Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Corpos em vala comum na Ucrânia acirram guerra de versões e remetem a Butcha

Kiev alega que mortos em cidade retomada após contraofensiva são civis e que há corpos com mãos amarradas para trás

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izium | AFP

A descoberta de centenas de corpos não identificados em uma área próxima à cidade de Izium, retomada pela Ucrânia, acirrou as acusações de Kiev sobre crimes de guerra cometidos pela Rússia e reviveu a batalha de versões entre os dois lados do conflito.

Kiev anunciou na quinta (15) ter encontrado o que calcula serem 440 corpos enterrados em uma mesma área, com cerca de 200 cruzes de madeira improvisadas. Funcionários da administração local começaram a desenterrá-los, e o governo regional afirma que alguns estavam com as mãos amarradas para trás e sinais de morte violenta.

Policiais retiram corpos enterrados em área comum perto da cidade de Izium, na Ucrânia - Gleb Garanich - 16.set.22/Reuters

Um repórter da agência de notícias AFP presente no local relatou ter visto ao menos um corpo desta maneira. Como estava deteriorado, não foi possível aferir se seria um civil ou um militar.

A agência de notícias Reuters, que na manhã desta sexta (16) havia publicado uma reportagem descrevendo que alguns corpos tinham cordas ao redor do pescoço, posteriormente retirou o texto do ar, explicando que seus repórteres não haviam visto, eles próprios, a cena.

O chefe de polícia Ihor Klumenko afirmou, em entrevista coletiva, que os corpos recuperados parecem ser de civis, embora haja informações de que alguns soldados possam ter sido colocados ali também. Outra vala com corpos de 17 militares também teria sido encontrada.

Forças de Moscou haviam assumido o controle da cidade no final de março, após um cerco de três semanas, e a transformaram em um reduto militar para planejamento dos ataques no leste ucraniano. O local, no entanto, foi retomado por tropas de Kiev na última semana, em meio a uma contraofensiva em maior parte bem-sucedida.

O presidente Volodimir Zelenski, durante discurso em vídeo que faz todas as noites, disse que a descoberta mostra ao mundo o saldo da ocupação russa. "A Rússia deixa morte em todos os lugares e deve ser responsabilizada por isso", afirmou.

Ele também comparou o cenário às cenas observadas na cidade de Butcha, nos arredores de Kiev, onde centenas de corpos foram encontrados em abril e provocaram manifestações da comunidade internacional. Zelenski chegou a chamar as mortes de civis de genocídio, e lideranças ao redor do mundo também se manifestaram.

Em entrevista à Reuters nesta sexta, ele ainda acrescentou que situações como a de Izium foram observadas em várias das áreas recentemente recapturadas pelas forças ucranianas, no nordeste do país, e declarou que há indícios de crimes de guerra nessas regiões, incluindo tortura de indivíduos e de famílias inteiras. Segundo o presidente, os casos serão investigados com assistência internacional.

Dmitro Lubinets, comissário de direitos humanos do Parlamento ucraniano, afirmou que mais de mil pessoas foram torturadas e mortas em áreas ocupadas pela Rússia na região de Kharkiv, cifra que não pôde ser confirmada de forma independente.

Segundo a Reuters, se o número de mortos na vala de Izium for confirmado, esta seria a maior estrutura do tipo desde as guerras dos Bálcãs, nos anos 1990. Autoridades americanas condenaram o episódio, com o secretário de Estado Antony Blinken dizendo que os relatos vindos da cidade "deveriam galvanizar o apoio aos corajosos ucranianos".

A Rússia nega, reiteradamente, que suas forças cometam crimes de guerra. O chefe do governo pró-Moscou que liderava Izium antes do recuo, Vitali Gantchev, acusou forças ucranianas de serem responsáveis pelos assassinatos numa tentativa de culpas os russos, segundo relato da agência de notícias Tass. "Eu não ouvi nada sobre valas", disse à TV Rússia 24.

Na cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, na cidade uzbeque de Samarcanda, Putin falou sobre o conflito com o premiê indiano, Narendra Modi —que disse ao russo "não ser hora de fazer guerra". O chefe do Kremlin respondeu que conhece as preocupações de Nova Déli e voltou a culpar Kiev.

Mais tarde, a jornalistas, repetiu que sua "operação militar especial" está de acordo com os planos e tem como "objetivo principal a libertação de todo o território do Donbass". Putin ainda minimizou a recente resposta ucraniana no front. "As autoridades de Kiev anunciaram que estão conduzindo uma contraofensiva. Bem, vamos ver como ela se desenvolve, como termina", disse, com um sorriso. "As forças russas infligiram [aos ucranianos] alguns golpes sensíveis. Vamos chamar isso de um aviso. Se a situação continuar assim, a resposta será mais séria."

Em uma rede social, Mikhailo Podoliak, assessor da Presidência da Ucrânia, usou o episódio para despender críticas a setores que defendem o fim da guerra. "Alguém mais quer 'congelar a guerra' em vez de nos enviar mais tanques?", questionou. "Não temos o direito de deixar as pessoas sozinhas com o mal", seguiu, referindo-se aos russos.

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