Bolsonaro recusou reunião com chanceler do Reino Unido em Londres

Ministro Carlos França afirma que agenda pelo funeral de Elizabeth 2ª foi apertada e que não houve tempo para bilateral

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) recusou uma reunião de trabalho com o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, oferecida pelos britânicos por ocasião da participação do brasileiro no funeral da rainha Elizabeth 2ª.

A gestão de Liz Truss acenou com a possibilidade de um encontro bilateral da delegação brasileira com Cleverly, para tratar das relações diplomáticas entre os dois países, com a justificativa de que a própria primeira-ministra —que assumiu o governo há duas semanas— não teria condições de realizar agendas de trabalho com as dezenas de mandatários que viajaram ao Reino Unido.

Os britânicos ressaltaram, porém, que gostariam que os chefes de governo e seus representantes realizassem reuniões com membros do alto escalão.

Jair Bolsonaro e Michelle chegam à Abadia de Westminster para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, em Londres - Marco Bertorello - 19.set.22/AFP

Truss teve apenas cinco encontros bilaterais presenciais, além de uma ligação telefônica, por ocasião do funeral. Entre sábado (17) e domingo (18), se reuniu com os primeiros-ministros da Austrália (Anthony Albanese), da Nova Zelândia (Jacinda Ardern), da Irlanda (Micheál Martin) e do Canadá (Justin Trudeau) e recebeu o presidente da Polônia, Andrzej Duda. Também falou por telefone com o xeque dos Emirados Árabes Unidos Mohammed bin Zayed al Nahyan.

Procurado, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Carlos França, disse à Folha que a oferta de reunião bilateral com Cleverly foi protocolar e feita a "todos os dignitários estrangeiros convidados para o funeral" da rainha.

"No entanto, a viagem do presidente Bolsonaro e da primeira-dama Michelle a Londres teve agenda muito apertada: ficamos apenas 32 horas em solo britânico. Ademais, os deslocamentos internos foram longos, havia muitas barreiras de controle por toda a cidade. Não houve tempo, pois, para bilaterais", disse França.

Bolsonaro compareceu a uma recepção oferecida por Cleverly a presidentes estrangeiros na chancelaria britânica, na tarde desta segunda. Só mandatários e cônjuges foram convidados.

França também declarou que, embora não tenha participado da recepção, pretende saudar seu homólogo pessoalmente durante a Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), cujos debates começam nesta terça (20) em Nova York —o presidente brasileiro discursa na abertura do evento e viajou aos EUA logo depois de deixar Londres.

Apesar do pouco tempo no Reino Unido e de o objetivo da viagem ser o funeral de Elizabeth 2ª, Bolsonaro usou a passagem pelo Reino Unido para fazer campanha política, em discurso a apoiadores na sacada da residência oficial do embaixador do Brasil em Londres. "Nosso Brasil será dessas cores aqui: verde e amarelo", declarou.

O grupo em frente ao local rezou, cantou o hino brasileiro e depois gritou frases como "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão", em referência a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário de Bolsonaro nas eleições presidenciais e primeiro colocado nas intenções de voto.

Em outra conversa com apoiadores, ele manteve o tom eleitoral e atacou Lula. "Vocês têm alguma dúvida de que o Brasil é a terra prometida? Por que insistir em colocar um ladrão de volta na Presidência?"

O presidente também foi a um posto de gasolina para comparar os preços locais com os brasileiros e defender sua política para os combustíveis.

A passagem de Bolsonaro por Londres gerou ainda cenas de bate-boca em frente à residência do embaixador. Apoiadores do presidente confrontaram um cidadão inglês que defendia o direito à livre manifestação, após um homem se opor ao grupo e gritar "mito é Jesus".

Ele foi cercado e ouviu gritos como "petista ladrão" e "vai para a Venezuela", até que o aposentado inglês Chris Harvey saiu em sua defesa. Ele disse que, uma vez no Reino Unido, o homem hostilizado tinha todo o direito de protestar sem se sentir ameaçado. "As pessoas precisam ter respeito; o funeral da rainha acaba de acontecer."

No domingo, dois jornalistas brasileiros que trabalham na rede britânica BBC foram hostilizados, também nos arredores da residência do embaixador, quando trabalhavam.

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