Parlamentares dos EUA ampliam ofensiva contra Bolsonaro e alertam Biden sobre risco a democracia

Congressistas entregam carta ao democrata citando ataques a instituições e ao sistema eleitoral do Brasil

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Washington

Em uma das ações mais incisivas até aqui de parlamentares dos EUA contra manifestações golpistas do presidente Jair Bolsonaro (PL), deputados e senadores entregaram nesta sexta-feira (9) uma carta a Joe Biden em que alertam para o risco de golpe na eleição presidencial de outubro e acusam o brasileiro de ameaçar as instituições democráticas.

A entrega do documento ao americano se dá dois dias depois de moções em defesa da democracia no Brasil serem apresentadas na Câmara e no Senado. A carta de agora é mais incisiva porque cita Bolsonaro diretamente e lista manifestações antidemocráticas do presidente —as moções apresentadas na última quarta-feira (7) eram genéricas.

"Escrevemos para expressar nossa profunda preocupação com os ataques sistemáticos às instituições democráticas da quarta maior democracia do mundo", afirmam os parlamentares. O texto é subscrito por oito senadores e 31 deputados, que pedem que Biden deixe claro que o Brasil perderá o apoio para ingressar na OCDE e o status de aliado extra-Otan se Bolsonaro insistir nos atos de tom golpista.

Os presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro em encontro em Los Angeles em junho - Alan Santos - 9.jun.2022/Divulgação Presidência da República

A carta cita também a invasão do Capitólio, um dos episódios mais traumáticos da história recente dos EUA, por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que manifestou apoio a Bolsonaro na eleição deste ano. "Tendo passado pessoalmente pelos horrores da insurreição de 6 de Janeiro, todos sabemos muito bem as consequências que podem ocorrer quando demagogos promovem desinformação sobre a legitimidade e integridade do processo eleitoral", diz o texto.

O novo alerta chega a Biden dois dias depois de Bolsonaro manter a retórica golpista durante os eventos do Bicentenário da Independência do Brasil. A articulação dos congressistas americanos faz parte de um esforço internacional que considera que, sem apoio de Washington, uma ruptura democrática teria muito mais dificuldade de ser levada a cabo no Brasil.

"À luz desses desafios sérios e muito familiares à democracia brasileira, os EUA têm o dever, como parceiros de longa data do Brasil, de usar todas as ferramentas diplomáticas e ajuda disponível para denunciar e deter ações que ameaçam incitar a violência política no país e minar a integridade do processo eleitoral", diz o texto, capitaneado pelo senador Patrick Leahy (Vermont), o segundo na hierarquia do Senado, abaixo de Kamala Harris, e pela deputada Susan Wild (Pensilvânia).

Assinam a carta ainda uma série de parlamentares de destaque, como a deputada Alexandra Ocasio-Cortez, estrela da esquerda dos EUA, e o deputado Jamie Raskin, que integra a comissão que investiga a invasão do Capitólio e indicou que pode incluir Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente brasileiro ligado à direita americana, nas apurações.

A movimentação parlamentar americana ganhou força depois que entidades de direitos humanos do Brasil se reuniram com legisladores no fim de julho, capitaneadas pelo grupo Washington Brazil Office, para alertar as autoridades do país sobre os riscos às eleições brasileiras.

Os parlamentares afirmam que o sistema eleitoral brasileiro, "reconhecido como um dos mais seguros e mais confiáveis sistemas eleitorais do mundo", é constantemente atacado pelo presidente. O texto cita também que candidatos que representam minorias estão em risco e mostra preocupação com o aumento da circulação de armas no país.

Outra menção é a uma reunião que Bolsonaro promoveu com embaixadores no fim de julho, na qual mentiu sobre a segurança das urnas e repetiu ataques ao Supremo Tribunal Federal.

"Dadas as ameaças sem precedentes às eleições, instamos você [Biden] a tomar medidas adicionais para deixar inequivocamente claro para o presidente Bolsonaro, seu governo e para as forças de segurança brasileiras que o Brasil se encontrará isolado dos EUA e da comunidade internacional se houver qualquer tentativa de subverter o processo eleitoral do país", afirma a carta.

"Seu governo deve garantir que o governo brasileiro entenda que qualquer esforço do tipo terá consequências sérias, incluindo sobre futuras cooperações bilaterais de defesa e segurança."

Mais contido que o Legislativo, o Executivo dos EUA também tem mandado recados reforçando expectativas de que o resultado do pleito de outubro seja respeitado. Na noite de quarta, a porta-voz Karine Jean-Pierre afirmou que a Casa Branca está monitorando as eleições e reforçou que Washington confia nas instituições democráticas do Brasil. Mais cedo, em nota para celebrar os 200 anos da Independência, o secretário de Estado, Antony Blinken, havia realçado a importância do comprometimento com a democracia.

Em julho, após Bolsonaro convocar os embaixadores, a representação de Washington em Brasília emitiu comunicado em que afirmou confiar no sistema eleitoral brasileiro, "modelo para as nações". Dias depois, em conferência de ministros da Defesa das Américas, o secretário Lloyd J. Austin defendeu que as forças militares devem estar "sob firme controle civil", sem citar as eleições brasileiras.

No único encontro que teve até agora com Biden, Bolsonaro teria pedido ajuda para derrotar o favorito nas pesquisas, o ex-presidente Lula (PT), segundo a agência de notícias Bloomberg. Na reunião, em Los Angeles, o brasileiro repetiu que queria "eleições limpas, confiáveis e auditáveis"; o americano respondeu, segundo o Departamento de Estado, que "os EUA não toleram e não aceitam intervenção no sistema eleitoral em nenhum lugar".

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