Rússia puxa para baixo índice global de liberdade na internet

Relatório aponta Brasil como 'relativamente livre' e faz críticas a Bolsonaro; China mantém última posição no ranking

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São Paulo

A liberdade global na internet retrocedeu pelo 12º ano consecutivo, com a situação na Rússia puxando a média do índice para baixo, afirma um estudo divulgado nesta terça-feira (18) pelo grupo americano Freedom House.

Além da Rússia —que atingiu sua menor pontuação histórica com o bloqueio de sites e redes sociais pelo Kremlin após o início da Guerra da Ucrânia—, o relatório atribui o retrocesso ao agravamento das liberdades digitais em Mianmar, no Sudão e na Líbia.

Ao mesmo tempo, o documento destaca que 26 nações menores, como Gâmbia ou Zimbábue, registraram avanços inéditos nesse campo.

Manifestante exibe cartaz com dizeres 'Putin não' durante protesto contra censura na internet, em Moscou - Alexander Nemenov - 10.mar.19/AFP

Coautora do relatório, Allie Funk afirma que a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro deste ano minou não só a liberdade na internet, mas em geral.

A diretora de pesquisas sobre tecnologia e democracia da entidade pondera, porém, que a perspectiva geral é "muito mais positiva do que o que tínhamos antes". Isso porque, nos últimos três a cinco anos, governos democráticos e mesmo algumas empresas de tecnologia investiram maciçamente em programas para a liberdade nas redes.

A Freedom House atribui uma pontuação de 0 a 100 para vários indicadores vinculados à questão, como acesso à internet, limitações de conteúdo e violações dos direitos dos usuários. O estudo foi conduzido entre junho de 2021 e maio deste ano e avaliou 70 países.

A queda de sete pontos na avaliação da Rússia envolve, portanto, o início da Guerra da Ucrânia, disparada em 24 de fevereiro —o país de Vladimir Putin somou 23. Moscou bloqueou Facebook, Instagram e Twitter semanas após o início da invasão, impedindo russos de acessar informações sobre o conflito não chanceladas pelo Estado e limitando sua capacidade de se conectar com usuários de outros países.

O Kremlin também impôs um cerco a mais de 5.000 sites, obrigou veículos de imprensa a se referirem à guerra como uma "operação militar especial" e introduziu uma lei determinando até 15 anos de prisão àqueles que divulgassem o que chamou de "informações falsas" sobre o conflito.

A intensificação do controle sobre a internet ainda aumentou os riscos associados ao ativismo online e acelerou o fechamento dos poucos jornais e revistas independentes que restavam.

Já a China recebeu novamente a pior nota do estudo, 10 pontos. O relatório indica uma grande censura a informações relacionadas à Covid, aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e ao desaparecimento temporário da tenista Peng Shuai —ela passou semanas sem vir a público após denunciar em uma rede social que foi por anos forçada a manter relações sexuais com um dirigente da ditadura.

O documento afirma ainda que o futuro da internet será decidido por "Estados pendulares", grandes países como Brasil, Índia e Nigéria cujas posições no ranking variam radicalmente ano a ano. "O progresso deles pode garantir a sobrevivência de uma internet livre e aberta. Ou eles podem unir forças com poderes autoritários para promoverem um modelo mais fechado de soberania cibernética", aponta o estudo.

O Brasil, aliás, manteve sua classificação de um país com internet parcialmente livre —seu placar aumentou em um ponto desde o ano passado, de 64 para 65.

O relatório afirma que a nação foi palco de uma importante atuação institucional para a manutenção da liberdade nas redes durante o período, e cita como exemplo a decisão do Supremo Tribunal Federal de reverter o banimento do Telegram —ocorrido após a plataforma descumprir medidas judiciais— e a incorporação à Constituição da proteção de dados como direito fundamental.

Ao mesmo tempo, o documento afirma que a esfera da internet no Brasil do país foi "erodida por campanhas de desinformação promulgadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados" e "bombardeada por falsas afirmações sobre fraude eleitoral".


Acesso à internet pelo mundo

Mais de 4,5 bilhões de pessoas têm acesso à internet

  • 76% vivem em países em que indivíduos são presos por postarem informações sobre questões políticas, sociais ou religiosas
  • 69% vivem em países em que as autoridades usam influenciadores pró-governo para manipular debates online
  • 64% vivem em países em que conteúdos online sobre questões políticas, sociais ou religiosas foram censurados
  • 51% vivem em países onde o acesso a plataformas de mídia social foi restringido temporária ou permanentemente
  • 44% vivem em países em que as autoridades desconectaram redes de internet ou de dados móveis, muitas vezes por razões políticas

Com AFP

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