Tensão no Iraque cresce com ato contra invasão do Parlamento e acusação de golpe

Divisão entre grupos políticos xiitas pró e contra clérigo Moqtada al-Sadr se acentua

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Bagdá | Reuters e AFP

Milhares de manifestantes se reuniram nesta segunda-feira (1º) ao redor da zona fortificada de Bagdá, onde ficam embaixadas e prédios do governo, para protestar contra a ocupação do Parlamento do Iraque por apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr.

O ato, de opositores de Al-Sadr, adiciona mais um capítulo à já tensa crise política do país. Os grupos muçulmanos xiitas rivais são afiliados a milícias fortemente armadas, o que gerou temores de que o protesto e o contraprotesto pudessem levar a confrontos violentos.

De acordo com os organizadores das manifestações —que incluem partidos e milícias alinhados ao Irã— o movimento desta segunda visa a proteger as instituições estatais da agitação civil encampada por seus adversários, que é vista como tentativa de golpe.

Manifestantes fazer protesto ao redor da chamada zona verde de Bagdá contra a ocupação do Parlamento do Iraque por apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr - Ahmad Al-rubaye - 1.ago.22/AFP

"Não queremos um golpe de Estado contra a Constituição", disse Ahmed Ali, um manifestante de 25 anos. "O Parlamento é do povo, de todos os iraquianos, não de um grupo", lamentou.

Na última semana, partidários de Al-Sadr ocuparam o Parlamento iraquiano duas vezes em quatro dias. Durante a segunda invasão, no sábado (30), pelo menos 125 pessoas ficaram feridas após confrontos.

Com a permanência dos manifestantes no local, grupos contrários à ocupação se reuniram do lado de fora da chamada zona verde e atiraram pedras na polícia, que respondeu por trás das barreiras de concreto com canhões de água.

Pessoas agitaram faixas pedindo a queda do primeiro-ministro Mustafa al-Kadhimi, que assumiu em 2020 após uma série de protestos levarem à renúncia de Adel Abdul Mahdi e permanece no cargo como uma espécie de tampão, enquanto os grupos políticos não se entendem sobre a formação de um novo governo.

Mais tarde, os manifestantes se dispersaram, depois de um pedido do líder da Qais al-Khazali —facção apoiada pelo Irã—, que agradeceu a todos pela participação.

Um comandante de uma milícia pró-Irã disse à agência Reuters que temia confrontos e esperava que a calma prevalecesse, definindo a situação no Iraque como muito difícil, à beira de "uma luta entre irmãos".

Os atos anti-Sadr desta segunda aumentam a tensão que se acumula há quase dez meses no país. Desde a eleição de outubro de 2021, o Iraque vive um período recorde de imobilidade, com mais de 290 dias sem um presidente e um primeiro-ministro efetivo.

O pleito havia confirmado o partido ligado a Al-Sadr como maior força do país, mas o clérigo retirou de cena seus 74 parlamentares (de um total de 329 na Casa) no mês passado, depois de não conseguir formar um governo que excluísse os rivais xiitas.

Esses partidos herdaram os assentos, mas o religioso indicou que poderia mobilizar sua base de apoio —que inclui uma milícia própria— para protestos caso uma coalizão que ele desaprovasse fosse costurada. Seus partidários, então, manifestaram rejeição aos nomes de Nouri al-Maliki, acusado de ser corrupto, e de Mohammed al-Sudani, visto como preposto do ex-premiê.

Os sadristas pedem novas eleições e o fim do sistema político vigente desde a queda de Hussein. O Iraque tem um sistema pelo qual se convencionou que os partidos xiitas, que representam a maioria demográfica, ocupam o cargo de primeiro-ministro; os curdos, a Presidência; e os sunitas, a chefia do Parlamento.

A paralisia deixou o país sem Orçamento para 2022, atrasando reformas econômicas e investimentos em infraestrutura tidos por analistas como cruciais para o país superar décadas de conflitos. A população afirma que a situação exacerba um quadro de desemprego, ainda que o cenário seja de receitas crescendo, em meio à alta nos preços do petróleo, e relativa paz desde a derrota do Estado Islâmico.

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