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Eleições 2022 Guerra da Ucrânia

Bolsonaro tenta consertar estrago de Londres com fala na ONU

Nanico diplomático, presidente faz discurso moderado com defesa de reforma da entidade igual ao de Lula

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São Paulo

Após o fiasco da sua passagem pelo funeral de Elizabeth 2ª em Londres, Jair Bolsonaro (PL) tentou amainar o estrago de imagem com um discurso bastante anódino para seus padrões na abertura da Assembleia-Geral da ONU.

Claro, tudo na vida é comparação. O presidente encerrou seu discurso à frente de um secretário-geral português com uma palavra de ordem da ditadura fascista lusitana de António de Oliveira Salazar, falou sobre repúdio à chamada "ideologia de gênero" e misturou crítica à ditadura nicaraguense com sua defesa por liberdade religiosa.

Bolsonaro no começo de seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU
Bolsonaro no começo de seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU - Brendan Mcdermid/Reuters

Perto de sua primeira fala na ONU, em 2019, foi quase uma leitura do "Caminho Suave" tão ao gosto do bolsonarismo. Lá, sobraram críticas à organização e era visível a influência da então chamada ala ideológica, hoje apenas um pastiche usado em postagens de rede social.

Ficaram para trás o trumpismo exacerbado na edição de 2020 e mesmo o Bolsonaro negacionista que reclamava da obrigatoriedade das vacinas em 2021. O presidente, ao contrário, apresentou-se agora transmutado em João Doria, seu rival tucano retirado da corrida pelo Planalto, enaltecendo produção doméstica de imunizantes contra a Covid-19.

A eleição, como previsto, esteve no centro de sua fala. Mas do "Lula ladrão" que falou a apoiadores ensandecidos em Londres o presidente apenas fez uma referência à corrupção na Petrobras —que nada tem a ver com o púlpito ocupado, mas um fato em si. Ao petista, sobrou uma crítica covarde, sem nominá-lo.

Mas o cerne foi aquilo que o centrão queria: transformar a ONU em palanque e mostrar um elenco de supostas realizações do governo, temperadas com uma mentira requentada do discurso do ano passado, acerca do gigantismo das manifestações do 7 de Setembro.

Sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas, ironicamente o que se viu foi uma concordância de resto já sabida: a crítica ao regime de sanções contra a Rússia na Guerra da Ucrânia, o pedido por um cessar-fogo e a defesa da reforma do Conselho de Segurança da ONU como forma de abarcar a maior diversidade política do mundo atual.

Tudo isso já foi defendido pelo petista, tanto nos seus anos de Presidência (2003-10) quanto recentemente, no caso dos comentários acerca da guerra.

Até aqui, diferentemente do salseiro britânico, não se viu nesta etapa nova-iorquina da viagem o vexame de 2021, quando o presidente foi obrigado a comer pizza na rua por não ser vacinado contra a peste e viu seu ministro da Saúde mostrar o dedo médio para manifestantes.

Parece pouco, e é. Mas para a estatura internacional de nanico diplomático projetada por Bolsonaro, expressa nos míseros encontros bilaterais de sua esvaziada agenda na ONU, se não anula o vexame protagonizado em Londres ou ganha qualquer voto de centro, o discurso não tornou a situação ainda pior.

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