Biden, Macron e Scholz telefonam a Lula para dar parabéns e elogiar instituições

Presidente americano cumprimenta eleito, e francês diz que estava ansioso em retomar parceria

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Washington, Madri e São Paulo

O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), recebeu uma série de telefonemas de líderes estrangeiros nesta segunda-feira (31), além da visita pessoal de um chefe de Estado, o argentino Alberto Fernández.

O movimento, um dia depois da vitória do petista no segundo turno sobre Jair Bolsonaro (PL), reforçou tendência vista já no domingo, de um reconhecimento mundial rápido do resultado do pleito —como forma de marcar posição contra possíveis contestações por parte do derrotado— e da expectativa em relação ao novo governo do ex-presidente após desgastes diplomáticos acumulados pelo atual.

Nesse sentido, restará simbólica uma frase do francês Emmanuel Macron: "Posso dizer que eu estava aguardando com ansiedade para que pudéssemos relançar uma parceria estratégica à altura da nossa história e dos desafios pela frente".

O presidente dos EUA Joe Biden e a primeira-dama Jill em avião em Nova York - Mandel Ngan - 31.out.22/AFP

De acordo com o ex-chanceler Celso Amorim, um dos principais conselheiros de Lula para a política externa, o petista falou nesta segunda com cerca de 20 chefes de Estado, do líder da ditadura cubana, Miguel Díaz-Canel, ao presidente dos EUA, Joe Biden; do turco Recep Tayyp Erdogan ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

"Isso não é comum, as pessoas em geral fazem um cumprimento, mandam uma carta. O mundo respirou aliviado com essa eleição. Pela questão climática e também por ser uma eleição em que se jogava um pouco a sorte da democracia —aqui poderia ser um ponto de virada em favor da extrema direita", disse.

Amorim contou ainda que o ex-presidente recebeu um convite para ir à COP27, conferência sobre o clima que começa no fim de semana no Egito, mas que ainda não sabe se sua participação será possível.

Biden telefonou a Lula à tarde. Ele já havia feito o gesto no domingo, mas, segundo aliados, a ligação foi interrompida. Segundo comunicado divulgado pela Casa Branca, ele "elogiou a força das instituições democráticas brasileiras após eleições livres, justas e confiáveis".

"Os dois líderes discutiram o forte relacionamento entre os Estados Unidos e o Brasil e se comprometeram a continuar trabalhando como parceiros para enfrentar desafios comuns, incluindo o combate às mudanças climáticas, a segurança alimentar, a promoção da inclusão e da democracia e gestão da imigração regional", disse a Presidência americana, em nota.

Biden foi um dos primeiros líderes a parabenizarem Lula após a confirmação da vitória pelo Tribunal Superior Eleitoral. A Casa Branca disparou comunicado à imprensa às 20h33, pouco mais de meia hora após a confirmação oficial. Quando o democrata foi eleito presidente dos EUA, em 2020, Bolsonaro demorou 38 dias para parabenizá-lo.

Apoiador de primeira hora do ex-presidente Donald Trump, o brasileiro ainda ecoou alegações de fraude na eleição americana. Biden e Bolsonaro nunca se falaram por telefone e só se reuniram uma vez.

A avaliação em Washington é a de que o reconhecimento rápido por parte da Casa Branca deixa claro que Bolsonaro não terá apoio internacional caso conteste o resultado das urnas. A capital americana ainda vive sob o trauma do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, quando uma multidão insuflada por Trump invadiu a sede do Congresso para tentar impedir a confirmação do resultado da eleição.

Lula e Biden se conhecem pessoalmente e foram contemporâneos no fim do segundo governo do brasileiro —o atual presidente dos EUA foi vice de Barack Obama entre 2009 a 2017.

De europeus, o presidente eleito conversou com o francês Macron, o alemão Olaf Scholz, o espanhol Pedro Sánchez e os portugueses António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa (respectivamente, primeiro-ministro e presidente).

