípulo digno de [Hugo] Chávez" e que a espada era "apenas para impressionar, porque Petro quer mesmo é desarmar a todos". A favor da posse de armas por parte da população civil, ela afirma que o presidente se contradiz.


"Ele não quer que a posse seja legalizada, claro, porque tinha armas quando elas eram ilegais. A verdade hoje é que os colombianos precisam de armas para defender sua vida. O desarmamento total é a exposição de inocentes nas mãos de criminosos."

Eleita pela primeira vez para o Senado em 2014, Cabal se uniu aos que defenderam o "não" no plebiscito pelo acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). É contra a Justiça Especial, estabelecida pelo documento e que oferece penas reparatórias, não de prisão, para ex-combatentes. "Um país só existe se as leis forem iguais para todos", diz.

Nascida em Cali de uma família de proprietários de terra, Cabal é casada com o presidente da Federação Colombiana de Criadores de Gado, José Félix Lafaurie. Seus avós e bisavós são das famílias Cabal e Molina, que se casam entre si há gerações; seus pais são primos de primeiro grau.

Sua cidade natal foi um dos epicentros dos protestos contra o governo em 2021, e na ocasião Cabal liderou um movimento de resistência dos habitantes do condomínio particular onde vive, que terminou em disparos contra um grupo de indígenas. A popularidade ganha no episódio garantiu sua reeleição em 2022.

Ela se define como anticomunista e admiradora do brasileiro Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente americano Donald Trump. Desbocada, foi expulsa de um colégio de freiras quando adolescente por falar palavrões e não querer obedecer a regras. Diferentemente de suas duas referências, porém, rejeita a religião, porque diz que a igreja está associada a "grupos terroristas como o ELN [Exército de Libertação Nacional, única guerrilha ainda ativa na Colômbia] e o ETA [grupo do País Basco também desmobilizado]".

A senadora ainda destoa dos conservadores colombianos por ser uma defensora de políticas de gênero, tendo ajudado a aprovar a lei que tipifica o crime de feminicídio no país.

Nas últimas semanas, ela tem se dedicado a criticar as nomeações de Petro para o ministério, dirigindo insultos a figuras como Gloria Inés Ramírez, ministra do Trabalho e tida como admiradora do equatoriano Rafael Correa e do boliviano Evo Morales. "Essa é uma militante vermelha incoerente. Chávez matou de fome seu próprio povo. Estamos rodeados de esquerdopatas."

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