Cresce proporção de reportagens negativas sobre o Brasil no exterior

Críticas a polarização, fake news e ameaças à democracia às vésperas da eleição pioram reputação do país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Daniel Buarque Fabiana Mariutti
São Paulo | Interesse Nacional

A cobertura crítica sobre a campanha eleitoral brasileira levou a um aumento da proporção de notícias com tom negativo sobre o país na imprensa estrangeira.

Pela primeira vez desde junho, quando o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo levou a imagem internacional do Brasil na imprensa estrangeira a seu pior momento, a quantidade de textos negativos ultrapassou os neutros e se tornou a maioria das menções ao país.

Na semana de 19 a 25 de setembro, o total de notícias da coleta de dados do Índice de Interesse Internacional —ou iii-Brasil— foi de 48 artigos com menções sobre o Brasil nos sete veículos de imprensa estrangeiros analisados.

Presidente Jair Bolsonaro durante debate presidencial no SBT, em São Paulo - Miguel Schincariol - 24.set.22/AFP

O período registrou 54% de textos com tom negativo, com potencial de piorar a imagem internacional do país. Além disso, 40% das reportagens analisadas tinham tom neutro —ou seja, assuntos com natureza factual sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua reputação no exterior. Ainda houve 6% de notícias positivas, com potencial de melhorar a imagem do país.

O tom negativo foi impulsionado especialmente por reportagens a respeito da campanha eleitoral brasileira, incluindo artigos de opinião. No jornal português Público, por exemplo, o ator brasileiro Paulo Betti se diz "muito preocupado com as ameaças reais que sofre nossa democracia no Brasil".

No espanhol El País, reportagem fala sobre a "sombra" dos militares sobre o sistema eleitoral. Já no britânico The Guardian, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é criticado por usar técnicas para amedrontar os eleitores em relação a seu oponente.

Um destaque importante e também negativo na imprensa internacional ao longo da semana foi a proliferação de notícias falsas no Brasil às vésperas da votação. No francês Le Monde, uma reportagem acusa a campanha do presidente de manipular informações e propagar fake news para tentar atrair votos. "A máquina de desinformação está a pleno vapor", diz.

O argentino Clarín trata do mesmo tema, mas diz que, além do presidente, seu rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também "inunda a TV com notícias falsas". Já o Público diz que os dois candidatos abusam de "informações incorretas" em suas campanhas.

Ainda, o Clarín aborda uma certa preocupação após as eleições no Brasil: teme-se que Brasília, ao proclamar o vencedor no dia 2 de outubro, "seja alvo de protestos violentos se o ex-presidente Lula vencer".

As viagens de Bolsonaro para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, no Reino Unido, e para a Assembleia-Geral da ONU, nos EUA, também foram temas de reportagens com enquadramento editorial negativo.

El País diz que o presidente transformou as viagens em atos de campanha. O Clarín também falou sobre o propósito eleitoral das viagens. O Público aponta que o uso do púlpito pelo presidente, na Assembleia-Geral, figurou-se como discurso de comício da campanha como que realizado em algum estado brasileiro.

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 55 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa.

Ao longo do levantamento das últimas 24 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 11% de textos positivos sobre o país.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.