Descrição de chapéu África

Governo da Etiópia e rebeldes do Tigré retomam diálogos após ataque matar mais de 50

Atentado pode ser um dos mais letais no conflito no norte do país, que já dura quase dois anos e deslocou milhões

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Nairóbi | Reuters e AFP

Pela primeira vez em quase dois anos de conflito, o governo da Etiópia e os rebeldes da região separatista do Tigré devem se encontrar para negociações de paz. As duas partes acertaram nesta quarta-feira (5) uma reunião na África do Sul, a ser realizada neste fim de semana, a convite da União Africana (UA), órgão que promove a cooperação entre os países do continente.

Olusegun Obasanjo, alto representante da UA para a região do Chifre da África, deve mediar os diálogos, com o apoio do ex-presidente queniano Uhuru Kenyatta e do ex-vice-presidente sul-africano Phumzile Mlambo-Ngcuka, segundo a carta-convite.

Adis Abeba aceitou a convocação dizendo que ela está de acordo com a posição do governo, "da necessidade de conversas sem precondições", segundo comunicado. Autoridades regionais do Tigré fizeram o mesmo, mas pediram esclarecimentos de quem atuaria como participante, observador e garantidor das discussões.

Pessoas deslocadas pelo conflito no Tigré buscam água próximo à cidade de Dubti, na Etiópia - Eduardo Soteras - 7jun.22/AFP

No mês passado, representantes da Frente de Libertação Popular do Tigré (TPLF) mostraram disposição de estabelecer um novo cessar-fogo e de aceitar um diálogo mediado pela UA —oferta que já havia rejeitado no passado.

A possibilidade de diálogo se abre no dia em que um ataque aéreo sobre uma escola do Tigré, no norte da Etiópia, deixou mais de 50 mortos, segundo trabalhadores humanitários; o gabinete do governo regional do Tigré, porém, informou o número de 65 vítimas.

O local, em Adi Daero, abrigava pessoas deslocadas pelo conflito entre as forças do governo central e os rebeldes da região. A ação pode se tornar uma das mais letais do conflito, que já dura quase dois anos. O atentado aéreo mais mortal até aqui ocorreu em janeiro, quando 59 pessoas morreram em um campo de refugiados de Dedebit, no noroeste do país, segundo o escritório de direitos humanos das Nações Unidas.

Sobreviventes do ataque desta quarta fugiram para a cidade de Shire, a cerca de 25 quilômetros. Segundo eles, ao menos 70 pessoas ficaram feridas. O governo do país em Adis Abeba não comentou oficialmente o ataque.

Os combates na segunda nação mais populosa da África começaram em novembro de 2020 e deslocaram milhões de pessoas, empurrando porções consideráveis do Tigré para a fome e deixando um saldo de milhares de civis mortos.

Naquele mês, o primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali enviou o Exército do país à região para expulsar o governo regional da TPLF, que vinha contestando sua autoridade há vários meses e , segundo o Executivo, havia atacado bases militares.

As partes estavam em trégua há cinco meses, mas os conflitos recomeçaram no final de agosto, em um golpe nas esperanças de negociações de paz entre o governo central e os rebeles que controlam a região separatista.

A TPLF liderou a coalizão que governou a Etiópia de 1991, com a queda do ditador Mengistu Haile Mariam, até 2018, com chegada de Ahmed ao poder. A fase foi marcada por autoritarismo e denúncias de corrupção.

Vencedor do Nobel da Paz de 2019, o premiê assumiu o cargo em meio a protestos populares e, de forma vista como promissora, passou a implementar reformas liberais no país. Rapidamente, porém, entrou em atrito com a TPLF, devolvendo o país a uma espiral de violência.

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