Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia

Brasil se abstém na OEA em revogação de Guaidó no órgão e texto de apoio à Ucrânia

Só quatro países votam a favor do opositor venezuelano; reversão exigia dois terços dos membros

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Lima | Reuters e AFP

Brasil, México e Argentina abriram mão de assinar uma declaração de apoio à Ucrânia e condenação à Rússia lida nesta quinta-feira (6) na Assembleia-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), em Lima. O documento, que não constitui uma decisão do órgão, foi apresentado pela Guatemala e aplaudido pelos Estados Unidos.

Intitulado "Apoio contínuo para o fim da agressão russa na Ucrânia", o texto declara a "renovada e enérgica condenação à invasão ilegal, injustificada e não provocada da Ucrânia", destacando preocupação "com a indiferença e o desprezo por parte da Federação Russa aos apelos [...] para a retirada de suas forças militares da Ucrânia".

Na Assembleia, a delegação brasileira se absteve em outra votação nesta quinta —que deu mais um sinal do enfraquecimento político de Juan Guaidó. Na decisão, só quatro países votaram a favor de manter as credenciais dos representantes do opositor venezuelano nas reuniões do bloco. O resultado final, porém, não mudou a situação, já que a revogação dependia do apoio de dois terços dos membros.

Reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Lima
Reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Lima - Mariana Bazo -5.out.22/Xinhua

A abstenção brasileira, em certa medida, contrasta com o apoio dado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), crítico ferrenho da ditadura de Nicolás Maduro, ao opositor. Outros oito países se abstiveram, incluindo os de governos direitistas Equador, Costa Rica, El Salvador e Uruguai.

Dezenove votaram pela revogação, reforçando a guinada à esquerda da América Latina. Entre eles, Argentina, Bolívia, Chile, México e Colômbia. Este último recém-estreitou laços com Maduro —no final de setembro, o esquerdista Gustavo Petro reabriu parcialmente as fronteiras, em aproximação planejada desde sua campanha. EUA, Canadá, Paraguai e Guatemala, por sua vez, votaram a favor de Guaidó.

Na teoria, a OEA reconhece o opositor como presidente, que se autoproclama líder do país, desde 2019. Desde então, porém, ele vem perdendo força e legitimidade —no ano passado, a União Europeia deixou de reconhecê-lo como chefe de governo.

Antes da votação desta quinta, em Lima, os diplomatas na OEA travaram um debate sobre qual seria o número de membros ativos da organização. A soma era fundamental para definir o placar mínimo para a aprovação do texto; o imbróglio cercava a participação de Cuba, que deixou a organização nos anos 1960.

Ao fim, o secretário de Assuntos Jurídicos da OEA, Jean Michel Arrighi, sustentou que Cuba foi "suspensa", não necessariamente excluída, e que, portanto, a organização tem 35 membros.

Os diplomatas também discutiram a exclusão da Venezuela, como solicitado pelo regime em 2019. Mas, segundo o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, o processo de saída não foi concluído devido a dívidas de "alguns milhões de dólares" do país com a organização.

"Aqui, hoje ninguém ganhou. Mais uma vez a OEA perdeu a credibilidade", disse Ronald Sanders, embaixador de Antígua e Barbuda –país que liderou esforços para revogar as credenciais dos representantes de Guaidó. Ele afirmou que sua delegação não reconhecerá discussões que incluam o voto de representantes do opositor.

Em outra frente, a reunião desta quinta foi aberta com uma mensagem gravada pelo presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, que evocou líderes da América Latina para pedir apoio a seu país. "De que lado estaria Simón Bolívar na guerra que a Rússia desencadeou contra a Ucrânia? Quem José de San Martín apoiaria? Com quem Miguel Hidalgo simpatizaria? Acho que não ajudariam alguém que está saqueando um país menor", ressaltou.

Em março, a OEA já havia pedido o fim dos "crimes de guerra" na Ucrânia, em uma resolução apoiada por 28 dos 34 membros ativos do bloco —o Brasil se absteve. Um mês depois, a Rússia foi suspensa como observadora permanente da organização.

Com RFI

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