China exibe aos EUA míssil hipersônico 'matador de porta-aviões'

Mostra ocorre antes de encontro Xi-Biden no G20 e durante exercícios militares de aliados no Japão

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São Paulo

Pequim apresentou um míssil hipersônico "matador de porta-aviões" e um drone de ataque com capacidade intercontinental em seu principal evento aeroespacial, o Airshow China, em Zhuhai, cidade costeira no sul chinês.

Mais do que procurar clientes estrangeiros para os produtos, o que o regime comunista busca é lembrar os Estados Unidos que está se preparando para um eventual embate com seu maior rival estratégico, particularmente em torno da autonomia da ilha de Taiwan.

De uniforme, Xi Jinping visita centro da Comissão Militar Central, órgão que controla as Forças Armadas
De uniforme, Xi Jinping visita centro da Comissão Militar Central, órgão que controla as Forças Armadas - Li Gang - 8.nov.22/Xinhua

A exibição militar ocorre pouco antes do encontro do G20, grupo das economias mais desenvolvidas do mundo, em Bali, na Indonésia, no dia 15. A Casa Branca confirmou nesta quinta-feira (10) o encontro do americano Joe Biden com o chinês Xi Jinping, que acaba de assegurar um inédito terceiro mandato.

Além da Guerra da Ucrânia, na qual Xi pode influenciar o aliado Vladimir Putin a negociar, o cardápio de tal encontro incluiria a distensão nas relações —algo que dependerá da disposição do Congresso americano após os republicanos não conquistarem a vitória esmagadora prevista nas eleições de meio de mandato.

Além disso, a feira ocorre ao mesmo tempo em que EUA, Japão, Índia e Austrália, os integrantes do grupo anti-China Quad, fazem exercícios navais na costa japonesa. O Malabar-2022 é a 26ª edição de uma manobra que começou com Índia e EUA e agora se expandiu.

A tensão entre Pequim e Washington atingiu um dos maiores níveis da história neste ano, quando a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, a ilha autônoma que a China considera sua.

Foi a mais alta autoridade americana a visitar Taipé em 25 anos, um reconhecimento do governo local na forma e no conteúdo —Pelosi passou perto de defender a independência da ilha, o que iria contrariar a política oficial dos EUA, que é ambígua: aceita a China como país único, mas apoia militarmente os taiwaneses, inclusive prometendo ajuda em caso de invasão.

Desde que a Guerra Fria 2.0 foi lançada pelos EUA contra a China em 2017, visando conter a assertividade crescente do regime liderado por Xi, Taiwan se tornou ponto focal do embate. As incursões aéreas contra a ilha se tornaram semanais, quando não diárias, e tiveram um ponto máximo depois da visita de Pelosi.

Na terça, um Xi camuflado visitou a toda-poderosa Comissão Militar Central, que preside, e orientou outra vez as Forças Armadas a se prepararem para guerras futuras. Aí entram as armas chinesas. A principal foi o 2PZD-21, uma versão de exportação do YJ-21, testado pela primeira vez em abril, mas que não havia sido exibido de forma estática.

Trata-se de um míssil hipersônico balístico, lançado de bombardeiros H-6K, semelhante ao russo Kinjal, que já foi usado na Ucrânia. Mas é um modelo maior, e não se sabe se tem capacidade nuclear como seu primo de Moscou.

Especialistas estimam em 2.000 km o alcance da arma, o que ameaça quaisquer grupos de porta-aviões que se aproximem da China. Com velocidade máxima estimada em 12 vezes a do som, o míssil é de difícil interceptação.

Se suas características forem as propagandeadas, é ainda mais eficaz do que a atual geração de mísseis "matadores de porta-aviões", supersônica. Em um eventual conflito em torno de Taiwan, seriam armas de primeiro uso contra uma eventual armada americana.

O entorno marítimo é a preocupação estratégica número 1 da China, pois sua força industrial e econômica depende da entrada e da saída de bens por rotas que podem ser bloqueadas a distância por uma Marinha capaz, como a americana.

Há vários tipos de armas hipersônicas, consideradas parte da guerra do futuro. Russos estão à frente na corrida, com dois modelos operacionais, e a China avançou com um polêmico teste no ano passado. Os EUA estão algo atrás, buscando acelerar programas.

Outro equipamento exibido pela primeira vez foi o mais recente drone de ataque chinês, o Wing Loong-3. É um avião-robô com capacidade de voar por até 10 mil km, o que lhe dá alcance intercontinental que Pequim antes não tinha.

É um aparelho grande, com 12 metros de comprimento e 24 metros de envergadura, o que lhe dá capacidade presumida para carregar até 16 mísseis e bombas. Novamente, uma arma para ser usada no ambiente do Pacífico Ocidental, hoje uma província estratégica da Marinha americana.

No show aéreo também foram mostradas estrelas do setor na China, como os caças furtivos J-20 e o cargueiro quadrimotor Y-20. Foram anunciadas ainda "centenas" de encomendas domésticas para o primeiro avião comercial de grande porte do país, o Comac C919, que concorre na faixa do Boeing 737 e do Airbus A320.

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