Incêndio em prisão do Irã mata 4 e agrava preocupação com presos políticos

Teerã diz que chamas foram controladas e nega que episódio esteja relacionado com protestos após morte de Mahsa Amini

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Um incêndio na prisão de Evin, uma das mais importantes do Irã, neste sábado (15) deixou ao menos quatro presos mortos e 61 feridos, segundo Teerã. No local estão detidos, entre outros, ativistas considerados inimigos pelo regime teocrático que governa o país.

Sem detalhar, o regime informou que os mortos haviam sido presos pelo crime de roubo e que as chamas foram controladas poucas horas após o incidente. Dos feridos, dez precisaram ser hospitalizados. O episódio, no entanto, despertou preocupação internacional.

Guarda em corredor da prisão de Evin, na capital iraniana, Teerã; local foi palco de incêndio - Morteza Nikoubazl - 13.jun.06/via Reuters

Autoridades negam que o incêndio esteja relacionado à onda de protestos registrada no país há um mês, desde a morte de Mahsa Amini, jovem curda que estava sob custódia da polícia por supostamente usar o hijab, o véu islâmico, de maneira incorreta.

Dizem, ainda, que prisioneiros que enfrentam acusações relacionadas a segurança estão separados daqueles que cumprem sentença por crimes comuns. Testemunhas relataram à agência Reuters que tiros foram ouvidos no local e que várias ambulâncias estavam nas ruas ao redor.

Muitos dos que estão detidos no local são prisioneiros de dupla nacionalidade. O Departamento de Estado dos EUA se manifestou na noite de sábado. Em um tuíte, o porta-voz Ned Price afirmou que o Irã é responsável pela segurança dos cidadãos americanos em Evin. "Eles estão indevidamente detidos; deveriam ser libertados imediatamente."

Siamak Namazi, 51, é um dos cidadãos americanos ali presos. Sentenciado a sete anos de prisão por acusações relacionadas a espionagem que ele nega —e Washington também—, Namazi retornou a Evin nesta semana após receber uma breve licença.

O ambientalista Morad Tahbaz, que além de nacionalidade iraniana e americana tem a britânica, e o empresário americano Emad Shargi também estão em Evin, assim como a jornalista Niloofar Hamedi, uma das muitas profissionais de imprensa detidas após a morte de Mahsa Amini por investigar e divulgar informações sobre o caso.

Parentes de Hamedi e de Namazi informaram a agências de notícias que conseguiram entrar em contato com eles. Ambos estariam bem.

À agência de notícias oficial de Teerã um agente carcerário disse que as chamas tiveram início após um tumulto interno no local onde ficam armazenadas roupas. Presos teriam tentado fugir durante o incidente, mas sem sucesso.

Evin é alvo recorrente de criticas de organizações que monitoram direitos humanos. A ONG Human Rights Watch (HRW) afirma que, no local, ameaças, torturas e prisões por tempo indeterminado, assim como negação de assistência médica, são relatos comuns.

"Em Evin estão muitos dos detentos e presos políticos do Irã", escreveu Andrew Stroehlein, da HRW, em uma rede social. "Os maus-tratos e a tortura lá são bem conhecidos —assim como em outras instalações de detenção administradas por esse regime abusivo."

Em 2018, a prisão foi alvo de sanções dos EUA. "Os prisioneiros detidos em Evin estão sujeitos a táticas brutais infligidas pelas autoridades, incluindo agressões sexuais, agressões físicas e choque elétrico", escreveu o Departamento do Tesouro em comunicado na ocasião.

Washington tem manifestado apoio aos protestos no país. O presidente americano, Joe Biden, disse neste fim de semana que está ao lado dos cidadãos e das valentes mulheres do país do Oriente Médio. A resposta veio neste domingo (16), por meio da chancelaria iraniana.

"O Irã é forte demais para que seus objetivos sejam abalados pelas ingerências de um político cansado depois de anos de fracassos", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em uma rede social.

O Centro para os Direitos Humanos do Irã, em comunicado, disse que famílias de prisioneiros que foram até a prisão em busca de informações sobre seus parentes detidos foram atacadas com gás lacrimogêneo pelas forças de segurança.

Relatos nas redes sociais também dão conta de que protestos foram realizados em ruas próximas, com manifestantes voltando a entoar palavras de ordem como "morte ao ditador", em referência ao líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Ao longo do domingo, mobilizações também foram organizadas nas cidades de Tabriz e de Rasht e em várias universidades. Vídeos nas redes sociais mostram estudantes em uma instituição de ensino dizendo: "O Irã se transformou em uma grande prisão; Evin se tornou um matadouro". Os conteúdos, porém, não puderam ser verificados de forma independente.

Com AFP e Reuters

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