Bolsonaro lamenta ataque a Cristina, cita facada e diz que agressor não sabia mexer com arma

Demora em pronunciamento foi alvo de críticas e junta-se a série de rusgas com lideranças argentinas

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Porto Alegre e Esteio

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) lamentou nesta sexta-feira (2) o ataque sofrido pela vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na noite de quinta (1º). Ao falar sobre o caso, ele relembrou a facada que sofreu na campanha de 2018 e ironizou tentativas de vinculá-lo ao episódio.

"Já mandei uma notinha. Eu lamento. Agora: quando eu tomei a facada, teve gente que vibrou por aí. Lamento. Já teve gente que tentou colocar na minha conta já esse problema. O agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso no intento", disse Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) durante evento em Esteio (RS) - Silvio Avila - 2.set.22/AFP

Diferentemente do que o presidente insinuou, a facada que ele sofreu em campanha motivou diversas mensagens em solidariedade de políticos rivais. Os principais candidatos da eleição presidencial daquele ano se manifestaram em suas redes sociais, e Fernando Haddad (PT), com quem Bolsonaro disputaria o segundo turno, repudiou "totalmente qualquer ato de violência" e desejou-lhe "pronto restabelecimento".

"Apesar de não ter nenhuma simpatia por ela [Cristina], não desejo isso para ela. Espero que a apuração seja feita para ver se saiu da cabeça dele [do agressor] ou se alguém, porventura, tenha contratado ele para fazer aquilo." O caso tem sido tratado pela polícia argentina como tentativa de homicídio qualificado.

A nota a que o presidente se referiu foi divulgada cerca de duas horas depois pelo Itamaraty. O texto diz que o governo brasileiro "condena o injustificável ato de agressão" contra Cristina.

"O Brasil repudia toda e qualquer forma de violência com motivação política e reitera seu invariável respaldo à irmã nação argentina", diz o comunicado.

O silêncio público de Bolsonaro até o começo desta tarde foi alvo de críticas de um senador argentino em entrevista à Folha.

O mesmo parlamentar descartou eventuais ligações entre o ataque a Cristina e o bolsonarismo. "Sabemos que Bolsonaro vem fazendo declarações contra o peronismo, mas daí a associar as atitudes do agressor ao bolsonarismo é precipitado e raso", disse Luis Naidenoff, da União Cívica Radical, da oposição ao governo de Alberto Fernández e Cristina.

A declaração de Bolsonaro foi dada a repórteres durante visita do presidente à Expointer, feira agropecuária em Esteio (RS). Ele deve ficar na cidade até este sábado (3). A fala se soma a uma série de rusgas entre o presidente brasileiro e as lideranças argentinas.

Bolsonaro tinha bom relacionamento com o antecessor de Fernández, o direitista Mauricio Macri. Mas desde que o atual presidente foi declarado eleito, a posição do brasileiro muitas vezes foi combativa.

Em 2019, ao tomar conhecimento da vitória de Fernández nas urnas, o brasileiro disse que a "Argentina escolheu mal" e que não o parabenizaria pela vitória eleitoral.

À época, Bolsonaro também rompeu uma tradição diplomática e decidiu não ir à posse de seu homólogo argentino. Chegou a dizer que não mandaria nenhum representante à cerimônia, mas depois mudou de ideia e enviou seu vice, Hamilton Mourão (Republicanos). Em geral, o presidente tem reagido da mesma forma a avanços da esquerda na América Latina, o que amplia seu isolamento na região.

No ano passado, Bolsonaro reagiu a uma declaração racista do presidente argentino —ele disse que os brasileiros vieram da selva, e os argentinos, da Europa— e o comparou ao ditador da Venezuela. "Acho que o [Nicolás] Maduro e o Fernández, para eles não tem vacina", disse Bolso naro.

O ataque sofrido por Cristina ocorreu na noite desta quinta-feira. Imagens mostram a ex-presidente sendo saudada por uma multidão de apoiadores ao sair do carro próximo a sua casa, no bairro da Recoleta, quando um homem se aproxima e atira com uma pistola a menos de 1 metro do rosto dela.

O homem, identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, é um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais e será indiciado por tentativa de homicídio qualificado. O agressor usava touca e máscara, e teria saído correndo depois de tentar atirar, mas foi seguido por cinco pessoas e preso.

Sabag nasceu no Brasil, mas mora na Argentina desde 1993. Sua mãe é argentina e seu pai, o chileno Fernando Ernesto Montiel Araya, já foi alvo de um inquérito da Polícia Federal em 2020 que pedia sua expulsão do Brasil por ter sido condenado em uma sentença penal.

Na madrugada desta sexta, horas após o ataque, policiais realizaram uma operação em uma das residências do brasileiro, onde apreenderam um notebook e cem balas de calibre 9 milímetros. Os projéteis estavam guardados em duas caixas e serão examinados pelos investigadores.

O imóvel onde Sabag morava tinha cerca de 15 metros quadrados e foi encontrado pelos policiais em péssimas condições. Segundo o La Nación, além do fedor do vaso sanitário —que parecia entupido há vários dias—, a pia estava quebrada, as panelas sujas e, no chão, havia uma pilha de cobertores, roupas e alimentos. Entre os objetos encontrados estavam diversas lingeries, vibradores e um chicote de couro sintético preto.

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