EUA e México anunciam plano para migrantes venezuelanos que expulsará milhares deles

Contra crise na fronteira, programa terá 24 mil vagas para que americanos se inscrevam como patrocinadores de refugiados

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Washington | Reuters

Em meio a uma acentuada crise migratória na fronteira entre México e Estados Unidos, os dois governos assinaram, nesta quarta-feira (12), um plano para conter parte do fluxo, ao mirar apenas os cidadãos venezuelanos.

O programa é parcialmente baseado em um decreto americano do primeiro semestre, que facilitou o refúgio de ucranianos que deixaram seu país devido à invasão russa. Ainda assim, ao mesmo tempo que concederá acesso humanitário a parte dos venezuelanos nos EUA, o plano vai expulsar milhares de volta ao México.

"Essas ações deixam claro que existe uma maneira legal e ordenada para venezuelanos entrarem nos EUA e que essa é a única maneira", disse o secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, em comunicado. "Aqueles que tentarem cruzar a fronteira de forma irregular serão devolvidos ao México e não poderão participar desse processo no futuro."

Migrantes recém-chegados da Venezuela esperam para receber um quarto de hotel fornecido pelo governo americano em El Paso, nos EUA
Migrantes recém-chegados da Venezuela esperam para receber um quarto de hotel fornecido pelo governo americano em El Paso, nos EUA - Joe Raedle -21.set.22/AFP

Não se especificou quantos migrantes serão mandados de volta. Em paralelo a essa expulsão, para a qual o México vai permitir temporariamente a entrada pela fronteira terrestre, o programa vai criar uma modalidade, para até 24 mil venezuelanos, de uma espécie de patrocínio. Cidadãos e empresas poderão se inscrever para dar suporte financeiro por ao menos dois anos ao refugiado, que precisará se cadastrar no projeto previamente e entrar nos EUA de avião.

Durante o processo de inscrição, o governo avaliará as finanças do patrocinador e examinará os candidatos, que precisarão chegar ao país já vacinados com imunizantes predeterminados por agências sanitárias.

Nos últimos anos, milhares de venezuelanos se arriscaram em travessias perigosas para chegar aos EUA, sob a ação de traficantes de pessoas e péssimas condições climáticas. Como Washington não mantém relações diplomáticas formais com Caracas, os EUA têm dificuldade de deportá-los.

A Casa Branca tem optado por dar aos refugiados permissão para permanecer no país temporariamente enquanto enfrentam processos na Justiça e oficializam o pedido de asilo.

Com o novo programa, porém, Washington poderá enviar para o México parte dos venezuelanos que cruzarem a fronteira de forma irregular, por meio do chamado Título 42, medida controversa adotada na administração de Donald Trump que permite a deportação rápida de migrantes sob a justificativa de medidas sanitárias para conter a Covid-19.

O México já havia concordado em receber venezuelanos expulsos sob a medida. "Com efeito imediato, os venezuelanos que entrarem nos EUA por meio dos portos de entrada sem autorização serão devolvidos ao México", declarou o departamento americano de Segurança Interna em comunicado.

As Nações Unidas estimam que mais de 6,8 milhões de venezuelanos fugiram de seu país desde 2015, sendo que a maioria busca refúgio na Colômbia. Segundo o jornal The New York Times, eles representam apenas 7% do total de refugiados que chegaram aos EUA entre outubro do ano passado e o final de agosto.

O programa anunciado nesta quarta não se aplica a venezuelanos que já estão nos EUA, no México ou no Panamá. A expectativa do governo americano é que o plano encoraje os migrantes a voar para os EUA em vez de viajar a pé e cruzar as fronteiras de forma irregular.

No mês passado, o presidente americano, Joe Biden, disse que analisava a situação de migrantes venezuelanos, cubanos e nicaraguenses nos EUA, mas descartou enviá-los de volta a seus países. A emissora de televisão CNN apontou que mais de 55 mil migrantes encontrados na fronteira tinham essas nacionalidades, um aumento de 175% em relação ao ano anterior.

A declaração de Biden se deu em meio à disputa da Casa Branca com governadores republicanos, que têm usado migrantes como peça de pressão política às vésperas das midterms, eleições de meio de mandato.

Em setembro, Ron DeSantis, da Flórida, fretou um avião e enviou cerca de 50 migrantes para Martha's Vineyard, ilha luxuosa na costa de Massachusetts. O grupo era majoritariamente formado por venezuelanos.

Com The New York Times 

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