Apuração mostra vitória de Netanyahu em Israel com vantagem maior do que a esperada

Cenário desenha coalizão de ex-premiê com 65 dos 120 assentos do Parlamento, mais do que o previsto na boca de urna

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São Paulo

Com mais de 88% dos votos apurados em Israel, a aliança ultranacionalista encabeçada pelo ex-premiê Binyamin Netanyahu deve mesmo conquistar a maioria das cadeiras do Parlamento do país.

Até aqui, o bloco de partidos de direita abraçou 65 dos 120 assentos do Knesset. Nesse cenários, o grupo de centro-esquerda levaria 50 cadeiras e os independentes, cinco. A confortável vantagem da coalizão liderada por Netanyahu pavimenta o retorn ao poder do político que por 15 anos comandou o país.

Na divisão entre legendas, o Likud, partido do ex-primeiro-ministro, levaria a maior fatia, com 32 cadeiras, seguido pelo centrista Yesh Atid (Há Futuro), do atual premiê, Yair Lapid, que ficaria com 24 assentos.

O ex-premiê de Israel Binyamin Netanyahu, líder do Likud, na sede de seu partido, em Jerusalém
O ex-premiê de Israel Binyamin Netanyahu, líder do Likud, na sede de seu partido, em Jerusalém - Ammar Awad/Reuters

Os números desenham um cenário ainda mais folgado para Netanyahu do que o esboçado nas pesquisas de boca de urna, em que o bloco de direita aparecia com até 62 assentos, contra 55 da aliança de Lapid. O atual primeiro-ministro, aliás, parabenizou nesta quinta (3) seu adversário pela vitória, segundo um porta-voz.

A principal novidade do provável retorno de Bibi, como o ex-premiê é conhecido, é a ascensão de partidos da ultradireita, fator com o qual israelenses terão de lidar de maneira mais ampla na próxima legislatura, já que a terceira sigla com mais poder no futuro Parlamento, com 14 cadeiras, será a coligação ultranacionalista Otzmá Yehudit (Força Judaica).

Entre outras posições, a aliança liderada por Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir defende a expulsão de cidadãos árabes que não jurem lealdade a Israel —o que gera temor entre palestinos em meio a um contexto de tensão crescente na Cisjordânia.

À agência de notícias Reuters Bassam Salhe, membro da Organização para a Libertação da Palestina, disse que o resultado das eleições aumentaria uma "atitude hostil em relação ao povo palestino" e intensificaria a ocupação israelense dos territórios palestinos.

Na mesma linha, Hazem Qassem, porta-voz da facção radical Hamas, disse que Israel está se inclinando para o extremismo. "Governos de Netanyahu lançaram várias guerras contra o povo palestino; a presença de figuras mais extremas significa que vamos enfrentar ainda mais violência sionista."

Mais um episódio da escalada da violência já foi registrado na terça, desta vez em um posto de controle de Modiin, na Cisjordânia. Segundo o Exército israelense, um palestino de 54 anos tentou atropelar um soldado e atacá-lo com um machado. O militar, que teria ficado ferido, atirou no homem, matando-o.

Em uma rede social, Netanyahu comentou o caso, ao manifestar solidariedade ao militar. "Desejo uma pronta recuperação ao oficial. Parabéns por eliminar o terrorista! Orgulhoso de você", escreveu ele.

O número certo de cadeiras de cada partido depende ainda, porém, da definição da votação do esquerdista Meretz e do árabe Balad. Neste momento, eles estão abaixo dos 3,25% necessários para entrar no Parlamento e obter 4 assentos, mas ainda podem alcançar a marca. Se isso acontecer, as 120 cadeiras serão reorganizadas, não sendo certo qual legenda perderia deputados.

Ainda que os resultados não estejam totalmente definidos, Washington já comentou a formação do próximo governo. A jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que o país espera que o próximo governo de Israel respeite os valores de uma sociedade livre e democrática.

O americano frisou o respeito a minorias sociais. "O relacionamento dos EUA com Israel sempre foi baseado no compartilhamento de interesses, mas principalmente em valores."

As mais recentes eleições também chamaram a atenção pelo alto índice de comparecimento às urnas —o voto não é obrigatório em Israel. Segundo o Comitê Eleitoral, 71,3% dos eleitores (ou 4,8 milhões) votaram desta vez. No pleito de 2021, a cifra foi de 67,45%.

Julgado em casos de corrupção que envolvem suspeita de suborno e fraude, Netanyahu, talvez o rosto mais conhecido da política local, está a menos de 18 meses longe do poder. Ele deixou o cargo de premiê em junho de 2021, após o Knesset confirmar Naftali Bennett como novo primeiro-ministro.

Bennett, então, liderou uma coalizão de oito partidos —uma frente ampla versão da "geringonça" portuguesa—, que ia da esquerda radical à direita nacionalista. O grupo foi bem-sucedido em aprovar o Orçamento, um dos principais desafios postos à mesa, até que, em abril deste ano, a crise bateu à porta.

Depois de a aliança perder a estreita maioria que tinha no Parlamento, o Legislativo aprovou, em junho, a dissolução do governo e a convocação de novas eleições. Bennett, então, foi substituído por Lapid, até então chanceler, um progressista de centro. A troca já aconteceria, conforme previsto no arranjo para costurar a coalizão, mas somente após dois anos de governo. Com a crise política, foi adiantada.

Com Reuters

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