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Elizabeth 2ª tinha celular com 2 contatos, viajou sem passaporte e governou 150 milhões

Chefe da monarquia teve reinado cercado de mudanças, da tecnologia à influência do Reino Unido

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São Paulo

Ao morrer nesta quinta-feira (8), a rainha Elizabeth 2ª encerrou um período de 96 anos de vida e 70 de reinado. Mas além de servir como chefe de Estado de alguns dos principais atores geopolíticos do mundo, a matriarca da família real britânica testemunhou mudanças históricas que vão da política à tecnologia.

A mais evidente delas talvez seja a chegada da internet. Como grande parcela das pessoas de sua idade, Elizabeth não sabia utilizar muito bem celulares e outros aparatos tecnológicos. Ela morreu tendo apenas dois contatos em seu telefone, segundo especialistas na família real britânica: o da sua filha, a princesa Anne, 71, e o do gerente de cavalos de corrida da família real, John Warren.

Rainha Elizabeth 2ª aperta botão para enviar seu primeiro tuite durante uma visita à exposição 'Information Age' no Science Museum, em Londres
Rainha Elizabeth 2ª aperta botão para enviar seu primeiro tuíte durante uma visita à exposição 'Information Age' no Science Museum, em Londres - Chris Jackson -24.out.14/Reuters

A rainha ganhou seu primeiro celular ainda em 2001 –um Siemens Wap, com tecnologia ainda bem inferior à dos atuais smartphones. Mas, segundo rumores, ela proibiu seus funcionários de andar com seus telefones durante o serviço. Para a rainha, os toques dos aparelhos eram irritantes.

O estopim teria sido quando os celulares dos funcionários tocaram com frequência durante um jantar com diplomatas estrangeiros, ainda no início dos anos 2000. Desde então, o uso dos aparelhos durante as refeições é proibido nos palácios –a regra também vale para os membros da família real.

Outro episódio evidencia a falta de prática tecnológica de Elizabeth. Em 2015, segundo a emissora americana Fox News, ela pediu ajuda aos príncipes William e Harry para configurar sua secretária eletrônica. Na ocasião, eles brincaram com a chefe da monarquia.

"Ei, tudo bem? Aqui é Liz. Desculpe, estou longe do trono. Para uma linha direta com Philip [marido da rainha, morto no ano passado], pressione 1. Para Charles [filho dela, agora novo rei do Reino Unido], pressione 2, e para os corgis [cachorros da monarquia], aperte 3", dizia a gravação.

Elizabeth, claro, ficou perplexa ao ouvir a mensagem dias depois. Segundo o tabloide britânico The Daily Star, a rainha percebeu que se tratava de uma brincadeira e riu ao imaginar as eventuais reações de quem ouviu o recado ao tentar ligar para ela.

Os corgis mencionados por seus netos, aliás, eram uma das paixões de Elizabeth e eram frequentes durante seu lazer. Ao longo de sua vida, ela teve ao menos 30, sendo que todos eram descendentes de seu primeiro cão. No tempo livre, a rainha também gostava de dirigir —ainda que não tivesse carteira de habilitação formal.

Mudanças políticas no reinado

Mas os 70 anos de Elizabeth como rainha –a mais duradoura da história britânica– também foram marcados por várias mudanças políticas em seu reinado. Quando assumiu o trono, por exemplo, ela era chefe de Estado de 32 países, mas, entre referendos e independências, morreu chefiando 15 nações e sendo soberana de 150 milhões de pessoas. Em todos os casos, porém, seu poder era apenas simbólico.

Ainda assim, Elizabeth tentava manter sua influência. A ferramenta principal para isso era a Commonwealth, grupo de 56 países que reúne majoritariamente ex-colônias britânicas. Ela usava a organização para manter laços econômicos, diplomáticos e culturais com as ex-colônias. Em 2018, o bloco escolheu seu filho e agora rei, Charles 3º, para sucedê-la na liderança.

Outra ferramenta foram as viagens: a chefe da monarquia fez ao menos 285 delas para fora da Grã-Bretanha, mesmo sem possuir um passaporte oficial.

Paralelamente, no Reino Unido, a rainha conviveu com 15 primeiros-ministros, sendo 12 homens e 3 mulheres. O primeiro foi Winston Churchill e a última, Liz Truss. De todos os britânicos, 31% dizem tem visto Elizabeth ao menos uma vez em pessoa.

No cenário geopolítico, de forma sempre discreta, Elizabeth viu a Europa se reconstruir após a Segunda Guerra Mundial, acompanhou a Guerra Fria, viu o homem ir à Lua, chocou-se com o avanço do terrorismo no continente europeu –inclusive em seu país– e morreu condenando as consequências do conflito na Ucrânia. Segundo dados da ONU, 94% do mundo hoje nasceu quando a rainha da Inglaterra era justamente Elizabeth.

Mas, em pelo menos um tema específico, ela abandonou a discrição: o enfrentamento às mudanças climáticas. Em outubro do ano passado, microfones captaram Elizabeth criticar líderes mundiais a sua nora, agora rainha consorte, Camila. "É realmente irritante quando eles falam, mas não agem", afirmou.

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