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Xi Jinping assegura 3º mandato e consolida poder absoluto no Partido Comunista

Líder chinês consegue eleger oficiais leais para todas as cadeiras do Comitê Permanente do Politburo, coração político do país

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Igor Patrick
Washington

Os sete homens que vão comandar a política chinesa pelos próximos cinco anos foram apresentados à imprensa na manhã deste domingo (23), em Pequim. Sem surpresa, Xi Jinping, 69, foi reconduzido a um terceiro mandato e vai presidir o Comitê Permanente do Politburo —coração da hierarquia política chinesa.

Pelas mãos de Xi ascenderam o secretário-geral em Xangai, Li Qiang, o secretário-geral em Pequim, Cai Qi, o diretor do Escritório-Geral, Ding Xuexiang, o secretário-geral no Cantão, Li Xi, e permaneceram no órgão o secretário da Comissão Central de Inspeção Disciplinar, Zhao Leji, e o chefe do Secretariado do partido, Wang Huning.

O líder chinês, Xi Jinping, fala à imprensa após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em Pequim
O líder chinês, Xi Jinping, fala à imprensa após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês, em Pequim - Tingshu Wang/Reuters

A surpresa foi a ausência de Hu Chunhua, membro da Juventude Comunista —facção antes poderosa no partido, de onde saíram o ex-líder chinês Hu Jintao e o premiê Li Keqiang. Ele era um dos poucos nomes aventados para promoção não alinhado automaticamente a Xi e o favorito ao posto de premiê.

Em seu lugar, quem deve ocupar o cargo será o agora ex-secretário-geral do PC Chinês em Xangai, Li Qiang. Historicamente, a cidade é um laboratório para líderes que almejam o Comitê Permanente.

Com exceção de Chen Liangyu, derrubado após acusações de corrupção em 2006, todos os chefes do partido em Xangai chegaram à cúpula do Politburo nos últimos 33 anos.

Outra surpresa é o quão alto Li Qiang conseguiu subir na hierarquia interna. Ele foi duramente criticado dentro do partido no início do ano pela forma desastrosa como geriu o surto de Covid-19 no principal hub econômico nacional, levando a metrópole a um lockdown de dois meses.

Primeiro a chegar ao cargo sem nunca ter sido vice-premiê desde Zhou Enlaim, um dos pais fundadores da China comunista, e Hua Guofeng, herdeiro escolhido por Mao Tse-tung, Li também não ocupou postos no Conselho de Estado, principal autoridade administrativa do país e passo crucial na carreira de premiês.

Sua promoção parecia difícil, mas no fim contou a seu favor a ligação com Xi. Li atuou ao lado dele quando o líder chinês foi secretário-geral da província de Zhejiang. Desde então, tem sido leal ao colega.

Junto a Xi Jinping (ao centro), os novos membros do Comitê Permanente do Politburo chinês Li Qiang, Zhao Leji, Wang Huning, Cai Qi, Ding Xuexiang e Li Xi no Grande Salão do Povo, em Pequim
Junto a Xi Jinping (ao centro), os novos membros do Comitê Permanente do Politburo chinês Li Qiang, Zhao Leji, Wang Huning, Cai Qi, Ding Xuexiang e Li Xi no Grande Salão do Povo, em Pequim - Tingshu Wang/Reuters

A promoção de Cai Qi também surpreendeu. Outro fiel escudeiro de Xi, ele é visto internamente como um político de menor prestígio e, em seu lugar, esperava-se a promoção de Chen Min’er, chefe do partido em Chongqing, maior cidade da China. Assim, com o anúncio, Xi sacramentou seu poder dentro do Partido Comunista Chinês, conseguindo preencher todas as posições com aliados próximos.

Para Victor Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego e pesquisador da elite política chinesa, a ascensão meteórica de Li Qiang e Cai Qi mesmo diante de críticas no manejo da pandemia e da economia é outro ponto a ser observado, pois espelha como a lealdade a Xi se tornou ponto fundamental.

"Formação educacional, performance e experiências pregressas se tornaram aspectos secundários. Li não se graduou nas universidades de elite e, em geral, fez um trabalho apenas mediano em Jiangsu e Zheziang", diz o professor, em referência às províncias chinesas em que atuou.

A cerimônia de anúncio começou quase sem atrasos —um sinal de aparente consenso interno—, e a ordem de entrada no Salão Dourado indica como a política chinesa vai se desenhar nos próximos anos.

Além de Xi, que, claro, puxou o pelotão, Li Qiang foi o segundo a entrar, indicando que seu posto será o de primeiro-ministro. Zhao Leji, o terceiro, deve dirigir o Congresso Nacional do Povo.

Um dos principais ideólogos de Xi, Wang Huning ficará à frente da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Cai Qi provavelmente se encarregará do alinhamento ideológico, Ding Xuexiang assumirá o posto de vice-premiê executivo, e Li Xi completa a lista como encarregado de liderar os esforços anticorrupção.

Após o anúncio do novo mandato, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, parabenizou Xi e disse esperar que os dois países aprofundem o desenvolvimento de uma "parceria total". "Os resultados do congresso do partido confirmam completamente sua autoridade política, assim como a unidade do partido que lidera", afirmou Putin, de acordo com uma nota no site do Kremlin.

Na mesma toada, o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, celebrou Xi. "Com você, moldarei mais um belo futuro das relações Coreia do Norte-China, atendendo à demanda dos tempos e liderando os esforços para sua realização, de modo a continuar a impulsionar poderosamente o socialismo nos dois países."

O fato de ter assegurado um terceiro mandato não foi o único ineditismo de Xi na política recente chinesa. Ao excluir Li Keqiang e Wang Yang, ambos com 67 anos, do Comitê Central e do Comitê Permanente, o líder chinês quebrou a regra segundo a qual um membro com até 67 anos à época do congresso permaneceria na cúpula nos próximos cinco anos. Já os com 68 anos ou mais devem se aposentar.

Também sem explicações, Xi diminuiu o número de membros do Politburo de 25 para 24 —o número ímpar significava que poderia haver um desempate em votações apertadas. No mesmo órgão, pela primeira vez em 20 anos não há uma mulher —nunca houve uma integrante do partido no Comitê Permanente.

Quando Xi passou a ocupar um assento no Comitê Permanente, em 2007, estava claro que, devido à sua idade à época e pela composição do órgão, ele estava no caminho para substituir Hu Jintao ao fim de seu segundo mandato. Agora, não há um herdeiro aparente, e Xi manteve esse cenário neste domingo.

Nenhum dos indicados ao Comitê Permanente têm idade suficiente para assumir o principal posto do país em 2027 e governar por dois mandatos segundo as normas da política chinesa. O mais jovem é Ding Xuexiang, 60. Para analistas, a ausência de um sucessor claro indica que Xi quer permanecer além de três mandatos, aumentando o risco político e a imprevisibilidade quanto mais tempo estiver no poder.

Assim, Xi, 69, mina as normas de transição ordenada de liderança postas em prática após a Revolução Cultural para evitar a repetição das lutas de Mao para manter o poder indefinidamente.

"A esta altura, os membros do partido sabem do que ele gosta: pureza ideológica, avanço tecnológico que permita a liderança sobre os EUA, resposta militar altiva em assuntos estratégicos", afirma Shih, da Universidade da Califórnia em San Diego. "O problema é que, tão logo Xi decida sobre algo, isso será implementado de cima a baixo sem grande contestação. Este cenário pode levar a cálculos estratégicos errados sobre os quais ele se recusa a dar o braço a torcer. Ninguém tem coragem de contestá-lo."

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