Ex-chanceler de Lula defende adesão da Argentina ao Brics

Celso Amorim é principal conselheiro do petista em política externa; governo Bolsonaro indicou ser contra ampliação do bloco

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São Paulo

Um eventual governo do ex-presidente e agora candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia facilitar a entrada da Argentina no Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na visão de Celso Amorim, principal assessor do petista em política externa.

O ex-chanceler disse, em entrevista à agência de notícias Reuters publicada nesta quarta-feira (19), que a inclusão de Buenos Aires aumentaria o equilíbrio do grupo.

"É bom ter equilíbrio dentro do Brics e ter um papel maior para a América Latina", disse o titular da pasta de Relações Exteriores nos dois mandatos de Lula, entre 2003 e 2010. "Acho que a eventual inclusão da Argentina seria positiva."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na Casa Rosada, em Buenos Aires
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta o presidente da Argentina, Alberto Fernández, na Casa Rosada, em Buenos Aires - Reprodução -10.dez.21/LulaOficial no Twitter

A opinião do ex-chanceler diverge da do Itamaraty comandado pelo presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL). Em fevereiro, a pasta afirmou que não vê espaço para discussão no Brics sobre sua eventual ampliação.

A declaração se deu dias depois de o presidente argentino, Alberto Fernández, mencionar o assunto com o russo Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping em um tour pela Ásia. A diplomacia brasileira sob o atual presidente mantém uma relação mais fria com o vizinho sul-americano —usado como alvo de críticas por Bolsonaro na campanha como forma de atacar Lula.

Reservadamente, interlocutores no governo federal apontaram obstáculos para a entrada da Argentina na aliança. E a justificativa passa pelo mesmo argumento de Amorim –mas defendendo visão oposta. Por esse argumento, o eventual ingresso representaria uma diluição do poder do Brasil, que, como único representante da América Latina, atua como líder regional pela interlocução facilitada que a participação no Brics permite com esses países.

Ainda nesse aspecto, considera-se que o Brics foi fundado como um bloco limitado e que abrir as portas para um novo latino-americano poderia desencadear discussões sobre o ingresso de mais países de outros continentes, gerando atritos com os membros atuais. Nos últimos meses, Argélia, Arábia Saudita, Egito, Irã e Turquia também manifestaram intenção de adesão ao grupo.

Ainda na entrevista à Reuters, Amorim mencionou a Guerra da Ucrânia e disse que Lula tem disposição e histórico para contribuir nas negociações de paz. Segundo ele, um eventual acordo precisa ser liderado pela União Europeia e pelos Estados Unidos, "mas com a participação da China, obviamente".

"O Brasil também pode ser um país importante, cuja voz ressoa no mundo em desenvolvimento", acrescentou, citando mais uma vez o Brics.

Amorim disse também que, se eleito, Lula faria do Brasil um protagonista nas negociações climáticas e organizaria uma cúpula global sobre a Amazônia no primeiro semestre do próximo ano para discutir a preservação da floresta junto com as nações desenvolvidas.

Por fim, citou as relações entre petistas e ditaduras de esquerda na América Latina, bastante exploradas por Bolsonaro na campanha. De acordo com Amorim, um terceiro mandato de Lula abriria a porta para o Brasil se reengajar diplomaticamente com a Venezuela; para ele, o isolamento de Caracas promovido pelo atual presidente e pelo americano Donald Trump gerou poucos efeitos.

"Isolamento, sanções, bloqueios, ameaças de força não ajudam em nada. Só dificultam as coisas", afirmou. Questionado sobre como um governo Lula reagiria às violações de direitos humanos na Venezuela e na Nicarágua, o ex-chanceler disse que o Brasil "faria o que pudesse em favor da democracia de uma forma respeitosa, não intervencionista e não arrogante".

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