ONU aprova exceção para que Zelenski participe por vídeo de Assembleia-Geral

Brasil se abstém e apoia tentativa de permitir que líderes de países em guerra possam participar remotamente

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Guarulhos e Washington

Países-membros da ONU aprovaram nesta sexta (16) resolução para permitir que o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, participe de maneira virtual da 77ª sessão da Assembleia-Geral, marcada para terça (19), em Nova York. O Brasil se absteve.

A decisão foi defendida por 101 de 193 nações. A Rússia e outros seis países aliados ao governo de Vladimir Putin (Belarus, Cuba, Síria, Coreia do Norte, Nicarágua e Eritreia) foram contrários.

Volodimir Zelenski, presidente da Ucrânia, participa de almoço para líderes mundiais na Assembleia-Geral da ONU em 2019 - Jonathan Ernst - 24.set.19/Reuters

Além do Brasil, outros 18 países se abstiveram de votar. Entre eles, África do Sul e China —que também compõem o bloco do Brics—, além de Angola, Paquistão, Malásia e Tailândia.

A missão ucraniana argumentou que Zelenski não pode participar de reuniões presenciais devido ao desenrolar da guerra no Leste Europeu. Até aqui, de fato, o político tem apenas discursado por meio de vídeos em fóruns e Parlamentos ao redor do mundo.

O vice-embaixador russo na ONU, Dmitri Polianski, afirmou que Moscou sempre foi a favor de uma diplomacia presencial, segundo relato da agência Reuters, e acusou nações ocidentais de adotarem dois pesos e duas medidas. "Líderes da África, que com frequência têm dificuldades semelhantes para chegar a Nova York, tiveram direitos do tipo negados."

A ditadura da Belarus, comandada por Aleksandr Lukachenko, apresentou uma emenda para permitir que todos os líderes com problemas de segurança para ir a Nova York, não apenas Zelenski, pudessem enviar mensagens gravadas. Mas o recurso recebeu 67 votos contrários —foram 23 favoráveis e 27 abstenções.

O Brasil apoiou a tentativa belarussa. Interlocutores da missão brasileira relataram à Folha que o país é favorável à proposta de que qualquer nação em situação de guerra possa participar de forma remota, sem favorecimento de apenas um líder.

O embaixador João Genésio de Almeida Filho, que representou o Brasil na sessão, disse aos presentes lamentar que o texto da proposta original, sobre abrir a exceção apenas para Zelenski, "politizasse uma questão que deveria ser processual". "Caso contrário, mais Estados-membros teriam concordado com esta questão", frisou.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) vai à Assembleia-Geral depois de viajar a Londres, no Reino Unido, para o funeral da rainha Elizabeth 2ª na segunda (19). Sem reuniões bilaterais de peso na agenda, ele fará o discurso de abertura do encontro, como manda a tradição histórica.

Em julho, Zelenski criticou a posição de neutralidade que o governo Bolsonaro diz manter no conflito. "Não acredito que alguém possa se manter neutro quando há uma guerra no mundo", disse Zelenski à TV Globo.

O líder ucraniano, que conversou por telefone com o brasileiro, pediu apoio do Brasil nas sanções impostas contra Moscou por nações da União Europeia e pelos EUA. Brasília tem evitado críticas contra a Rússia, importante parceira comercial, mas, na ONU, chegou a apoiar uma resolução condenando a invasão do território ucraniano.

Bolsonaro, pouco antes de a guerra ter início, viajou a Moscou e teve um encontro com o presidente Vladimir Putin, em uma agenda criticada por parceiros como Washington. Na ocasião, disse que o Brasil era "solidário à Rússia".

Nesta sexta, em comício em Londrina (PR), o presidente afirmou que seu pronunciamento será voltado para o Brasil e para mostrar a potencialidade do país. O mandatário conclamou o público presente para que assista à sua participação.

"Na segunda-feira, irei para os EUA, onde farei um pronunciamento por ocasião da abertura dos trabalhos da ONU. Assistam. Será um pronunciamento no qual estarei voltado basicamente para o nosso Brasil, mostrando a nossa potencialidade e o que representamos para o mundo", afirmou.

O presidente também disse que o país cada vez mais está integrado ao resto do mundo. Em paralelo ai evento, ele terá encontros bilaterais apenas com chefes de governo de Equador, Guatemala, Polônia e Sérvia.

Quanto ao Reino Unido, ele disse que vai se despedir da rainha em nome do Brasil e "demonstrar nosso carinho, nosso apreço pelo povo daquele país".

Com Reuters e AFP; colaborou Renato Machado, de Brasília

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