Macron chegou a divulgar parte da conversa em um vídeo no Twitter. "Estamos vivendo um dia muito feliz porque conseguimos resgatar a democracia", disse Lula. "De acordo [...] Parabéns pela eleição. É uma notícia formidável para nós", respondeu o francês.

Sánchez também escreveu sobre a ligação em seu Twitter: "Mandei-lhe meus parabéns desejando-lhe sorte em sua nova etapa no governo e a vontade de trabalhar juntos na luta contra a pobreza, a fome e as mudanças climáticas".

Costa afirmou que o resultado das eleições no Brasil representa uma vitória da democracia e uma "esperança nova para o mundo", destacando as promessas de Lula para contribuir com o combate à mudança climática. "Todos nós temos muitas saudades do Brasil e essa é uma nova oportunidade para nos reaproximarmos neste ano, em que assinalamos os 200 anos da Independência do Brasil", afirmou o socialista. "O que é importante é, relativamente a Portugal, haja uma oportunidade de relançamento das nossas relações."

O português manifestou desejo de que o brasileiro visite Portugal em uma eventual viagem à Europa —Bolsonaro não foi a nenhum país-membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa em seu mandato.

A reação dos europeus nesta segunda também tem raiz no relacionamento que já têm com Lula —e com Bolsonaro. No caso de Macron, o francês recebeu o petista com honrarias no Palácio do Eliseu, e recebeu parabéns por sua reeleição em abril deste ano, enquanto o atual presidente brasileiro se manifestou apenas pelo Itamaraty.

Os dois se estranham desde 2019, quando as queimadas na Amazônia ocuparam as manchetes internacionais e o europeu criticou publicamente o governo brasileiro, além de levar o tema para uma reunião do G7 na França. O presidente brasileiro se sentiu afrontado e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), republicou um vídeo em que o francês era chamado de idiota.

Na Alemanha, o contraste também é visível. Após encontro com Lula em novembro do ano passado, o então recém-eleito Scholz escreveu estar "muito satisfeito com boas discussões" e que aguardava "com expectativa continuar o diálogo". O partido do premiê alemão tem relações históricas com o PT e seu governo, uma ambiciosa agenda ambiental.

Na reunião do G20, em Roma, no final de 2021, Bolsonaro deu apenas um cumprimento protocolar a Scholz, se dirigindo ao turco Erdogan —ignorado, o alemão foi falar com o inglês Boris Johnson.

Nesta segunda, Lula conversou também com líderes latinos, como o chileno Gabriel Boric, além de ter recebido a visita de Fernández —que afirmou que o petista irá à Argentina ainda antes de tomar posse.

A informação encontra eco no que a equipe de Lula vinha dizendo ao longo dos últimos dias, que o presidente eleito planeja um giro internacional antes de assumir o poder —como fez da primeira vez que foi eleito, em 2002. No domingo, o próprio presidente afirmou que estuda colocar os EUA na rota.

"Antes da posse eu também quero fazer viagens para países da América do Sul para restabelecer uma aliança e para os Estados Unidos, por mais divergências que tenhamos precisamos nos aproximar dos Estados Unidos, visitar a China, a União Europeia", disse.

A ressalva em relação a divergências com Washington dá pistas de como deve ser a relação entre os países no próximo governo. Há alívio entre setores do Partido Democrata com a saída de Bolsonaro e a expectativa é de aumento de parcerias sobretudo na área climática —o enviado especial para o clima de Biden, John Kerry, parabenizou Lula nesta segunda—, mas o petista não tem a mesma afinidade em relação aos EUA que Bolsonaro.

O novo presidente também não deve se alinhar a Washington na condenação automática da Rússia na Guerra da Ucrânia ou na guerra comercial com a China, maior parceira comercial do Brasil. Depois da vitória, registre-se, Vladimir Putin, Volodimir Zelenski e Xi Jinping enviaram mensagens parabenizando Lula.

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