Descrição de chapéu América Latina

Macri reforça em 2º livro planos de voltar ao poder na Argentina

Ex-presidente faz mea culpa com 'populismo light' e promete reformas com tom mais contundente do que mostrou no governo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

De olho nas eleições de 2023 na Argentina, o ex-presidente Mauricio Macri lançou na semana passada "Para Qué", seu segundo livro. Como "Primer Tiempo", publicado em 2021, a obra é baseada em sua trajetória política, com propostas generalistas de soluções para os problemas do país.

O livro serve para Macri manifestar a pretensão de se lançar à Presidência outra vez. Ele, que ainda não se declarou oficialmente pré-candidato, seria o terceiro postulante de sua aliança de centro-direita, Juntos por el Cambio. Os outros dois são o atual chefe de governo da cidade de Buenos Aires, que tem status de província, Horacio Rodríguez Larreta, e a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich.

O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri agradece apoiadores do lado de fora da Casa Rosada, em Buenos Aires
O ex-presidente da Argentina Mauricio Macri agradece apoiadores do lado de fora da Casa Rosada, em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 7.dez.19/Reuters

Se em "Primer Tiempo" Macri deu justificativas para as promessas não cumpridas por sua gestão, que teve de pedir um empréstimo de US$ 56 bilhões ao FMI e terminou com uma tentativa fracassada de reeleição, em "Para Qué" ele deixa o mea culpa de lado e tenta apontar soluções —além de fazer duras críticas ao atual presidente, Alberto Fernández, também alvo frequente do brasileiro Jair Bolsonaro (PL).

Ironia ou não, a ideia de lançar um livro antes de anunciar uma pré-candidatura foi a estratégia de sua rival, a ex-presidente Cristina Kirchner na eleição de 2019. A biografia "Sinceramente" foi publicada meses antes da entrada na disputa como vice na chapa de Fernández. Com a obra, ela fez eventos de lançamento, com direito a discursos de campanha, de norte a sul do país.

Macri parece seguir os mesmos passos. Desde a última terça (18), quando "Para Qué" chegou às livrarias, o ex-presidente já deu entrevistas a vários meios de comunicação locais de linha editorial crítica ao kirchnerismo. Agora, prepara-se para os lançamentos presenciais nas próximas semanas.

O subtítulo da obra —"Aprendizados sobre Liderança e Poder, para Vencer o Segundo Tempo"— insinua o tom de autoajuda do texto, editado por seu ex-ministro da Cultura, Pablo Avelluto.

Macri recorre a experiências de "líder de equipe", como presidente do Boca Juniors, chefe do governo de Buenos Aires e presidente, para defender o que seria a eficiência de seus métodos, como reuniões rápidas e pontuais e acareações entre funcionários que têm diferenças ou que estejam falando mal um do outro.

O ex-chefe da Casa Rosada traça uma linha do tempo do general Juan Domingo Perón (1895-1974) até Cristina, sua antecessora, para apontar o populismo como uma das razões da crise argentina e da deterioração do cenário político e econômico. "Temos que mudar isso. O mesmo país onde o populismo nasceu na América Latina deve enterrá-lo", afirmou ele, em entrevista ao canal La Nación+.

O que não foi bom em seu governo é tratado como "populismo light" —ou seja, a política do gradualismo, em que subsídios implementados pela hoje vice foram retirados, com a elevação de tarifas de serviços.

No livro, Macri diz que a sociedade argentina atual estaria mais preparada para essas ações, que à época desgastaram sua popularidade. "O 'populismo light' não é uma opção. O gradualismo foi produto de nossa debilidade, não de nossa vocação. Num próximo governo haverá mais força e mais condições para realizar reformas estruturais já nas primeiras horas do mandato", escreve.

O político também se mostra mais contundente do que de fato foi no poder no discurso em favor de reformas trabalhistas e da desburocratização do Estado. "Devemos ter a valentia de acabar de uma vez com legislações obsoletas no que diz respeito a trabalho, Previdência e política fiscal. Uma das coisas que aprendi na Presidência é que, se você não fizer as coisas de cara, é provável que nunca poderá fazer."

Outra crítica se dirige ao protecionismo na economia e aos altos gastos sociais de Fernández. "O Estado argentino colapsou, e o próximo governo não estará em condições de seguir defendendo o protecionismo às custas dos consumidores. Somos uma gigantesca fábrica de déficit, inflação e pobreza." Num tom muito mais elevado do que o de sua última campanha, defende ainda uma política de privatizações.

O livro tem trechos de tom romântico e até ingênuos, algo também presente em "Primer Tiempo". "Esse livro trata do misterioso caminho até a felicidade. É sobre minha viagem pessoal e o que aprendi nela. É a razão de tantas coisas vividas e que ainda estão por fazer. Para que ser presidente de um clube de futebol, para que mudar uma cidade e mudar um país?", questiona-se, com a expressão que dá título à obra.

"Para Qué", aliás, não é o único livro recém-lançado pela família Macri. A ex-primeira-dama Juliana Awada acaba de publicar "Raízes", com dicas e receitas que elaborou durante a pandemia. Quando Macri era presidente, ela entretinha seus seguidores com os avanços da horta que cultivou na residência oficial.

Para Qué

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.