Tensão em torno de polarização política piora visão do Brasil na mídia estrangeira

Análise em reportagens sobre o país tem leve alta de menções negativas em julho

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Daniel Buarque Fabiana Mariutti
São Paulo | Interesse Nacional

A tensão em torno da disputa política no Brasil voltou a ganhar destaque na imprensa internacional na última semana, impulsionando reportagens de tom negativo sobre o país. Apesar de a maior parte da visibilidade externa do Brasil na mídia estrangeira manter um tom neutro ao longo das últimas semanas, o início de agosto viu o crescimento das menções críticas ao país, com possível prejuízo da sua imagem.

A coleta de dados do Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil) encontrou na última semana de julho o total de 54 artigos com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos estrangeiros analisados. O período registrou 54% de textos de tom neutro, sem impacto direto e evidente na imagem do país no exterior, leve alta na proporção dos textos de tom negativo (33%) e estabilidade nos positivos (13%).

A semana registrou uma das menores visibilidades do Brasil nos jornais de EUA, Reino Unido e França, com apenas duas reportagens com citação de destaque ao país no New York Times, no Guardian e no Monde. Também foi baixa a visibilidade na China, com apenas três citações de destaque no China Daily. Em compensação, o jornal português Público deu destaque ao Brasil em 24 artigos (45% do total de citações registradas na semana).

Pedestre passa em frente a toalhas com o rosto do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes - 20.jul.22/Reuters

A abordagem negativa se destacou especialmente em editorial publicado pelo jornal de Portugal. A publicação diz que o Brasil tem um "futuro incerto" e que a tensão da campanha cria um clima perigoso, em que podem ser registrados episódios de violência entre os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus opositores.

"O discurso bolsonarista tem vindo a ser repetido, à laia de ameaça, desde as alegações de que pode ser vítima de uma fraude à possibilidade de incentivar actos de violência, a fazer lembrar o 6 de Janeiro em Washington", diz o texto. Seguindo a mesma linha, outra reportagem diz que uma "onda de violência durante o período eleitoral brasileiro parece inevitável".

Segundo a publicação: "retórica agressiva por parte de Bolsonaro junto dos seus apoiantes e circulação maciça de armas de fogo entre a população criam cenário explosivo".

Em uma abordagem parecida, artigo publicado no espanhol El País diz que o Brasil começa a reagir ao que descreve como "barbárie", enquanto a sociedade civil se organiza em manifestos contra a ameaça de um golpe de Estado no país.

A questão ambiental também continua sendo um dos principais enfoques da cobertura sobre o Brasil na imprensa internacional, especialmente nos EUA e na Europa. Na última semana, o jornal americano The New York Times publicou uma reportagem com os resultados de uma investigação sobre pistas clandestinas usadas por aviões na Amazônia.

Os jornalistas identificaram centenas de pistas desse tipo usadas pelo garimpo ilegal, o que está afetando especialmente regiões indígenas que deveriam ser protegidas. "Centenas de pistas de pouso foram construídas secretamente em áreas protegidas do Brasil para alimentar a indústria do garimpo ilegal", diz. Pelo menos 61 dessas pistas estão somente no território dos yanomamis.

Enquanto isso, o britânico The Guardian continua publicando reportagens sobre a investigação a respeito do assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, no Vale do Javari.

O principal destaque positivo da projeção internacional do país ao longo da semana foram as homenagens ao humorista Jô Soares, que morreu aos 84 anos. Somente no Público foram pelo menos seis artigos sobre a importância e o legado do brasileiro, chamado de "lenda do humor". Até mesmo o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, se pronunciou no jornal do país sobre a perda, alegando que Jô "fez rir e pensar durante anos".

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 54 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.

Na maioria das semanas, entretanto, o total de citações de destaque ao país não passou de 50, mas a média é puxada para cima especialmente pelas três semanas de junho, em que se registrou o desaparecimento e a morte de Dom e Bruno, quando foi registrado o pior momento do resultado geral do iii-Brasil. O caso aumentou muito o volume da cobertura de imprensa sobre o país no exterior.

Ao longo do levantamento das últimas 18 semanas, o iii-Brasil registrou em média 48% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 13% de textos positivos sobre o país.

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