Rudolph Giuliani é alvo de investigação por interferência eleitoral, dizem advogados

Parlamentares fazem cobranças sobre busca na casa de Trump, e Departamento de Justiça rejeita divulgação de documento

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São Paulo

A defesa do advogado Rudolph Giuliani foi informada que o aliado do ex-presidente dos EUA Donald Trump é um dos alvos da investigação que apura a tentativa do republicano de interferir no resultado eleitoral da Geórgia em 2020.

O estado, em que Joe Biden teve uma margem de vitória de menos de 12 mil votos no pleito presidencial, foi um dos principais alvos de Trump para tentar reverter sua derrota. Giuliani, ex-prefeito de Nova York, surgiu nas últimas semanas como figura central da investigação conduzida no condado de Fulton, segundo reportagem do jornal The New York Times desta segunda (15).

De acordo com a publicação, o advogado deve ser interrogado na quarta (17) por um júri do caso —que nos EUA pode decidir se há evidências para a abertura de um processo. Sua defesa, porém, adiantou que ele alegaria o sigilo profissional para não responder a questões sobre sua relação com Trump.

Rudy Giuliani em evento eleitoral em Nova York - Spencer Platt - 28.jun.22/Getty Images/AFP

Giuliani é um dos maiores porta-vozes das alegações do ex-presidente de que houve fraude na eleição de 2020 –a Justiça americana nunca encontrou nenhum sinal de que tenha ocorrido algo do tipo. No ano passado, um tribunal de Nova York suspendeu a licença do advogado, alegando que ele fez "declarações comprovadamente falsas e enganosas" sobre o caso.

O cerne da investigação que agora atinge o ex-prefeito é uma ligação feita por Trump ao então secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, em 2 de janeiro de 2021. Na chamada telefônica, o político teria pedido ao secretário para "encontrar" 11.780 votos necessários para reverter sua derrota. Segundo os promotores do caso, Giuliani também conversou com Raffensperger sobre o assunto.

Analistas dizem que as conversas podem configurar ao menos três violações à legislação da Geórgia: conspiração para fraudar eleição; solicitação de crime para fraudar eleição; e interferência intencional no desempenho de funções eleitorais. O Departamento de Justiça dos EUA também investiga o caso.

Ainda nesta segunda, a Justiça americana negou um pedido do senador Lindsey Graham para anular seu depoimento sobre o episódio. O republicano é aliado do ex-presidente e será ouvido como testemunha.

Os reveses se somam a um cerco promovido nos últimos dias a Trump, a partir da operação do FBI, a polícia federal americana, em seu resort, na Flórida, no último dia 8. Desde então, aliados do ex-presidente pressionam a Casa Branca a divulgar os documentos que listam os motivos para o mandado de busca.

Também nesta segunda, porém, o Departamento de Justiça se opôs à divulgação do material argumentando que isso poderia comprometer futuras etapas da investigação. A abertura do processo foi solicitada judicialmente por veículos de imprensa dos EUA e, agora, o mesmo mesmo juiz que autorizou a operação decidirá sobre a eventual transparência dos documentos.

"Informações sobre testemunhas são particularmente sensíveis, dados a natureza do assunto e o risco de que a revelação da identidade de testemunhas impacte sua disposição de cooperar", disse o órgão em nota.

Um dia antes, líderes do Comitê de Inteligência, órgão bipartidário do Congresso, pediram para ter acesso ao material sigiloso que foi encontrado na casa de Trump na operação do FBI. A abertura da investigação é incomum e exigiria a aprovação judicial, segundo a agência Reuters.

A solicitação, feita pelo democrata Mark Warner e pelo republicano Marco Rubio, também inclui avaliação sobre potenciais danos à segurança nacional em função de possível manuseio incorreto dos papéis, segundo um porta-voz do órgão encarregado de supervisionar o tratamento de informações confidenciais.

O pedido integra a intensificação da pressão parlamentar por detalhes sobre o conteúdo dos arquivos e a inédita operação policial no imóvel do político na Flórida.

Trump é investigado por possíveis crimes de espionagem, obstrução da Justiça e destruição de materiais do governo. No último dia 8, agentes do FBI retiraram 20 caixas de sua mansão em Mar-a-Lago, contendo 11 conjuntos de documentos com algum tipo de classificação sigilosa. Alguns pertenciam a categorias que só autorizam a visualização dentro de instalação segura do governo. O conteúdo dos arquivos, porém, ainda é desconhecido.

O deputado Mike Turner, principal republicano no Comitê de Inteligência da Câmara, disse à CNN que o governo de Joe Biden deveria fornecer mais detalhes sobre o que motivou a busca. "O Congresso está dizendo: 'Mostre-nos. Queremos saber: o que o FBI disse? O que eles encontraram?'."

De acordo com o jornal Financial Times, o líder democrata do Comitê de Inteligência, Adam Schiff, pediu que seja feita uma revisão dos danos aos interesses dos EUA devido à decisão de Trump de manter um "tesouro de materiais secretos" após deixar a Casa Branca.

"O fato de que eles estavam em um lugar inseguro, guardado com nada mais do que um cadeado, é profundamente alarmante", declarou à CBS.

A imprensa americana cita que nos documentos pode haver informações sobre pesquisas nucleares —o que Trump nega. Nesta segunda, o ex-presidente afirmou que o FBI confiscou três passaportes seus durante a operação. "Trata-se de um ataque a um adversário político em um nível nunca antes visto no nosso país. Terceiro Mundo!", escreveu na Truth Social, plataforma que ele criou.

Na quinta (11), o secretário de Justiça Merrick Garland foi à TV dizer que aprovou pessoalmente a operação, indicando só ter tomado a decisão após tentar medidas menos invasivas.

Paralelamente, o FBI e o Departamento de Segurança Interna têm notado um aumento das ameaças a agentes após a busca na casa de Trump. Na sexta, um homem da Pensilvânia foi preso sob a acusação de ameaçar agentes da polícia federal. Um dia antes, policiais mataram um homem armado que tentou invadir o prédio do FBI em Ohio.

Em comunicado, a polícia federal disse estar sempre preocupada com ameaças à aplicação da lei e que trabalha com outras agências para avaliar e responder a tais questões.

O deputado republicano Brian Fitzpatrick, ex-agente do FBI e promotor da Pensilvânia, disse estar preocupado com a segurança dos agentes. À CBS ele disse que a operação "foi uma ação sem precedentes, que precisa ser apoiada por uma justificativa sem precedentes".

Com Reuters

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