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Surto de Covid no 'Havaí da China' coloca turistas em lockdown

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Igor Patrick

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Pelo menos 80 mil turistas estão presos em Hainan, província no extremo sul da China, após um surto de Covid-19 colocar a ilha considerada o 'Havaí da China' em um estrito lockdown para conter o espalhamento do vírus. As medidas foram implementadas após testes de rotina identificarem 483 casos positivos na cidade balneária de Sanya em um único dia.

No último fim de semana, o governo ordenou o cancelamento de todos os voos para a região e o isolamento dos turistas em seus respectivos hotéis. Bares, restaurantes e spas foram fechados e o acesso às praias foi proibido na segunda-feira (15).

Passageiros mostram resultado de teste de Covid-19 no aeroporto da cidade de Sanya, no sul da província chinesa de Hainan - Guo Cheng/Xinhua

Ainda no fim de semana, a vice-premiê da China Sun Chunlan visitou a ilha e pediu melhor coordenação de recursos e "medidas firmes e decisivas" para zerar a transmissão comunitária. Ela também solicitou que líderes locais acelerem a construção de hospitais de campanha e apresentem um plano para converter hotéis em centros de quarentena centralizada, além de otimizar a coleta e a testagem de amostras.

Sun é usualmente vista viajando para regiões com surtos da doença apenas quando a situação é preocupante, o que alarmou a população local. Boa parte das dezenas de resorts e hotéis de luxo está ocupada por turistas que aproveitam o verão em um dos destinos de férias mais populares do país. A ilha não possui hospitais à altura de metrópoles como Pequim e Xangai, o que dificulta o tratamento de pessoas doentes.

Na quarta-feira (17), autoridades sanitárias disseram que turistas só poderão deixar a ilha após apresentarem resultado negativo em testes de Covid por cinco vezes consecutivas em uma semana. Hotéis anunciaram descontos de 50% nas diárias adicionais de quem ficou preso por lá, mas até agora não há nenhuma palavra sobre perdoar a dívida dos turistas que não podem arcar com os gastos extras.

Por que importa: A província de Hainan e sobretudo sua cidade mais popular, Sanya, são frequentemente referidas pelos locais como "Havaí chinês". A área tem hotelaria de luxo, restaurantes premiados e é um popular destino costeiro para gente do país inteiro. Após o início da pandemia, tornou-se ainda mais procurada por chineses ricos impedidos de deixar o país devido ao fechamento de fronteiras.

  • Desde 2020, a ilha era considerada um modelo de gestão da doença e jamais chegou a registrar mais de 12 casos diários de Covid.

Além de um peso financeiro indigesto para quem não consegue sair, o surto atual também será um duro golpe ao setor de turismo local, que nunca se recuperou totalmente da pandemia e que, com a diminuição de visitantes estrangeiros, tentava se reerguer com o público doméstico.

Dica da semana:
Falando em turismo, o SupChina traz nesta semana um artigo histórico muito interessante que explica como setor desenvolvido primordialmente para agradar estrangeiros residentes na China republicana se tornou um motor do nacionalismo na década de 1920, logo após uma ferrovia estatal comprar um famoso hotel em Xangai até então proibido para locais.

o que mais importa

Xi Jinping pode estar de malas prontas para visitar a Arábia Saudita na próxima semana, a primeira viagem internacional do líder chinês desde 2019.

A informação é do jornal britânico The Guardian, que reporta grandes preparativos para a recepção do convidado. Xi deve passar por Jidá, pela cidade planejada Neom e pela capital Riad. A ideia é oferecer a ele uma visita com todas as honras de Estado, semelhante à ocorrida em 2017 com Donald Trump logo após a chegada do republicano à presidência americana.

Xi foi convidado pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman ainda em março. Se acontecer (a chancelaria chinesa evitou comentar o tema com jornalistas), a visita deve ser benéfica a ambos:

  • Para Pequim, solidifica as relações com um dos maiores produtores de petróleo no mundo e ajuda a projetar a influência chinesa na região, sem riscos de protestos por direitos humanos ou questionamentos sobre suas estratégias militares;
  • A capital Riad poderá consolidar uma importância estratégica para além dos interesses americanos, seus tradicionais parceiros há décadas.

Um a cada cinco jovens chineses entre 16 e 24 anos em áreas urbanas está desempregado, reportou o Departamento Nacional de Estatísticas da China (NBS, na sigla em inglês) nesta semana. A taxa, que subiu 0,6 ponto percentual e alcançou 19,9% em julho, representa o pior resultado desde que o órgão passou a publicar os dados de desemprego juvenil em 2018.

O NBS diz que os lockdowns para conter a Covid-19 e a dificuldade em recuperar a economia diminuíram a oferta de empregos, sobretudo no setor de serviços, que historicamente absorve a maior parte da juventude urbana.

Micro e pequenas empresas também foram forçadas a promover demissões em massa em áreas como educação e tecnologia depois de novas regulações governamentais diminuírem as expectativas de crescimento.

Na tentativa de conter o problema, o premiê Li Keqiang tem realizado reuniões ministeriais e, nesta semana, visitou a província de Cantão, no sul do país. Por lá, Li cobrou austeridade fiscal das autoridades e pediu "equilíbrio entre receita e despesa, novas formas de impulsionar o investimento e o consumo e maneiras mais criativas de promover abertura econômica de alto nível com a utilização de investimento estrangeiro".

fique de olho

A China voltou a incentivar que governos locais invistam mais em saúde reprodutiva e assistência infantil. Através da Comissão Nacional de Saúde, autoridades foram orientadas a oferecer tratamentos de fertilidade, subsídios, planos de saúde mais abrangentes, descontos em aluguéis, linhas de crédito para compra de imóveis e até incentivos fiscais para famílias que desejam ter mais de um filho.

Por que importa: Há duas semanas, a China admitiu pela primeira vez que sua população vai começar a encolher em 2025. Com uma taxa de fertilidade de 1,16 (bem abaixo da média nos países da OCDE, de 2,21), o país passará a lidar ainda com um rápido envelhecimento demográfico: em 13 anos, espera-se que a população acima de 60 anos corresponda a mais de 30%, reduzindo a mão de obra ativa no mercado de trabalho e pressionando serviços de saúde e o sistema de pensão.

As estatísticas indicam que a China está passando por uma acelerada transição demográfica antes de conseguir saltar da renda média para a renda alta, o que pode representar uma catástrofe econômica nas próximas décadas. Ciente do problema, o governo —que até 2015 implementou firmemente a política do filho único— agora corre contra o tempo para estimular novos nascimentos.

para ir a fundo

  • A semana que passou foi marcada por mais uma comemoração anual da imigração chinesa no Brasil. O especialista e pesquisador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Rio, Daniel Veras, falou sobre o tema à Rádio Internacional da China (gratuito, em português)
  • A economia chinesa está à beira de uma crise? O Sul21 publica artigo que detalha as medidas tomadas pelo Partido nos últimos meses e quais seriam as consequências domésticas e internacionais. (gratuito, em português)
  • O pesquisador Carlos Ungaretti escreveu uma análise abrangente sobre a transição energética na China e as lições para outros países do Sul Global. (gratuito, em português)
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