Mortes em protestos elevam pressão sobre Irã após óbito de mulher presa por não usar véu

Grupo de direitos civis acusa regime de reprimir com tiros atos no Curdistão

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Dubai | Reuters

A polícia do Irã chamou de "incidente infeliz" a morte de uma jovem que estava sob sua custódia e negou acusações de maus-tratos contra ela, informou nesta segunda-feira (19) a Fars, uma agência de notícias semioficial do país.

Mahsa Amini, 22, entrou em coma e morreu na sexta (16), após ser detida alguns dias antes pela polícia porque supostamente não estava usando hijab, o véu islâmico. O argumento para a detenção é que ela deveria ser "convencida e educada".

A morte da jovem foi o estopim para protestos nas ruas de Teerã e do Curdistão —sua província de origem—, que entraram no terceiro dia. Nesta segunda, manifestantes jogaram pedras contra as forças de segurança na cidade de Divandarreh, mostrou um vídeo divulgado nas redes sociais pelo grupo de direitos civis Hengaw. Nas imagens, um homem diz: "Há uma guerra em Divandarreh. Os malditos agentes [da polícia] estão atacando".

Masha Amini ilustra reportagem de jornal iraniano sobre sua morte - West Asia News Agency - 18.set.22/via Reuters

Segundo o Hengaw, cinco pessoas morreram nos protestos desta segunda, com a polícia tendo atirado nos manifestantes —duas nos confrontos na cidade natal de Amini, Saqez, duas em Divandarreh e mais uma em Dehgolan, também na região curda. O regime em Teerã não confirmou.

A TV estatal noticiou que vários manifestantes foram presos e, ainda segundo o Hengaw, 15 pessoas ficaram feridas.

No sábado (17), durante o funeral de Amini, protestos eclodiram em sua cidade natal. Vídeos nas redes sociais mostraram manifestantes cantando contra o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e mulheres removendo os lenços da cabeça como forma de protesto.

A hashtag #MahsaAmini, de apoio à jovem, atingiu quase 2 milhões de menções no Twitter.

Policiais alegaram que Amini sofreu um ataque cardíaco após ser detida —eles negaram que ela tenha sido agredida. Ativistas, no entanto, afirmam que a abordagem policial em casos do tipo tem sido violenta, muitas vezes com uso de espancamento contra as mulheres.

Seu pai afirmou ao site de notícias Emtedad no domingo (18) que sua filha não tinha problemas de saúde, acrescentando que ela sofreu contusões nas pernas. Ele responsabilizou a polícia pela morte da jovem.

A corporação contesta a informação. Comandante da polícia da Grande Teerã, Hossein Rahimi disse que "acusações covardes" foram feitas contra as forças de segurança, que Amini não sofreu danos físicos e que os agentes "fizeram tudo" para mantê-la viva. "Esse incidente foi lamentável para nós e desejamos nunca testemunhar outros do tipo", afirmou, em comunicado divulgado pela Fars.

Por meio de um porta-voz da Casa Branca, os Estados Unidos afirmaram que deve haver responsabilização pela morte da jovem, que classificaram de "terrível e escandalosa". Disseram ainda que o Irã deve cessar o uso de violência contra mulheres por exercerem suas liberdades fundamentais, e que elas devem poder se vestir da maneira que quiserem.

No Irã, após a Revolução de 1979, que abriu espaço para um regime teocrático, a lei passou a afirmar que mulheres são obrigadas a cobrir o cabelo com véu e a usar roupas largas para encobrir o formato de seus corpos. Aquelas que descumprem a norma enfrentam repreensões públicas, multas e mesmo a prisão.

A lei nunca deixou de ser questionada, apesar da repressão. Ao longo dos últimos meses, ativistas de direitos humanos têm influenciado mulheres a retirarem o véu publicamente em protesto contra o código de vestimenta, o que desagrada a governantes e agentes de segurança, que afirmam que o ato configura um comportamento imoral.

No início deste mês, duas ativistas iranianas lésbicas foram condenadas à morte por "promover a homossexualidade". Elas também foram acusadas de promover a religião cristã e de terem contatado um veículo da mídia que faz oposição ao governo.

Nas redes sociais, iranianos têm expressado repúdio à existência da prática conhecida como "detenção moral", perpetrada pelas chamadas patrulhas de orientação. Alguns vídeos compartilhados mostram policiais detendo mulheres, arrastando-as no chão e levando-as a força.

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